[TEMPORADA 2] Capítulo 1 - DE VOLTA À AÇÃO



PREFÁCIO DO AUTOR

Saudaões, amigos! Tudo bem?

Enfim, a espera acabou. Eis aqui o primeiro capítulo da segunda temporada de Frontier.
Como eu já havia dito na prévia, algumas pequenas mudanças irão acontecer na trama - e à medida que a temporada for se desenrolando, teremos algumas surpresas... bom, não vou me estender muito a respeito, acompanhem a temporada até o final e descubram!

É um prazer estar novamente escrevendo pra vocês. Cada linha desta fanfic é escrita com muito carinho, e acima de tudo, com uma grande paixão pelo universo Star Trek.
Agradeço a todos que me acompanharam no primeiro ano... e vamos seguir juntos nessa jornada!

Espero que gostem desta nova temporada. Boa leitura!
Vida longa e próspera!

Daniel






Espaço. A fronteira final.
Data Estelar: 7520.1

A USS Frontier completa seu primeiro ano no espaço.
Logo após a batalha contra Nero e a solução do imbróglio diplomático em Capella IV junto ao embaixador Sarek, de Vulcano, o capitão da Frontier, Dan Nardelli, e sua primeira-oficial, Seul-gi Hong, resolvem tirar uma merecida licença de um mês no planeta Risa – uma espécie de “planeta-resort”, muito conhecido por suas paisagens exuberantes, por sua diversidade de atrações turísticas e pela imensa hospitalidade de seu povo.
À beira de uma praia paradisíaca e sob um belo fim de tarde ensolarado, os dois caminham abraçados, com os pés descalços sobre a areia e completamente à vontade: ele, com um boné, uma camiseta azul-marinho e uma bermuda; ela, com uma regata preta e uma minissaia.
Assim que Dan foi resgatado da nave de Nero, ele e Seul-gi acabaram por assumir de vez os sentimentos que tinham um pelo outro desde a época da Academia da Frota Estelar, quando se conheceram, e que estavam guardados até aquele momento dramático. E a partir dali, iniciaram um relacionamento afetivo.
O período de licença dos dois já estava no fim, e por conta disso, a coreana começa a lamentar:

- Ah, não acredito que amanhã nós já vamos ter que voltar pra nave! É... realmente, tudo o que é bom dura pouco!

Dan acha graça e ri das palavras de Seul-gi:

- Pelo jeito você gostou daqui, não é, Seul-gi?! Estou vendo que acertei em cheio na nossa primeira viagem de férias...

- Demais! – responde Hong, enquanto abraça Dan com força – Bom, eu já tinha ouvido falar de Risa, de suas praias e de sua hospitalidade, mas não achei que fosse tudo isso. Esse lugar superou todas as minhas expectativas!

- Ora... – Dan sorri – Se é assim, então voltaremos mais vezes...

- Por mim, a gente podia se mudar pra cá de vez! – diz Seul-gi, com entusiasmo na voz – Esse lugar é maravilhoso!

Os dois ficam em silêncio por um momento, enquanto caminham pela orla da praia e trocam olhares carinhosos.

- Aliás... sabe o que eu estava pensando, Dan?! Quando nos aposentarmos da Frota, poderíamos abrir uma pousada por aqui. O que acha?

- Não é uma má ideia... – responde Dan, com um sorriso.

Os dois param e se colocam na frente um do outro, abraçando-se e trocando olhares apaixonados entre si.

- Você foi a melhor coisa que aconteceu em toda a minha vida, sabia?! – diz ela.

- Eu digo o mesmo pra você, Seul-gi – responde ele – E sou grato por tudo o que você tem feito por mim. Especialmente por ter se arriscado na Zona Neutra atrás do Nero...

- Faria tudo de novo se eu pudesse. Qualquer esforço é válido se for por você...

Lentamente, os dois aproximam os rostos e se beijam, enquanto as ondas do mar quebram na areia e o céu começa a misturar tons de azul e laranja – os sóis de Risa começam a se pôr no horizonte.

Após os beijos, Dan e Seul-gi sorriem um para o outro.

- A gente tem que voltar pro hotel – diz Dan – Temos que terminar de arrumar as coisas antes do jantar.

- Ah, Dan, por que é que você tem que lembrar disso?! – Seul-gi faz uma carinha triste, tal qual uma criança quando fica sabendo que sua hora de brincar terminou – Eu já estou com saudades daqui...

- A gente vai voltar outras vezes, não se preocupe! – responde ele, rindo – Aliás, onde nós vamos jantar? No hotel mesmo ou naquele restaurante que a gente foi ontem?

- Eu prefiro aquele restaurante – diz ela – Simplesmente amei os frutos do mar daqui.

- Então está decidido! Vamos indo!

E os dois seguem pela orla da praia, de mãos dadas.

***



A poucas horas de distância de Risa, está a Frontier, seguindo em velocidade de dobra. Interinamente no comando, o tenente-comandante Eugene Okonwa faz seu registro no diário:



“Diário da Frontier – Data Estelar: 7520.6
(Registro do tenente-comandante Eugene Okonwa, em comando interino)
Estamos neste momento seguindo a caminho de Risa para pegar o capitão Nardelli e a comandante Hong; eles devem reapresentar-se ao serviço nas próximas horas.”



Okonwa encontra-se na ponte de comando, sentado na cadeira do capitão. Próximo a ele, está o doutor Jonas Lester, médico-chefe da Frontier.

- Mal posso esperar para ver o capitão e a comandante Hong de novo! – diz Oko – Espero que eles tenham aproveitado bem a licença... afinal, eles mereciam!

- Se eu bem conheço aqueles dois, acho que aproveitar bem é dizer pouco – a voz do louro britânico sai em tom de deboche – Isso sem falar na fama que Risa possui. Eles devem ter aproveitado ao extremo! Bom, eu prefiro nem imaginar...

- Ora, mas por quê diz disso, doutor?! – o africano solta uma gargalhada – Depois de tudo o que eles passaram, eles mereciam uma folga como essa! Além do mais, agora eles estão juntos, não é?! Ou vai me dizer que está com inveja dos dois... porque eu estou!

A última frase de Oko sai acompanhada de um sorriso malicioso para o doutor.

- Inveja, eu?! Me poupe!!! – resmungou Lester, claramente mal-humorado – Até agora estou custando a entender o que o Dan viu naquela garota. Tudo bem, ele está feliz e tal, mas sei lá...

Oko acha ainda mais graça da postura de Lester. E sem conter as risadas, dispara:

- Não sei não, doutor... acho que você também está precisando arrumar uma namorada...

- O quê?! – Jon arregala os olhos – Mas nem de brincadeira!!!

Em meio a esta pequena discussão, a Frontier segue em dobra, se aproximando do planeta Risa.


Já na manhã do dia seguinte, Dan e Seul-gi, em trajes civis, estão com as malas praticamente prontas, dentro do quarto do hotel.

- Não esquecemos nada? – pergunta ele.

- Não, está tudo em ordem – responde ela – Só uma parte do meu coração que eu vou deixar aqui...

- Você gostou mesmo deste lugar, não?! – Dan sorri.

Rapidamente, ele a toma por um dos ombros e a beija nos lábios. Poucos segundos depois, o comunicador de Dan apita.
Sob o olhar de Seul-gi, ele o saca e atende ao chamado.

- Aqui é Nardelli!

- Capitão, aqui é Okonwa. Estamos em órbita padrão e a sala de transporte está a postos. Podemos trazê-los a bordo quando o senhor desejar.

- Entendido. Aguarde meu comando, Oko.

É chegada a hora de retornar à nave. Dan se volta para Hong:

- Pronta pra voltar à ação, Seul-gi?

Seul-gi, por sua vez, não diz nada. Apenas sorri e assente com a cabeça.
Nardelli, por fim, retoma o comunicador e transmite sua ordem, com entusiasmo na voz:

- Dois pra subir, sr. Okonwa!

