Capítulo 8 - "TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA"



PREFÁCIO DO AUTOR

Saudações, amigos! Tudo bem?

Antes de mais nada, não se assustem com o título! (risos)
Este é mais um capítulo que tem uma ligação direta com a série clássica - e pode conter alguns spoilers.
Antes de ler este capítulo, recomendo assistir o icônico episódio "Tempo de Nudez" ("The Naked Time" - TOS, Temporada 1 ep. 4), que, na minha opinião, é um dos melhores da série.

Espero que gostem deste capítulo. Não se esqueçam de deixar seus comentários no final.
Boa leitura!

Vida longa e próspera!





“Diário do Capitão – Data Estelar: 7510.2
Recebemos um pedido de socorro de prioridade 1 oriundo da USS Daejeon, que se encontra a cerca de quatro anos-luz de nossa posição atual.
Estamos indo ao encontro da nave para verificar a natureza dessa emergência.”


O capitão Dan Nardelli encontra-se sentado em sua cadeira, na ponte de comando da Frontier, com uma expressão tensa e apreensiva no rosto.
Demonstrando a mesma apreensão na voz, ele faz perguntas ao seu piloto, o alferes Cortez:

- Quanto tempo até chegarmos às coordenadas da Daejeon, sr. Cortez?

- Só um momento, senhor – responde o espanhol.

Cortez mexe em alguns dígitos do display do leme. E informa seus cálculos ao capitão:

- Aproximadamente 25 minutos em dobra 7, capitão.

- Muito bem. Execute – ordena Dan.

- Sim, senhor! – diz Cortez.

De seu painel, a comandante Hong observa atentamente as atitudes do capitão. E se demonstra preocupada:

- Algum problema, capitão? Parece preocupado com alguma coisa.

- Eu realmente estou preocupado, Seul-gi – responde Dan – Um pedido de socorro de prioridade 1 significa que algo muito sério aconteceu. E eu não esperava receber esse pedido justamente da Daejeon.

- Alguma razão especial? – questiona a coreana – Pelo visto a Daejeon significa algo pra você.

- De fato – diz Dan – A Daejeon foi a primeira nave na qual servi, logo depois que me graduei da Academia. Servi naquela nave por três anos, até ser transferido para a USS Columbia.

O olhar de Seul-gi se enche de surpresa e de curiosidade, enquanto o semblante de Dan se enche de nostalgia, misturada à preocupação do momento:

- Em outras palavras... uma parte da minha história está na Daejeon – diz o capitão.

- Eu não imaginava isso – responde Hong – Você se lembra de quem era seu superior na época?

- Lembro sim... – responde Dan – Era o capitão Harold Driscoll. Ele era um cara durão, e sabia ser rígido quando necessário. Tive que ir ganhando a confiança dele aos poucos.

- Eu não consigo imaginar você passando por dificuldades dentro de uma nave estelar! – afirma Seul-gi, com um sorrisinho.

- Se tem uma coisa que você aprende no Programa de Treinamento de Comando, srta. Hong, é a ter paciência com as pessoas – diz Nardelli – Mais do que todas as outras coisas.

- Interessante – observa Hong – Se bem que eu acho que eu nunca conseguiria passar nesse programa. Tenho mais paciência com estrelas e supernovas do que com pessoas, se é que me entende; não por acaso, preferi me especializar em astrofísica.

- Eu não a julgo por isso. Cada pessoa tem suas preferências e seus talentos.

Após vinte e três minutos de viagem, a Frontier começa a se aproximar do local onde se encontra a USS Daejeon.
Cortez trata de relatar ao capitão:

- Estamos nos aproximando das coordenadas da Daejeon, senhor. Ao alcance dos sensores em dois minutos.

- Reverter para impulso, sr. Cortez – ordena Nardelli.

- Sim, capitão.

A Frontier sai da velocidade de dobra e passa a se locomover em impulso. E pouco a pouco, vai se aproximando da Daejeon, que se encontra estática.
A USS Daejeon é uma nave estelar da classe Miranda, prefixo NCC-1931. Tem capacidade para até 250 tripulantes, e sua finalidade básica é de exploração e pesquisa científica. Seu capitão, Harold Driscoll, é um oficial da Frota Estelar bastante experiente, e estava no comando da nave já havia um bom tempo – especula-se que ele assumiu o comando da nave antes mesmo de James Kirk tornar-se capitão da Enterprise.

- Estabelecendo contato visual, senhor – relata Cortez.

- Na tela! – ordena Dan.