Instantaneamente, os dois e suas bagagens deixam o quarto do hotel em Risa e se materializam na plataforma da sala de transporte da Frontier.
Oko trata de fazer as honras:

- Sejam bem-vindos a bordo, capitão, comandante!

- Oko!!! – Dan se aproxima e dá um caloroso abraço no nigeriano – É bom vê-lo de novo! Você cuidou muito bem da nave, pelo visto.

- Eu fiz o meu melhor, senhor! – responde Okonwa.

- Eu sei – diz Dan, enquanto segura um dos ombros de Oko – Eu lhe sou grato por tudo, meu amigo.

Em seguida, o capitão é abordado por outra figura, que estava aguardando na sala de transporte. Ninguém menos que o doutor Lester.

- Não vai dar um alô para o seu velho amigo? – diz ele, com um largo sorriso no rosto.

- Mas é claro, porca miséria!!! – Dan ri e abraça forte seu melhor amigo – Como você está, Jon?

- Bom, imagino que eu não esteja melhor do que você, Dan – responde Lester – Você está ótimo!!!

Eis que Jon lança um olhar fulminante e um sorriso sarcástico para Seul-gi. E mostra que está com a língua afiada:

- O mesmo vale pra você, Hong. Quer dizer... pelo menos a sua cara está melhor do que quando você saiu daqui!

- Vou entender isto como um elogio, doutor – responde Seul-gi, com um olhar e um sorriso no mesmo tom.

- Meu Deus... – diz Dan, achando graça daquela situação – Vocês dois realmente não têm jeito...

Eis que uma figura inesperada adentra a sala de transporte: uma moça nova-iorquina de uns vinte e oito anos, pele clara, formas curvilíneas, cerca de 1,70m de altura, olhos castanhos e cabelos negros e lisos até a altura dos ombros, trajada com o uniforme de medicina da Frota Estelar.
É uma antiga colega de Dan, Hong e Lester dos tempos da Academia da Frota, e que agora estava servindo a bordo da Frontier: a doutora Christine McKinnon.

A entrada da doutora McKinnon pega Dan e Seul-gi de surpresa. Assim que ela passa pela porta automática da sala, ela dirige sua palavra a Oko:

- Me desculpe, comandante, eu me atrasei um pouco. Um paciente foi à enfermaria se queixando de sintomas de febre rigeliana, e tive que tratá-lo às pressas.

Okonwa assentiu com a cabeça. Christine, então, se volta para Dan, que fica com o olhar fixo, quase boquiaberto.

- Ora, se não é o bom e velho galã italiano... – diz ela, com a voz calorosa e um sorriso largo.

- Christine!!! – a voz de Dan sai em um tom empolgado – Há quanto tempo! Não sabia que tinha vindo a bordo...

- Pois é! – respondeu Christine – Bom, acho que agora devo me apresentar de forma mais apropriada, não é? Muito bem... doutora Christine McKinnon, oficial médica auxiliar, apresentando-se. É uma honra servir com o senhor, capitão!

McKinnon faz uma certa pose ao dizer estas palavras. Dan e Seul-gi acham graça da situação.

- Seja bem-vinda a bordo, doutora McKinnon! – diz Dan, rindo – E pelo que disse, você andou tendo trabalho!

- Precisamente – responde a médica – Mas cá entre nós, Dan, comparado a conter os ânimos exaltados do nosso médico-chefe, tratar febre rigeliana não é nada!

Christine começa a rir, assim como Hong.

- Você não mudou absolutamente nada, Christine – diz Seul-gi.

- Vou fingir que eu não ouvi isto – Lester levemente vira o rosto e empina o nariz – Bom, pelo menos agora tenho uma colega da minha área na qual eu confio... não iria querer alguém que contestasse cada diagnóstico que eu fizesse!

Alheio a esta discussão, Dan se dirige a Oko:

- Agradeço por isso, Oko. O doutor Lester havia me feito esse pedido já há algum tempo.

- Não há de quê, senhor – responde o africano – No entanto, a doutora McKinnon não é a única cara nova aqui na Frontier. Há muitos tripulantes recém-chegados na nave... e saindo daqui iremos buscar mais uma na Base Estelar 12.

- Mais uma?! – Nardelli fica surpreso – É, pelo visto muita coisa aconteceu enquanto estivemos fora.

- Fique tranquilo, capitão. Colocarei o senhor e a comandante Hong à par de tudo.

- Está bem, Oko. Estarei na ponte em alguns minutos.

Dan pega sua bagagem e volta sua atenção para Seul-gi.

- Vá vestir seu uniforme, srta. Hong. Teremos bastante trabalho pela frente.

Seul-gi sorri e faz um sinal de afirmação com a cabeça. Em seguida, todos se dirigem para fora da sala de transporte.

***


Minutos depois, Dan e Seul-gi chegam à ponte, já devidamente uniformizados, acompanhados de Oko e do doutor Lester.
Assim que o grupo sai do turbo-elevador, o oficial de comunicações da Frontier, tenente Dejan Stanic, percebe e imediatamente se levanta.

- Capitão! – Stanic sorri – Seja bem-vindo de volta!

- Obrigado, sr. Stanic – responde Dan, enquanto pousa a mão em um dos ombros do tenente – É bom vê-lo novamente.

- Obrigado, senhor. Eu lhe digo o mesmo.

Stanic retoma seu posto, enquanto Dan se dirige à cadeira do capitão. Quem também nota a sua chegada é o piloto da nave, o jovem alferes Hernando Cortez.

- Capitão! – diz ele, sorridente, enquanto se levanta de seu painel – Bem-vindo de volta. Espero que tenha aproveitado a licença!

- Hernando! – exclamou Dan, enquanto recebia Cortez com um abraço – Como você está, rapaz? Eu aproveitei muito bem a minha licença, muito obrigado!

- Ei, alferes! – intervém Stanic – Agora você deve uma paella pra gente!

- Muito bem lembrado, sr. Stanic! – diz o capitão – Seria uma ótima pedida pro jantar de hoje... o que me diz, sr. Cortez?

- Posso providenciar isso, senhor! Será uma honra...

Todos vão assumindo seus postos, enquanto Okonwa começa a repassar informações para o capitão.
Eis que, subitamente, a porta do turbo-elevador se abre e revela mais uma figura nova: uma bela morena de cerca de 1,70m de altura, uns vinte e poucos anos de idade, muito esbelta, pele bronzeada, olhos castanhos profundos, cabelos negros longos e levemente ondulados – claramente, uma latina, trajada com o uniforme azul de comando da Frota, da mesma forma que o capitão Nardelli e Cortez.
O único círculo em seu distintivo indica sua patente: alferes.
Sob os olhares atônitos de Hong e do próprio Dan, ela se coloca diante do capitão.

- Capitão Nardelli? – diz ela; seu tom de voz é extremamente aveludado, com um sotaque latino muito sutil.

Dan ainda parece não entender nada. Sua voz sai com uma certa dificuldade:

- Sim, sou eu. E você é...?

- Alferes Ariela Martínez apresentando-se ao serviço! – a morena sorri – A propósito, capitão, seja bem-vindo de volta a bordo. É uma honra enfim conhece-lo!

O rosto do capitão ruborizou-se quase de imediato, o que gerou um ligeiro olhar de desconfiança de Hong.
Okonwa trata logo de esclarecer as coisas:

- Ela é a nossa nova navegadora, capitão. Integrou-se à tripulação algumas semanas antes do senhor voltar.

- Ora... pois seja bem-vinda a bordo da Frontier, srta. Martínez! – diz Dan.

- Obrigada, senhor. Permissão para assumir meu posto?

- Concedida. Esteja à vontade.

Martínez então se dirige à cadeira onde antes ficava o tenente Andros, logo ao lado do painel do leme, controlado por Cortez; o romulano agora controla os sistemas táticos de uma plataforma à esquerda da cadeira do capitão.
Quem não tira os olhos da morena desde sua entrada na ponte é justamente o espanhol – assim que se senta em seu painel, ela lança um olhar e um sorriso enigmáticos para Cortez, fazendo-o abrir um largo sorriso; ao que tudo indica, os dois desenvolveram uma certa afinidade.
A cena não passa despercebida aos olhos do capitão, e menos ainda aos do doutor Lester, que resolve lhe cochichar ao pé do ouvido:

- Pelo jeito muito em breve você e a Hong não serão o único casal da Frontier... – a voz do loiro britânico sai em um tom ácido.

- Pois é... o sr. Cortez não perde tempo... – diz Dan.

Seul-gi também observa tudo de sua plataforma. E, ao mesmo tempo em que se sente aliviada, se segura para não rir.

- Bom, como eu ia lhe dizendo, capitão – Oko trata de retomar o foco – nosso próximo destino é a Base Estelar 12. Devemos buscar outra tripulante recém-designada por lá.

- Entendo... Sabe de mais detalhes a respeito dela, Oko?

- É uma questão complicada de se explicar, senhor. Eu mesmo ainda estou tentando compreender todas as circunstâncias... A única coisa que sei até o momento é que se trata de uma vulcana.

Dan franze a testa. Mas outra pessoa ingressa na ponte e interrompe a conversa. É o tenente Andros, que se apresenta ao serviço.

- Capitão! Seja bem-vindo de volta!

- Tenente? – Dan demonstra um certo espanto – Achei que ainda estava de licença.

- Alguns dias foram o bastante pra mim, senhor. Além disso, como a nave está recebendo tripulantes novos, é necessário revisar todos os protocolos de segurança. E isto é um processo que demanda tempo.

- Compreendo. Certamente você deve estar tendo muito trabalho...

A disposição de Andros espanta a todos os oficiais mais experientes da ponte da Frontier. Nem parece que, poucos meses atrás, o romulano havia sido pivô de um confronto entre a nave e a força comandada pelo general Nero, que colocou as vidas dele e do capitão Nardelli em risco, bem como a própria Frontier.
A resiliência demonstrada pelo tenente era invejável.

- Permissão para assumir meu posto, capitão? – pergunta ele.

- Concedida – Dan faz uma pausa e sorri – É bom tê-lo conosco, tenente.

- Obrigado, senhor.

Agora já não faltava mais ninguém em seus postos na ponte. Especialmente para Dan e Seul-gi, era a hora de retomar a rotina.
Já ciente dos objetivos na Base Estelar 12, o capitão dirige a palavra a Cortez:

- Muito bem, creio que agora é a hora de botar a mão na massa. Estimativa de chegada à Base Estelar 12, sr. Cortez?

Cortez aciona alguns dígitos em seu painel, e em seguida dá sua resposta:

- Aproximadamente um dia e meio em dobra 8, senhor.

Em seguida, é a vez de Martínez acionar seu painel, sob o olhar atento do capitão.

- Confirmando cálculos do oficial do leme, capitão – diz ela – Marcando curso para a Base Estelar 12.

Logo após estas palavras, a morena volta seu olhar para Cortez e lhe joga uma piscadinha.
Ele, por sua vez, sorri para ela, meio sem graça.

- Muito bem – Dan demonstra firmeza na voz – Tire-nos daqui, sr. Cortez. Fator de dobra 8.

- Dobra 8, senhor! – responde Cortez, enquanto executa os comandos no leme.

Dan ainda chama a atenção do espanhol mais uma vez.

- Sr. Cortez?

- Senhor?! – Cortez olha para Dan, ligeiramente apreensivo.

O capitão faz uma pausa, e solta uma pequena frase em tom de brincadeira:

- Já sabe. Pisa fundo!

Cortez cai na risada, enquanto se volta novamente para o leme. E a Frontier ganha o espaço em velocidade de dobra, seguindo em direção à Base Estelar 12.

***


“Diário do Capitão – Data Estelar: 7520.9
Estamos neste momento na Base Estelar 12, onde receberemos uma nova tripulante à bordo da
Frontier.
Além disso, a nave deverá permanecer aqui por cerca de uma semana para manutenção, atualizações de sistema e outros procedimentos de rotina.”


A sala de transporte da Frontier está a todo vapor. Os principais oficiais da nave já estão a postos, aguardando a chegada da tal vulcana que se integraria à tripulação.
O tenente-comandante Okonwa repassa mais algumas informações a respeito ao capitão Nardelli. E faz algumas revelações:

- Estas são mais algumas informações que me foram passadas pelo Comando da Frota, capitão – explica ele, com um PADD em mãos – O nome dela é... T’Kara. Foi designada a nós como conselheira da nave.

- T’Kara?! – surpreende-se Dan – Se não estou enganado, ela é a irmã mais velha do alferes T’alek. Mas... que negócio é esse de “conselheira”?!

- Se eu entendi bem, a Frota Estelar está implantando um programa novo em suas naves. Os oficiais costumam passar muito tempo viajando pelo espaço, e segundo estudos realizados, alguns deles tiveram a saúde mental comprometida de alguma forma. O objetivo deste novo programa é prestar assistência aos oficiais da Frota nesse sentido. Para ser franco, capitão, esta é uma experiência da Frota, e nós seremos as cobaias.

- Quer dizer que agora a Frota Estelar se preocupa com a saúde mental de seus oficiais?! – diz Dan, com uma certa estranheza – Fascinante!

- Você acha isso fascinante, é, Dan?! – Lester entra na conversa – Fala sério... como se já não bastasse a Hong, agora teremos uma vulcana pra bancar a espertalhona da nave. Já estou até vendo...

- Veja pelo lado bom, doutor – Seul-gi sorri e lança um olhar afiado para Jon – Agora teremos alguém na nave que segue uma linha de pensamento perfeitamente lógica. Ao contrário de certas pessoas...

- Onde você quer chegar?! – retrucou Lester, visivelmente irritado.

Antes que esta pequena troca de alfinetadas tivesse curso, o operador do teletransporte – um alferes do setor de operações, em uniforme vermelho – notifica o capitão Nardelli:

- Capitão, a senhorita T’Kara já está a postos. Está pronta para vir a bordo.

Dan assente com a cabeça. E dá sua ordem ao alferes:

- Acionar!

O dispositivo de transporte é ativado. E na plataforma, a figura da nova tripulante vai se materializando, em meio a feixes de luz azuis.
Eis que, enfim, ela se revela: uma bela vulcana de aparência bem jovem, com os traços característicos de sua raça (as orelhas pontudas e as sobrancelhas arqueadas para cima), além de longos cabelos negros e olhos reluzentes, que mais pareciam ametistas.
Trajava um longo vestido preto com um detalhe dourado na parte superior, que deixava seus ombros à mostra.
Apesar de toda esta beleza, a expressão em seu rosto era fria, como a de todos os outros vulcanos.
Sem perder tempo, Dan trata de fazer as honras:

- Paz e vida longa, conselheira! – diz ele, fazendo com uma das mãos a saudação vulcana típica.

- Vida longa e próspera, capitão Nardelli! – responde T’Kara, repetindo o gesto em retribuição.

Ela desce da plataforma e se aproxima do capitão, sob os olhares de Hong e dos outros.

- Seja bem-vinda a bordo da Frontier, srta. T’Kara – diz Dan.

- Agradeço pelas boas vindas, capitão. Eu estou honrada – respondeu a vulcana, com absoluta frieza na voz – Vejo que é familiarizado com os costumes de nosso povo.

- Um dos meus instrutores na Academia da Frota era vulcano. Era o embaixador Sarek. Acredito que você já tenha ouvido falar dele... ele era meu professor de diplomacia.

- Teve aulas de diplomacia com o embaixador Sarek?! – T’Kara ergue uma de suas sobrancelhas, demonstrando surpresa.

- Precisamente – responde o capitão - E diga-se de passagem, foi o melhor professor que eu já tive.

A resposta de T’Kara às revelações de Dan não poderia ser mais óbvia.