A imagem da Daejeon aparentemente à deriva aparece na tela. Na ponte da Frontier, a apreensão de Dan aumenta. Enquanto ele observa na tela a Daejeon completamente parada no espaço, o tenente Stanic tenta contatá-la:

- USS Daejeon, aqui é a USS Frontier. Responda – diz ele, de seu painel - USS Daejeon, aqui é a USS Frontier. Responda!

Nada se ouve do outro lado da linha, apesar das tentativas insistentes de Stanic. Visivelmente frustrado, o croata reporta a situação ao capitão:

- Eles não respondem, senhor. Tentei todas as frequências subespaciais, e nada!

Dan fica incrédulo com o relato de Stanic. E tenta contatar ele mesmo.

- Não é possível... Abra um canal para a ponte da Daejeon, sr. Stanic!

Stanic executa alguns dígitos em seu painel. E acata a ordem.

- Canal aberto, senhor.

- Capitão Driscoll, aqui é o capitão Daniele Nardelli da USS Frontier. Recebi seu pedido de socorro. Por favor, responda se estiver me ouvindo!

Mais uma vez, ninguém responde. Dan insiste, com um desespero claro em sua voz:

- Capitão, sou eu, Dan! Eu estou aqui pra ajudar, responda, por favor!

Apesar da insistência de Nardelli, a única coisa que se ouve do outro lado da linha é o total silêncio.
Uma sensação fria começa a subir pela espinha de Dan – o capitão fica paralisado, com o olhar fixo na tela, e ele começa a ter um mau pressentimento.

- Não estou gostando disso! – Dan se senta em sua cadeira e volta para Seul-gi – Varredura dos sensores, srta. Hong?

- Executando...

A coreana fixa seu olhar no painel por alguns segundos. E não acredita nas leituras que recebe.

- Meu Deus... isso é inconcebível! – exclamou ela.

- Informe! – ordena o capitão.

Seul-gi reluta por um instante. Mas descreve a situação a Dan – e ela não é nada animadora:

- Os sensores não estão captando sinais de vida, capitão!

- O que disse?! – Dan quase salta da cadeira.

Não apenas o capitão, mas todos na ponte da Frontier ficam apavorados e apreensivos com o relatório de Hong. Não era para menos: nenhuma nave permanece no espaço sem sua tripulação do nada – ainda mais uma nave com capacidade para 250 tripulantes como a Daejeon.
Se os sensores da Frontier não estavam detectando sinais de vida, das duas uma: ou eles estavam com defeito – o que era absolutamente pouco provável, uma vez que a manutenção deles estava em dia – ou, de fato, algo extremamente sério aconteceu com a tripulação.
Dan, então, começa a cobrar detalhes de seus oficiais da ponte:

- Consegue detectar algum vestígio de dobra, sr. Cortez?

- Nada, senhor – responde o alferes – Aparentemente a Daejeon era a única nave no setor antes da nossa chegada.

- Certo – o capitão se volta para Hong – O que os sensores dizem sobre a estrutura da nave, srta. Hong?

- Não há danos aparentes no casco segundo as leituras. No entanto, os motores de dobra e de impulso estão inoperantes; há alguns danos no deck da engenharia. O sistema de suporte de vida também está comprometido.

- Tá de brincadeira... – responde Dan, estarrecido – O que diabos aconteceu com essa nave? E o que houve com Driscoll e a tripulação?

Hong deixa seu painel, e se coloca na frente da cadeira do capitão.

- Só há um jeito de descobrir: analisando a Daejeon de perto – Seul-gi olha firme nos olhos de Dan – Capitão, permissão para comandar um grupo avançado.

Nardelli reluta por um momento. Mas no fim resolve acatar o pedido de Hong.

- Concedida. Leve o doutor Lester e o sr. Okonwa com você. Tenente Andros, será o encarregado da escolta.

- Sim, senhor! – responde Andros, que imediatamente se dirige para o turbo-elevador.

- Levarei um pesquisador da divisão de ciências também – diz Hong – Suspeito que a tripulação pode ter sido acometida de uma doença ou algo parecido. Estou considerando todas as hipóteses.

- Faça como bem entender – respondeu Dan – O importante é descobrirmos o que aconteceu com a Daejeon e com a sua tripulação.

- Sim, capitão!

Hong se dirige para o turbo-elevador. Mas é interrompida subitamente por Dan, que lhe chama a atenção:

- Seul-gi!

Ela olha para trás, e vê a tensão estampada no rosto do capitão.

- Tenha cuidado! – diz Dan.

Hong assente com a cabeça e sorri para o capitão. E entra no turbo-elevador.