- Fascinante – diz ela, sem alterar o seu tom de voz.

Alguns passos mais distantes, próximos a Okonwa, Hong e Lester observam.

- Oh, céus... – resmunga o britânico, em voz baixa – Ela é pior do que eu pensava...

Eis que Hong, do nada, resolve acertar uma cotovelada na barriga do doutor. Imediatamente, ele se contorce de dor, e resolve tirar satisfações:

- Mas o que significa isso, Hong?! – o loiro aumenta o tom de voz, visivelmente irritado.

- Tenha modos, doutor! – respondeu Seul-gi, com a cara fechada.

Alheios a esta pequena confusão, Dan e T’Kara se aproximam dos três. O capitão os apresenta à recém-chegada:

- Minha primeira oficial, Seul-gi Hong, meu engenheiro-chefe, Eugene Okonwa, e meu oficial médico-chefe, doutor Jonas Lester.

- Senhores – diz T’Kara, com a voz tranquila.

- Muito prazer – Hong esboça um sorriso – Seja bem-vinda.

- É um prazer conhece-la... – diz Lester, com a mão na barriga por conta da cotovelada de Seul-gi.

- Bem-vinda a bordo, conselheira – Oko também sorri.

Próximo à porta da sala de transporte, está Andros. O capitão se dirige a ele, juntamente com T’Kara. E o apresenta:

- Este é nosso chefe de segurança, tenente Andros. Ele irá acompanha-la até seus aposentos.

- Conselheira – diz o romulano, em um tom bastante cordial.

A vulcana não diz uma palavra. Apenas o observa de alto a baixo, e levanta uma das sobrancelhas.

***



T’Kara segue pelo corredor de um dos decks da nave em direção a seus aposentos, escoltada por Andros, que carrega sua bagagem – uma mala de mão com os pertences da vulcana.
Ela resolve dirigir-lhe a palavra.

- Quando estive na Terra, ouvi rumores sobre um romulano que desertou de seu planeta natal e se refugiou no espaço da Federação – diz ela, com a voz fria – Então é você.

- Você realmente é bem informada – responde Andros.

- Se me permite a pergunta, tenente... por que você fez isso? Não é o tipo de atitude que um romulano tomaria...

- Para toda regra, existe uma exceção, conselheira. Eu não concordo com muitas coisas que acontecem no meu planeta, e também não gosto da filosofia praticada pelos governantes de Romulus...

A melancolia toma conta do semblante de Andros. T’Kara observa atentamente, e ergue a sobrancelha, enquanto ele complementa:

- Por causa dela, vi pessoas inocentes morrerem...

- Você não gosta de injustiça, não é?! – T’Kara fala como se tivesse lido os pensamentos de Andros.

- Exatamente – o romulano arregala os olhos – E é exatamente por isso que eu estou aqui.

O olhar de T’Kara permanece atento. Uma lembrança salta à mente de Andros, e ele a revela à conselheira:

- Engraçado. Você me fez lembrar de uma pessoa que conheci em meu planeta há muito tempo.

Surpresa, a vulcana ergue novamente a sobrancelha. E o questiona:

- É mesmo? E quem é essa pessoa?

- O nome dele era Pardek (*) – respondeu Andros – Eu o conheci pouco antes de entrar para o exército. Era um ativista político que simpatizava com os ideais e a filosofia vulcana. O sonho dele era reconciliar e unificar os nossos dois povos: os vulcanos e os romulanos. Foi ele que me inspirou, de uma certa forma. Graças a ele, eu aprendi alguma coisa sobre o pensamento vulcano.

- Muito interessante – diz T’Kara – Por quanto tempo manteve contato com ele?

- Eu o encontrei poucas vezes, para falar a verdade. Perdi contato logo depois que entrei para o exército do Império. Alguns anos depois, eu soube que ele se elegeu senador. Foi a última notícia que eu tive dele.

- Será que ele ainda se mantém fiel a esses ideais? – pergunta a conselheira.

- Se eu bem conheço o Império Romulano, ele jamais permitiria algo desse tipo – diz Andros – As atividades de Pardek sempre foram clandestinas em sua maior parte. Mas se eu o conheço bem, ele certamente deve estar usando de sua posição para dar continuidade a elas sem que o Império tome conhecimento.

- Devo admitir que desconhecia a existência de um movimento como esse em Romulus... – comenta a vulcana.

Eis que os dois chegam aos aposentos que foram destinados à T’Kara.

- É aqui, conselheira – informa o tenente – Espero que se sinta confortável.

- Agradeço pela assistência, tenente – responde a vulcana, sem mudar o tom – Seu caso daria um objeto de estudo interessante. Com o seu consentimento, gostaria de conversar mais a respeito.

- Hã?! – Andros se demonstra meio sem jeito – Sim, claro... como desejar.

T’Kara pega sua bagagem e entra em sua cabine pela porta automática, sob o olhar atônito de Andros.
Era a primeira vez que ele sentia alguém entrar fundo em sua mente – e isso o deixou paralisado de alguma forma.

***

Pouco depois, Dan encontra-se sentado em seu gabinete, analisando em seu computador alguns dados referentes aos procedimentos a serem realizados na Frontier durante sua estadia na Base Estelar 12 – logo ao lado, está um PADD com informações a respeito da recém-chegada T’Kara.
Eis que o sinal sonoro de sua porta é ouvido.

- Entre! – ordena ele.

A porta se abre, revelando ninguém menos que T’Kara.

- Queria me ver, capitão? – diz ela.

- Conselheira! – responde o capitão, enquanto se levanta de sua mesa – Por favor, sente-se.

Enquanto a vulcana se senta, Dan se aproxima de seu replicador.

- Aceita algo pra beber? – perguntou.

- Tenho como hábito tomar chá verde – respondeu ela – Aprendi a apreciar quando estive em seu planeta.

- Uma boa escolha... – Dan aciona o replicador – Um chá verde quente e um café expresso, quente, sem açúcar.

Imediatamente, uma xícara de chá e outra de café expresso se materializam dentro do replicador. O capitão os pega e entrega a xícara de chá à conselheira.

- Obrigada – agradeceu a vulcana.

Dan volta à sua mesa. Após tomar um gole de café, pega o PADD com as informações de sua nova tripulante.

- O sr. Okonwa me passou a sua ficha antes de você chegar – diz o capitão, olhando para o dispositivo – Formada pela Academia de Ciências de Vulcano, e com uma especialização em xenopsicologia pelo centro de saúde da Academia da Frota. Possui um prontuário notável, conselheira.

- Eu fico lisonjeada, capitão – responde T’Kara, com sua expressão fria.

- Os vulcanos são conhecidos, entre outras coisas, por possuírem uma capacidade mental extraordinária, e também possuem um talento nato para a ciência, por conta de sua disciplina mental baseada na lógica. Mas... não me passava pela cabeça que algum deles se interessaria por psicologia...

- A mente e os mistérios que a envolvem sempre foram assuntos que me fascinaram, capitão Nardelli. Como bem deve saber, nós, vulcanos, aprendemos a ter controle absoluto sobre nossas emoções. É algo que de certa forma considero como um privilégio de nossa raça...

T’Kara faz uma pausa, e bebe um pouco de seu chá, sob o olhar firme e atento de Dan.

- No entanto, há algo sobre o qual eu sempre tive curiosidade: como as mentes de outros povos que não são guiados pela lógica funcionam? Ou, para ser mais precisa... como esses povos lidam com suas emoções? A forma como as emoções influenciam determinados povos e culturas é uma coisa que me intrigou durante minha vida inteira.

- E então, resolveu se tornar uma estudiosa do tema – diz o capitão.

- Precisamente – responde T’Kara – A psique determina a personalidade e as características de cada indivíduo. Cada um lida com suas emoções, conflitos e traumas a seu modo; no entanto, acredito que a disciplina da lógica pode ter um papel fundamental em processos de adaptação e recuperação.

- Terapia com metodologia baseada em lógica... – Dan esboça um sorriso – Isso vai ser no mínimo interessante.

- Compartilho da sua opinião, capitão – T’Kara faz uma pausa e toma outro gole de chá – A propósito, mudando completamente de assunto... meu irmão tem servido aqui desde que sua missão se iniciou. Apenas a título de curiosidade, como tem sido o desempenho dele?

- Não há o que se contestar, T’Kara. O alferes T’alek é um oficial bastante competente e prestativo. Até aqui, ele tem desempenhado seu papel muito bem.

Súbito, o INTERCOMM do gabinete apita. A voz de Hong é ouvida do outro lado da linha.

- Hong para capitão Nardelli.

- Aqui é Nardelli – Dan atende rapidamente – Prossiga.

- Capitão, estamos descendo para a Base Estelar. As equipes da Base estão prontas para iniciar os procedimentos.

- Entendi. Estou a caminho.

Dan encerra a comunicação. E se volta para T’Kara.

- Podemos terminar esta conversa a bordo da Base, conselheira. Também será uma boa oportunidade para você conhecer meus outros tripulantes.

- Ou como vocês da Terra dizem... “socializar” – T’Kara faz uma pausa – Estou correta, capitão?

- Ora, está corretíssima – Dan sorri – Vejo que não terá problemas para se adaptar.

A vulcana não diz uma palavra. Apenas ergue a sobrancelha e segue o capitão. Os dois se dirigem para fora do gabinete.

***

Alguns minutos depois, já na Base Estelar 12, Dan se encontra em um bar da base juntamente com Seul-gi, Lester, McKinnon e T’Kara; após se reunir com o comodoro responsável pela administração da base para tratar dos procedimentos de rotina na Frontier, o capitão se juntou aos colegas para beber algo e falar sobre as experiências do primeiro ano da missão da nave estelar.

- Estou impressionada – diz T’Kara, sem demonstrar qualquer tipo de emoção – Apesar de estarem viajando pelo espaço há pouco tempo, vocês passaram por algumas experiências fascinantes.

- Eu não sei se “fascinantes” seria a palavra correta, conselheira – comentou Jon – Pois pra falar a verdade, algumas dessas experiências foram bem desagradáveis... que o diga aquela incursão em Nimbus III atrás do Mudd. Ou aquela epidemia dovírus de Psi-2000, ou pior ainda, o ataque do Nero. Me dá aflição só de lembrar...

- Você não mudou absolutamente nada, Jon! – diz Christine, rindo – As coisas são assim mesmo, não tem como você adivinhar as circunstâncias de uma missão. Ainda mais quando se está no espaço.

- Adivinhar?! – retrucou Lester, ligeiramente irritado – Fala sério, Christine! Eu sou um médico, não um vidente! Passei por poucas e boas nesse último ano com a Frontier... e se me permite ser franco, se não fosse o fato de o Dan estar no comando da nave, eu já teria pedido transferência há muito tempo!

- Nossa, doutor, já está assim, é?! – Seul-gi sorri e resolve aproveitar a deixa – Pois eu aposto que o Dan é o único capitão da Frota Estelar inteira que consegue suportar esse seu gênio intempestivo.

- Você também está se achando agora que virou a primeira-dama da Frontier, não é, Hong?! – a voz de Jon sai em um tom atravessado – Bom, se o Dan consegue te aguentar, então ele é capaz de suportar qualquer coisa.

- Olha só quem fala! – rebateu Seul-gi – Eu também não entendo como é que o Dan te atura, doutor. E cá entre nós, não me admira que você ainda esteja sozinho...

- Hunf... antes só do que mal acompanhado... – Lester torce o nariz.

Em meio a toda esta troca de farpas, T’Kara fala discretamente ao capitão, ao pé do ouvido:

- Por acaso esses dois são inimigos, capitão? A forma como eles conversam um com o outro é bastante ilógica.

- Nem queira entender, conselheira... – Dan não sabia se achava graça ou se ficava com vergonha – Esses dois são praticamente como água e óleo. Com certeza, eles te darão mais trabalho do que todos os outros da nave.

- Creio que eu possa lidar com isso, capitão... – responde a vulcana, com sua frieza de sempre.

Dan resolve mudar de assunto. E pega T’Kara de surpresa.

- A propósito, T’Kara... já que você falou em lógica... eu inclusive ia falar sobre isso antes de descermos pra cá. Consta na sua ficha que você se submeteu ao treinamento do kolinahr em Vulcano. E quando você estava prestes a finalizá-lo, você o abandonou. Por que fez isso?

- O kolinahr?! – comentou Christine, boquiaberta – Tipo... aquele treinamento que os vulcanos fazem pra erradicar as emoções de vez?

- É exatamente isso, doutora – a voz de T’Kara sai em um tom completamente seco – E os seus registros estão corretos, capitão. Acontece que a minha mente não estava preparada o bastante para alcançar o kolinahr. Por isso abandonei o treinamento.

- Só por isso?! – Dan franze a testa – Sem querer ofender, conselheira, mas creio que isso não seria motivo o suficiente para você tomar a atitude que tomou. Tenho a sensação de que há algo maior por trás da sua decisão.

- Ofensa é um sentimento humano, capitão Nardelli. Como vulcana que sou, não sou capaz de ceder a este tipo de emoção. Não compreendi bem o seu comentário, mas garanto que estou...

Subitamente, T’Kara pressente que há algo estranho acontecendo. Imediatamente, ela se silencia e levanta uma das mãos, como quem diz para esperar.
Todos os outros na mesa – Dan, Seul-gi, Jon e Christine – ficam apreensivos, de olhos arregalados.

- O que foi, T’Kara?! – questiona Dan.

A resposta da conselheira deixa todos com uma pulga atrás da orelha:

- Eu sinto pensamentos hostis vindos de dentro desta estação...

- Como é?! – diz Hong.

- Pensamentos hostis?! – Lester fica incrédulo – Do que você está falando?

Realmente, T’Kara não estava blefando. Os vulcanos são uma raça conhecida por possuir uma grande capacidade telepática, e com T’Kara, não era diferente, muito pelo contrário: tal habilidade da conselheira chega a superar até mesmo a de outros indivíduos de sua raça.
Para o espanto de todos, ela descreve os pensamentos captados com detalhes:

- Alguém traiu seu povo. E deve pagar caro por isso...

O capitão e todos os outros na mesa ficam mudos, completamente sem reação.

***

Em um dos corredores da Base Estelar, Andros caminhava em direção ao local onde o capitão e os outros estavam. Ele havia acabado de desembarcar da Frontier, onde acompanhou alguns dos procedimentos de atualização de sistemas.
O tenente seguia tranquilo, até que dois indivíduos uniformizados com trajes de operações da Frota – aparentemente, vulcanos – passaram por ele, e em seguida, o abordaram:

- Você é Andros V’Kor, da Frontier? – questiona um deles.

Andros é pego de surpresa com a pergunta.

- Sim, sou eu – responde ele, sem entender – Posso ajudar em alguma coisa?

De repente, um dos indivíduos fecha a cara e saca um phaser. E o aponta para o romulano.

- É hora de morrer, traidor! – exclamou, levantando a voz.

Antes que o estranho pudesse disparar sua arma, Andros o segura pelo pulso e lhe acerta um pontapé no queixo, derrubando-o de imediato.
O outro uniformizado tenta desferir-lhe um cruzado de direita, mas o tenente se esquiva e lhe acerta um direto no abdômen e um gancho de esquerda no rosto, também nocauteando-o.

Mas os problemas não param por aí. Outros dois indivíduos descem do teto e se colocam diante de Andros. Estes dois já são um pouco diferentes: seus rostos estão escondidos por baixo de estranhos capacetes negros, e suas vestes também são todas pretas. A dupla também ataca Andros com socos e pontapés, mas também são derrubados pelo chefe de segurança da Frontier, que logo em seguida, sai correndo em disparada para fugir do quarteto.
Um dos mascarados saca uma arma inusitada: uma espécie de pistola dupla onde os canos se dispõem em cada lado da mão. Ele dispara contra Andros e o acerta de raspão no braço direito.
Mesmo ferido, Andros não se detém. Ainda correndo, ele saca seu comunicador e alerta o capitão Nardelli:

- Capitão, emergência! Eu estou sendo atacado!