***

Lester, Hong e o tenente Lloyd na ponte de comando
da
USS Daejeon

Minutos depois, o grupo avançado liderado por Hong teletransporta-se para a Daejeon, materializando-se na sala de transporte da nave.
Além de Seul-gi, estão o doutor Lester, o tenente Andros, o engenheiro-chefe Okonwa e também o tenente Jake Lloyd, da unidade de pesquisa científica da Frontier – todos estão usando trajes EV, uma vez que o sistema de suporte de vida da Daejeon estava desativado por conta de danos sofridos.
Em princípio, o grupo não percebe nada suspeito na sala – todos olham em volta, até que o doutor Lester encontra alguém caído próximo ao painel da sala – um homem trajando uniforme de operações – com o olhar fixo e completamente inerte.
Ele o examina com o pequeno dispositivo de seu tricorder médico, enquanto Hong se aproxima para verificar.

- Está morto – constatou ele.

- Consegue determinar a causa, doutor? – pergunta Seul-gi.

- É o que estou verificando...

É quando Lester percebe algo estranho no corpo do rapaz.

- Espere um pouco! Dê só uma olhada nisso, Hong!

Jon aponta para algumas marcas vermelhas que estavam no pescoço do oficial morto, indicando-as para Seul-gi.
Ela observa e conclui de imediato:

- Sinais de estrangulamento?!

- Exato! – afirma o doutor – Também detectei algumas lesões pelo corpo dele; o que significa que ele deve ter entrado em confronto com alguém antes de morrer.

- Então ele foi assassinado! – especula Hong.

- É provável... – responde Lester – Mas quem pode ter sido? E por quê? Isso não faz sentido!

- Certamente foi alguém de dentro da nave – diz Seul-gi – Isso está cada vez mais estranho...

Hong, então, resolve distribuir ordens aos membros do grupo avançado:

- Sr. Okonwa, vá até a engenharia e veja se consegue reparar o suporte de vida.

- Sim, comandante! – responde Oko.

- Sr. Andros, faça uma varredura pelos outros setores da nave. Procure por sobreviventes.

- Sim, senhora! -  responde o romulano.

- Os demais irão comigo até a ponte – complementa Hong – Ajustem os phasers para tonteio. Mantenham contato e informem se encontrarem qualquer anormalidade.

Oko e Andros assentem com a cabeça e deixam a sala de transporte. Enquanto isso, Seul-gi e os outros se dirigem à ponte de comando da Daejeon.

Quando Hong, Lester e o tenente Lloyd chegam à ponte, encontram um cenário desolador. Alguns dos painéis encontram-se destruídos, soltando faíscas de eletricidade; e todos os oficiais estão estirados pelos cantos, inertes.

- Meu Deus... – exclamou Seul-gi, horrorizada.

- Pelas barbas do profeta! – bradou Jon, boquiaberto – Mas o que diabos aconteceu nessa nave?!

- Simplesmente assustador... – disse Lloyd.

- Doutor, examine esses corpos e veja se consegue determinar a causa das mortes – ordena Hong – Certamente devem ter morrido nas mesmas circunstâncias que o oficial da sala de transporte.

- Tudo bem – assentiu Lester.

- Sr. Lloyd, irá me auxiliar com as varreduras de tricorder. Verifique se há algo estranho no ar ou nos instrumentos.

- Sim, senhora.

Súbito, o comunicador embutido no traje da comandante Hong começa a apitar. É um chamado de Okonwa:

- Okonwa para comandante Hong.

Seul-gi pressiona um botão no canto esquerdo de seu capacete, próximo ao ombro, para ativar seu comunicador e atender ao chamado.

- Aqui é Hong. Prossiga, sr. Okonwa.

- Comandante, os sistemas de propulsão de dobra estão seriamente danificados. Mas a boa notícia é que consigo reparar o suporte de vida. Assim que eu finalizar os reparos, vou redirecionar a energia da nave para o suporte.

- Quanto tempo até concluir os reparos?

- Cerca de 5 a 10 minutos.

- Muito bem. Execute!

- Sim, senhora – responde Oko – Desligo.

Okonwa, então, começa a trabalhar no reparo do suporte de vida da nave. Enquanto isso, o tenente Andros vai caminhando pelos corredores da Daejeon, e o que ele vê é muito parecido com o que Hong e os outros encontraram na ponte de comando: sinais de violência e danos superficiais nos equipamentos, e corpos de tripulantes estirados pelo chão.

- Assustador... – pensa o romulano, enquanto aciona seu comunicador – Andros para comandante Hong!

- Aqui é Hong – Seul-gi responde do outro lado da linha – Informe, tenente!