- A caminho! – Dan e os outros imediatamente se levantam de sua mesa no bar da Base, e se dirigem para fora do estabelecimento.

No entanto, não foi preciso muito esforço. Quando o grupo estava quase saindo, Andros chegou até eles, sob os tiros das armas dos perseguidores.
Imediatamente, os outros frequentadores e funcionários do bar entram em pânico, e saem correndo em direção a todos os lados em busca de abrigo.
Lester puxa Andros para trás do balcão, juntamente com Christine, enquanto Dan e Seul-gi entram em confronto com o grupo.
Em princípio, eles abatem os dois falsos oficiais da Frota com tiros de phaser em modo de tonteio; na sequência, os dois mascarados vão pra cima.
Um deles ataca Seul-gi, que usa um soco e uma giratória de taekwondo para derrubá-lo. O outro é atingido por um cruzado de direita de Dan, mas logo após receber o golpe, se levanta e aponta a pistola dupla para o capitão.

- Saia do caminho! – gritou o mascarado, com o dedo no gatilho.

Mas, antes que ele pudesse fazer algo, alguém lhe chega por trás e aperta-lhe a jugular do lado esquerdo, fazendo-o imediatamente perder a consciência. É T’Kara, que aplicou nele o golpe do aperto neural vulcano.

- Nada mal, conselheira – diz Dan, sorrindo.

Sem dizer uma palavra, T’Kara olha para o capitão, e ergue uma das sobrancelhas.

Dan vai para trás do balcão, onde os dois médicos da Frontier estão cuidando do ferimento de Andros.

- Como ele está, Jon? – perguntou o capitão.

- É um ferimento leve – responde o loiro britânico – Ele vai sobreviver.

Hong remove o capacete de um dos mascarados. O indivíduo possuía protuberâncias na testa, sobrancelhas arqueadas e orelhas pontudas – exatamente como Andros.
Tal descrição só poderia levar a uma conclusão.

- Romulanos?! – exclamou a coreana, incrédula.

- Como é que é?! – McKinnon também fica de queixo caído, enquanto aplica um regenerador dérmico no braço ferido de Andros.

- Oh, céus!!! – Lester leva a mão à testa, inconformado – Isso não é possível...

- Eu bem que desconfiava – comentou Andros – Eles usaram o modus operandi do Tal Shiar. E só pra variar, me chamaram de “traidor”.

O nome Tal Shiar trouxe algumas lembranças desagradáveis para Dan e os outros. Trata-se de uma força secreta do Império Romulano, que monitora e ataca inimigos sem que estes tomem conhecimento. Um de seus líderes era o general Nero, que atacou a Frontier no final do último ano na tentativa de levar Andros V’Kor como prisioneiro para ser julgado em Romulus, e acabou falhando em sua missão.

- Parece que alguém quer terminar o que Nero começou – especulou Dan, estarrecido.

- E eles certamente não irão parar até alcançarem seu objetivo – diz T’Kara, com o tom de voz absolutamente frio – Eu posso sentir todo o ódio nos pensamentos deles.

Todos olham para a conselheira, com expressões de absoluto espanto.

***


“Diário do Capitão – Data Estelar: 7521.3
Um ataque deflagrado pelos romulanos contra meu chefe de segurança, tenente Andros, pegou todos na Base Estelar 12 de surpresa.
Toda a Base foi colocada em estado de alerta.”



O capitão Nardelli está no gabinete do comandante da Base Estelar 12, o comodoro Stone, recentemente transferido para a Base – cerca de uma década atrás, ele comandou a Base Estelar 11; naquela época, presidiu uma corte marcial encarregada de julgar o então capitão da USS Enterprise, James Kirk, acusado pelo suposto assassinato do comandante Benjamin Finney.(**)
Foi provado que o tal crime não passava de uma grande farsa, e Kirk foi inocentado das acusações.
Aqui, Dan está sentado diante da mesa do comodoro, um homem negro, cinquentenário, mas que ainda demonstra uma forma física impressionante.
Stone se demonstra apreensivo por conta do ataque romulano à Base, visando o tenente Andros.

- Eu jamais poderia imaginar que uma coisa dessas poderia acontecer aqui – diz Stone.

- Eu poderia dizer que foi uma infeliz coincidência, comodoro – responde Dan – mas sabemos como ninguém que os romulanos não são flor que se cheire. O que eu não consigo entender é como foi que eles chegaram aqui sem serem notados. E ainda... como eles sabiam que o tenente Andros estaria aqui!

- Talvez seja melhor vocês deixarem esta Base, capitão Nardelli – o tom de voz de Stone torna-se seco – A presença do seu oficial romulano aqui pode representar um risco à segurança de todos na Base Estelar.

- Com todo o respeito, mas este não é o momento para se tirar conclusões precipitadas, comodoro Stone – retrucou o capitão – Este incidente requer uma investigação séria. O tenente Andros é um dos melhores e mais confiáveis oficiais da minha tripulação, e é o menos culpado em toda esta história! Ele simplesmente está sendo vítima de uma perseguição.

Stone franze a testa. E encara o capitão com uma expressão fechada no rosto.

- E que tipo de solução você propõe, capitão?!

- Creio que seria apropriado pedir ajuda ao Comando da Frota Estelar. Esta Base fica próxima à Zona Neutra, se há naves romulanas fora dos limites deles, isto pode se tornar um problema ainda mais sério! Nós devemos pedir reforço e nos preparar para um eventual ataque.

Stone emudeceu. Pela expressão em seu rosto, a resposta de Dan não lhe desceu muito bem; por outro lado, viu que a situação era, de fato, grave, mas exigia, antes de tudo, coerência. Como Dan havia dito, não era o momento para pré-julgamentos ou conclusões precipitadas.

- Da minha parte, o que eu posso fazer é colocar a Frontier em órbita da Base para ficar de vigilância. E caso apareça alguma nave romulana, daremos uma resposta à altura. Pode ter certeza, comodoro, eles não vão se limitar apenas a este ataque aqui dentro...

Eis que o sinal sonoro do gabinete é ouvido. Há alguém do lado de fora solicitando permissão para entrar.

- Entre! – ordena o comodoro.

A porta automática se abre. E revela um homem ruivo, de uns trinta e poucos anos, trajando o uniforme vermelho de operações da Frota. Os três círculos em seu distintivo indicam sua patente: comandante.

- Sr. Finnegan! – Stone o saúda.

- Com licença, senhor – diz o ruivo, que se aproxima e entrega um PADD ao comodoro – Aqui está o relatório que o senhor me pediu.

- Ótimo trabalho – Stone resolve fazer as honras ao capitão – Capitão Nardelli, este é meu assistente, comandante Finnegan. Sr. Finnegan, este é o capitão Nardelli, da USS Frontier.

- Capitão – Finnegan inclina a cabeça, em sinal de cordialidade.

- Comandante – Nardelli retribui o gesto.

- Não sei se você sabe, capitão, mas eu assumi o comando desta Base há pouco tempo – comenta Stone – O sr. Finnegan também foi transferido para cá recentemente, e estamos todos passando por um processo de adaptação.

- É perfeitamente compreensível, senhor – diz Dan, sorrindo – Foi a mesma coisa quando assumi o comando da Frontier.

- Da minha parte é só isso, senhor – diz Finnegan – Devo me retirar por enquanto.

- Mantenha-me informado – responde o Comodoro.

- Sim, senhor.

Finnegan sai da sala, sob o olhar desconfiado de Dan. O capitão da Frontier sente como se houvesse alguma coisa errada, mas não sabia exatamente o quê.