- Os corredores da nave estão parecendo um cenário de guerra, comandante! – relata Andros – Muitos tripulantes mortos e alguns danos superficiais nos corredores dos decks.

- Não é muito diferente do cenário aqui da ponte – responde Hong – Realmente aconteceu algo muito sério nesta nave. Continue buscando sobreviventes. Mantenha-me informada.

- Sim, senhora! Desligo – Andros encerra a comunicação.

Na ponte, Hong questiona o oficial de pesquisa, tenente Lloyd:

- Encontrou alguma coisa, sr. Lloyd?

- Negativo, senhora – responde Lloyd – As leituras não acusam nada. Aparentemente, não há nada contaminado o ar nem os instrumentos.

- Os corpos também demonstram apenas sinais de violência física – diz o doutor Lester – Mas o que pode ter causado tudo isso?

Eis que Seul-gi repara em algo estranho. A cadeira do capitão está ocupada.
No entanto, seu ocupante está completamente estático, inerte, com o olhar frio e fixo e sem demonstrar qualquer sinal de reação. É um homem aparentando quase 60 anos, cabelos grisalhos, corpo um pouco robusto e o uniforme azul de comando da Frota Estelar. Era ninguém menos que o capitão da USS Daejeon, Harold Driscoll.

Ao ver o corpo inerte do capitão Driscoll, Seul-gi fica consternada.

- Não pode ser! O Dan vai ficar arrasado...

De repente, as luzes da ponte se acendem, e um ligeiro som de pressurização é ouvido. O comunicador de Hong apita. É Okonwa chamando:

- Okonwa para comandante Hong.

- Informe, sr. Okonwa – Seul-gi atende prontamente.

- O suporte de vida está operacional novamente. Os reparos foram bem-sucedidos.

- Bom trabalho, tenente. Nos encontre na sala de transporte. Voltaremos para a Frontier dentro de instantes.

- Sim, senhora.

Uma vez que o ar dentro da Daejeon agora era respirável, Hong e os outros recolheram os capacetes dos trajes EV, acionando um botão próximo do ombro direito.
Seul-gi contata o tenente Andros:

- Hong para tenente Andros. Informe!

- Estou terminando de vasculhar os decks, comandante. O cenário é o mesmo em todos os cantos; aparentemente, não há sobreviventes!

- Isso é terrível... – Seul-gi demonstra consternação na voz – Vá a sala de transporte e nos aguarde por lá, tenente. Estamos voltando para a Frontier.

- Sim, senhora!

Parecia que a expedição do grupo avançado de Hong não ia dar em nada, e eles sairiam da Daejeon com mais perguntas do que respostas.
Desolados, Hong, Lester e Lloyd estavam se encaminhando para o turbo-elevador da ponte – até que, de repente, um sujeito com um uniforme de comando avança em cima de Lloyd e o agarra, aos berros, como se estivesse desesperado ou algo parecido.
A expressão no seu rosto era assustadora: os olhos estavam vermelhos e arregalados, como se ele estivesse sob o efeito de alguma droga entorpecente, e ele visivelmente estava fora de si.
A transpiração excessiva era outro detalhe que chamava a atenção.

Ao ver a cena, Seul-gi imediatamente saca um phaser, enquanto Lester observa surpreso, retirando discretamente algo de seu kit médico.
Enquanto isso, o sujeito ensandecido urra algo estranho, aparentemente sem sentido, enquanto segura Lloyd pela cabeça:

- Arrependei-vos, reles mortais! – grita ele, enquanto crava suas unhas no rosto do assustado Lloyd – O FIM ESTÁ PRÓXIMO!!!

Ele aperta com força o rosto de Lloyd, a ponto de deixar arranhões em seu rosto. Até que o doutor Lester lhe chega por trás com um hipospray e injeta-lhe um anestésico, fazendo-o ficar inconsciente.

- Está tudo bem, tenente? – pergunta Jon.

- Sim... foi só um susto, está tudo bem! – responde Lloyd, levando a mão ao rosto, na região dos arranhões.

Apesar de fazer esse relato ao doutor, Lloyd sente que algo estranho está acontecendo com ele. A palma de sua mão começa a coçar, e ele se sente irrequieto.
Sem perceber nada, Hong e Lester deliberam sobre o indivíduo que encontraram vivo:

- Pelo jeito encontramos um sobrevivente – diz Jon – Temos que levá-lo para a Frontier, ele precisa de tratamento médico o quanto antes!

- Com certeza ele deve ter as respostas para o que aconteceu aqui – responde Seul-gi – Vamos, doutor!

***


“Diário do Capitão – suplemento:

Quase toda a tripulação da Daejeon, incluindo o capitão Harold Driscoll, foi dizimada por um estranho surto de violência ocorrido dentro da nave.