***

Minutos depois, Dan vai até a detenção da Base Estelar, onde Hong, T’Kara, Andros e os dois médicos da Frontier, além de alguns oficiais de segurança da Base, interrogam um dos romulanos capturados.

- Conseguiram descobrir alguma coisa, Seul-gi? – perguntou o capitão.

- Ele ofereceu resistência e se recusou a falar – respondeu Hong – T’Kara realizou uma sonda mental nele para conseguir as informações.

- Entendi – Dan assente com a cabeça – Conselheira?

- Os romulanos receberam informações privilegiadas, capitão – disse T’Kara – Vindas de dentro da Base Estelar.

- De dentro?! – Nardelli franze a testa – Como assim?

- Eu não consegui ver a imagem com clareza – continuou a vulcana – Mas ao que tudo indica, eles possuem um agente infiltrado aqui.

- Um espião?! – questiona Hong, estupefata.

- Precisamente – T’Kara não muda o tom.

- Não era de se esperar menos do Tal Shiar – comentou Andros, com um sorriso irônico no rosto – Isso é típico deles: agem primeiro escondidos nas sombras, e na primeira oportunidade, atacam de forma traiçoeira. Eles são como serpentes!

- Mas isso não faz o menor sentido! – inferiu Lester – Como um espião romulano pode agir assim bem debaixo dos narizes da Frota Estelar?

- O senhor não tem nem ideia, doutor – responde o romulano da Frontier – Eles são capazes de qualquer coisa!

- Isso está ficando cada vez pior – diz Dan – Teremos que ficar de olhos bem abertos. Mas... quem poderia ser capaz de agir em conluio com os romulanos?


Em um corredor localizado em outro ponto da Base, o comandante Finnegan segue caminhando, aparentemente tranquilo. Até que para próximo à porta de uma sala, e olha para todos os lados, como quem se assegura que ninguém está seguindo seus passos. Logo em seguida, ele entra na sala vazia, e saca do bolso um estranho comunicador, completamente diferente do usado pelos oficiais da Frota Estelar. Ele o aciona para chamar alguém:

- Comandante? Está na escuta?

Uma voz grave e penetrante é ouvida do outro lado da linha:

- Aqui é Torek. Qual a situação?

- Os soldados fracassaram, senhor. V´Kor teve ajuda de seus companheiros da Frota Estelar, e conseguiu escapar ileso. Nossos homens acabaram sendo capturados.

- As ordens que temos são claras! – diz Torek, com a voz afiada – V’Kor não pode sair vivo dessa Base. Acione as outras unidades e assegure-se que a tarefa será completada.

- Sim, senhor! – responde Finnegan – A propósito, consegui instalar aquele dispositivo conforme o senhor me ordenou. Eu o fiz sem que ninguém percebesse.
- Fez um bom trabalho. Mantenha seus olhos em V’Kor. Aja quando o momento for propício.

- Sim, senhor – Finnegan encerra a comunicação.

O ruivo guarda o comunicador e deixa a sala. Fica claro que é ele quem está agindo a serviço dos romulanos, sem que a Frota Estelar percebesse, e quem passou informações para seu serviço secreto, o Tal Shiar.

***


“Diário do Capitão – suplemento:
Os procedimentos de rotina na
Frontier que seriam realizados na Base Estelar 12 foram temporariamente suspensos, pelo menos até que o caso do ataque romulano à base seja solucionado.

Estou voltando para a Frontier para cuidar do patrulhamento no entorno da Base.”



Dan e os outros estão no gabinete do comodoro Stone, se preparando para voltar para a Frontier.
O capitão conversa com o tenente Andros, que decidiu permanecer na base apesar dos riscos para si mesmo.

- Tem mesmo certeza disso, Andros? – perguntou Dan, com uma expressão tensa no rosto – Você estaria mais seguro a bordo da Frontier. Se ainda houver agentes romulanos aqui na Base, você será um alvo fácil.

- Com todo o respeito, capitão, mas esta é uma situação da qual eu devo cuidar pessoalmente – Andros demonstra segurança na voz – De uma certa maneira, eu sou responsável por tudo o que aconteceu, e acredito que não haja ninguém mais interessado em solucionar este caso do que eu.

- Eu não duvido disso, tenente – diz o capitão – Acontece que você faz parte da minha tripulação, e eu me preocupo com a sua segurança. Já passamos por maus bocados nas mãos dos romulanos, e eu não quero te ver passando por isso de novo.

- Eu não tenho medo do Tal Shiar, capitão – responde Andros, rindo – Eu já lidei com esses caras antes, e posso muito bem encará-los de novo. Além do mais, detê-los é minha obrigação enquanto oficial da Frota Estelar.

- Você realmente é muito teimoso, não é?! – Dan também começa a rir – Está bem, você pode ficar. Mas não vou deixar que cuide das coisas sozinho... vou pedir para que o tenente Garrett traga um reforço na segurança e o ajude.

- Como desejar, senhor. Eu agradeço muito.

Após se entender com seu chefe de segurança, Dan começa a distribuir ordens a seus oficiais:

- Jon, Christine, vocês também permanecerão aqui. Cuidem dos feridos na confusão do bar.

- Pode deixar com a gente, Dan – respondeu Christine.

- Srta. Hong, conselheira, voltarão comigo para a nave. Monitoraremos o espaço ao redor da Base.

- Sim, capitão! – diz Seul-gi.

Nardelli se volta para Stone, enquanto Hong e T’Kara se aproximam do capitão, colocando-se cada uma de um lado.

- Comodoro, eu o manterei informado. Por favor, mantenha um canal aberto.

- Que Deus nos ajude, capitão – diz Stone.

Dan assente com a cabeça. Em seguida, saca o comunicador e transmite o comando à nave.

- Nardelli para Frontier. Três para subir.

Os três desaparecem da sala, irradiados por raios azuis.


Já a bordo da Frontier, Dan, Seul-gi e T’Kara chegam à ponte de comando. Quando Dan está prestes a se aproximar de sua cadeira, Stanic lhe chama a atenção:

- Capitão!

- Sr. Stanic?!

- Por favor, senhor, dê uma olhada nisto.

O capitão se aproxima do painel de Stanic, que lhe revela algo importante:

- Captei uma transmissão suspeita vinda de dentro da Base Estelar. Foi feita em uma frequência subespacial criptografada.

- Consegue descobrir o teor da mensagem? – perguntou Dan.

- Eu estou tentando, mas os códigos de criptografia são bem complexos. Isto não se parece em nada com a tecnologia da Frota Estelar.

- Deve ser romulano – suspeita Seul-gi – Isso significa que o espião ainda está na Base. Com certeza esta transmissão foi feita por ele.

- Eu não quero parecer precipitado, mas aquele tal de Finnegan não me passou uma impressão muito boa... – relatou Dan.

- Finnegan?! – questionou Hong – Quem é ele?

- É o assistente do comodoro Stone – explica o capitão – Segundo o próprio Stone, ele também foi transferido para a Base Estelar 12 há pouco tempo.

- Acha que ele pode ser o espião?

- Não posso afirmar isso com certeza, Seul-gi. Mas eu sinto que há alguma coisa estranha nele...

A habilidade telepática de T’Kara volta a entrar em cena.

- Parece que o tenente Andros V’Kor não é o único foco dos romulanos – diz ela, com sua voz fria – Há mais alguma coisa oculta nas sombras. Eles estão tramando algo.

- Tramando algo?! – Nardelli não acredita.

- Exatamente, capitão. Eu também senti isso quando fiz a sonda mental naquele soldado.

Dan parece não acreditar. O que os romulanos poderiam ter em mente, além de punir aquele que eles julgam como traidor de seu povo? Tal pergunta começou a martelar em sua mente.
Parecia que as coisas não poderiam ficar piores... até que Seul-gi fixa o olhar em seu painel, e capta algo estranho.

- Capitão! – a coreana aumenta o tom de voz.

- Informe! – responde Nardelli, em um tom ainda mais tenso.

- Os sensores estão captando uma distorção no subespaço. Está se aproximando rapidamente de nossa posição. Distância: 2,5 milhões de quilômetros. Direção 387, marco 15.

- Distorção no subespaço?! – Dan franze a testa – Isso pode ser de uma nave camuflada!

O clima na ponte fica tenso. Apenas dois povos no universo conhecido possuíam tecnologia de camuflagem em suas naves: os Klingons e os romulanos.
Como estes últimos estão envolvidos no ataque à Base Estelar 12, é óbvio que a tal nave só poderia ser deles.

- Confirmando leituras dos sensores, capitão – diz a alferes Martínez – A distorção se aproxima do nosso setor em dobra 7. Distância diminuiu para 2 milhões de quilômetros.

- Estimativa de chegada?! – questionou Dan.

- Aproximadamente 36 minutos, senhor – responde Martínez.

T´Kara olha fixamente para a tela principal da Frontier, que momentaneamente mostra apenas a órbita da Base Estelar 12. E suas palavras saem como uma previsão sombria:

- Os pensamentos de ódio e de fúria só estão aumentando. Eles estão sedentos de sangue...

***

Cerca de meia hora depois, na Base Estelar 12, Andros patrulha os corredores, acompanhado de perto pelo tenente Kevin Garrett e alguns oficiais de segurança da Frontier.
Garrett atuou na escolta do embaixador Sarek, de Vulcano, durante um incidente diplomático ocorrido no planeta Capella IV – é um homem ruivo, alto (com mais de 1,80m de altura) e com um porte semelhante ao de um fisiculturista.
O grupo é surpreendido pelo comandante Finnegan, que se aproxima rapidamente e aborda o romulano:
 
Andros (à dir) e Kevin Garrett
- Tenente?!

- Deseja alguma coisa, comandante? – perguntou Andros.

- O comodoro Stone quer vê-lo – disse Finnegan – Por favor, me acompanhe.

- Ah... claro!

Sem suspeitar de nada, Andros e os outros acompanham Finnegan até o gabinete do comodoro. Mas, quando entram, encontram uma cena inesperada: dois indivíduos mascarados, vestidos de preto e armados com rifles disruptores, ameaçam Stone e os dois médicos da Frontier.

- Mas o que significa isso?! – diz Andros, inconformado e incrédulo.

Mas o refugiado não tem tempo de respirar. Finnegan saca um phaser ajustado para matar, e o aponta na direção de Andros. Finalmente, sua máscara cai.

- É o fim da linha pra você, traidor – diz ele, com a voz áspera – Entregue-se de uma vez ou do contrário, mataremos todos eles.

- Então você é o espião – conclui Andros – Foi você quem repassou as informações da base e da Frontier. Mas isso chega a ser engraçado, não sabia que o Tal Shiar recrutava humanos.

- Eu não pertenço a essa raça imunda, idiota! – o farsante se enfurece – Só estou desse jeito porque estou fazendo meu trabalho!

- Será que não está se esquecendo de nada? – diz Garrett.

- O quê?! – Finnegan olha para Garrett.

- A gente também está com ele, seu imbecil!

Imediatamente, o grandalhão Garrett acerta um murro no rosto de Finnegan, que cai atordoado.
Uma troca de tiros se inicia dentro do gabinete de Stone. Dois oficiais de segurança são atingidos pelos disruptores dos romulanos, e sucumbem; em seguida, Andros e Garrett conseguem derrubar os dois mascarados com seus phasers.
Em meio à confusão, Stone, Lester e McKinnon se abrigam embaixo da mesa do comodoro.

- Caramba!!! – exclamou Lester – Vê lá se isso é hora pra confusão...

- Toda a base, alerta de segurança! – bradou Stone em um comunicador – Nós estamos sob ataque!

- A gente tem que sair daqui! – diz Andros, enquanto tira Stone e os médicos de baixo da mesa – Garrett, você pega o Finnegan. Ele deve ser interrogado.

- Pode deixar comigo, senhor! – Garrett pega Finnegan pelo colarinho – Você tem muitas satisfações pra dar, espertinho!

Finnegan ignora as palavras de Garrett, mesmo sob seu subjugo. Ele volta seu olhar para Andros:

- Você acha que é só isso, V’Kor?! – diz ele, com um sorriso sarcástico – Você nem tem ideia... tudo isso é apenas o começo.

- Vai explicar isso depois, Finnegan – respondeu Andros – Como o meu colega disse, você tem muito a explicar.

Todos saem do gabinete, e seguem por um corredor. Mais soldados mascarados aparecem, e começam a atirar e a perseguir o grupo, que sai em disparada.
Andros saca seu comunicador, e chama a nave:

- Andros para Frontier.

- Aqui é Nardelli – Dan responde de sua cadeira.

- Capitão, os ataques estão se intensificando aqui na base. Descobrimos quem é o espião. É o Finnegan!

- Eu bem que desconfiava... – responde o capitão.

Esse ataque, no entanto, era o menor dos males. Cortez acusa alguma coisa em seu painel:

- Capitão! – a voz do espanhol sai em tom de desespero – Uma nave se descamuflou a uma distância de 20 mil quilômetros da nossa posição. Está em alcance visual!

- Coloque na tela! – ordenou Dan.

Cortez acata a ordem, e coloca a imagem na tela principal da Frontier. A configuração da outra nave já era bem familiar.

- É um cruzador D7 romulano, capitão! – diz Hong, após analisar a nave em seu painel.

- Enfim, resolveram mostrar as garras de vez... – respondeu Nardelli – Alerta amarelo. Erguer defletores!

Todos na ponte da Frontier ficam apreensivos. Não era a primeira vez que eles encaravam os romulanos e o Tal Shiar de frente. E ao que tudo indicava, mais um confronto de proporções inimagináveis estaria para começar.

- A nave romulana está nos saudando, senhor! – diz Stanic.

- Na tela! – a voz de Dan sai completamente atravessada.

Stanic imediatamente atende ao comando do capitão, e coloca a transmissão romulana na tela principal.
A imagem de um oficial romulano em um traje cinza-escuro aparece, e ele vai direto ao ponto:

- Eu sou Torek, comandante do Tal Shiar. Vocês possuem um inimigo do Império em suas mãos. Um traídor chamado Andros V’Kor.

- Hunf... Qual é a novidade, cáspita?! – ironizou Nardelli.

Torek, no entanto, ignora a declaração de Dan. E faz seu ultimato:

- Farei uma advertência a vocês da Frota Estelar: neste exato momento, há uma bomba fotônica de alta potência instalada dentro de sua Base Estelar. Nos entreguem Andros V’Kor, ou do contrário, explodiremos sua preciosa base! Vocês têm exatamente 30 minutos para decidir...

A transmissão é encerrada. Tanto na ponte da Frontier quanto na Base Estelar 12, todos ficam de queixo caído.

- Eu entendi direito?! – exclamou Lester, incrédulo – Esses caras plantaram uma bomba por aqui?!

Algemado e segurado pelo braço pelo tenente Garrett, Finnegan sorri de satisfação. E ri de forma maliciosa.

- E agora, V’Kor? – diz ele – O que você me diz?

Andros olha para Finnegan, completamente sem reação.

Na ponte da Frontier, todos estão paralisados. À exceção de T’Kara, que mantém sua frieza vulcana intacta.

- Meu Deus... – exclama Seul-gi, consternada – Eu não posso acreditar nisso!

- Desgraçados!!! – esbravejou Dan, rangendo os dentes e cerrando o punho – Agora eles foram longe demais!



CONTINUA...


_________________________________________


NOTAS DO AUTOR:

(*) Vide Jornada nas Estrelas: A Nova Geração/Star Trek: The Next Generation - Temp. 5 episódios 7 e 8: "Unificação - Partes I e II" ("Unification - Parts I & II")

(**) Vide Jornada nas Estrelas/Star Trek: The Original Series - Temp. 1 episódio 20: "Corte Marcial" ("Court Martial")

 




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