Minha primeira-oficial, srta. Hong, foi a bordo da Daejeon com um grupo avançado, e encontrou um sobrevivente.

Ele está sendo tratado na enfermaria neste exato momento.”


Dan e Hong acompanham, na enfermaria da Frontier, o doutor Lester, que está tratando do sobrevivente resgatado da Daejeon.
Uma enfermeira assistente cuidou das feridas do rosto do tenente Lloyd, apenas superficiais – enquanto ela e Jon cuidavam do oficial resgatado, que estava deitado sobre uma das macas, inconsciente, o capitão e Seul-gi comentavam sobre o que houve:

- Ainda não consigo acreditar que o capitão Driscoll está morto – diz Dan, demonstrando luto em sua voz – Como isso pôde acontecer?

- Nada neste caso está fazendo sentido, Dan – responde Seul-gi – Não encontramos nada na Daejeon que explicasse o que houve com ele e com a tripulação. É tudo muito estranho...

- Tem alguma suspeita, Seul-gi? – perguntou o capitão.

- Não exatamente... – respondeu Hong, relutante.

- Especule – disse Dan, com a voz direta.

- A julgar pelo estado em que encontramos o sobrevivente, e também pelos sinais de violência encontrados nos corpos dos tripulantes e nas dependências da nave, suponho que alguma coisa dentro da Daejeon fez a tripulação perder o controle e se confrontar uns com os outros de forma violenta.

Seul-gi faz uma pausa, e pensa por alguns segundos.

- Mas... eu não consigo imaginar o que poderia ser tão devastador desse jeito. Eu nunca vi nada parecido desde que entrei para a Frota Estelar!

- Teria que ser algo capaz de provocar um desequilíbrio mental intenso... – palpitou Dan.

- Exato! – Seul-gi sente a ficha cair, e esmurra a palma da mão – Um vírus, um parasita, uma entidade alienígena... nenhuma hipótese pode ser descartada!

Súbito, Lester entra em desespero. Algo está acontecendo com o paciente:

- Mas como isso é possível?! – gritou ele.

Dan e Seul-gi se aproximam da maca do sobrevivente.

- O que foi, doutor? – perguntou Dan, apreensivo.

- Ele está tendo uma parada cardíaca! – responde Jon, aos berros – Enfermeira, 10cc de cordrazine, rápido!

- Sim, doutor! – responde a enfermeira loira, assustada.

Rapidamente, ela entrega um hipospray a Jon, que o injeta de imediato no paciente.

- E então? – pergunta o doutor a enfermeira.

Ela olha o monitor para verificar os sinais vitais. A resposta é desanimadora.

- Sem efeito, doutor! A atividade cardíaca continua diminuindo!

- Não pode ser! – Lester quase arranca os cabelos de desespero.

E não era para menos. O cordrazine é um estimulante altamente eficaz, usado justamente para estimular a atividade cardíaca em casos de insuficiência.
Em condições normais, ele funcionaria; no entanto, nem o doutor nem a tripulação da Frontier tinham ideia de com o que estavam lidando. Pois havia muito mais por trás deste incidente com a Daejeon do que eles imaginavam.

No monitor da maca, todos os indicadores de sinais vitais caem de vez. Lester fica inconformado, sob os olhares atônitos de Dan e de Seul-gi.

- Ele está morto, Dan! Eu não posso acreditar, o estado dele nem era tão grave assim!

Diante do diagnóstico, Dan e Seul-gi se entreolham, sem entender o que estava havendo.

- Isso é mais sério do que pensei – diz o capitão – Srta. Hong, acesse o computador central da Daejeon e copie os dados dos diários de bordo. Leve-os para a sala de reuniões daqui a meia hora.

- Sim, capitão!

Imediatamente, Seul-gi se retira da enfermaria, enquanto o capitão fica pensativo, observando o tripulante da Daejeon, agora morto.

***

Cerca de meia hora depois, o capitão e todos os envolvidos na expedição à Daejeon, além de outros oficiais da ponte como o alferes Cortez e alguns oficiais de segurança encontram-se na sala de reuniões da Frontier.
O clima é de apreensão total. Dan toma a palavra para si:

- Bem, senhores, vamos recapitular os fatos. Primeiro, a Daejeon emitiu um pedido de socorro de prioridade 1. Quando atendemos ao chamado, encontramos a nave avariada e sem qualquer tipo de atividade. Depois, a srta. Hong comandou um grupo avançado e encontrou praticamente toda a tripulação morta; durante a missão, um tripulante ensandecido atacou o tenente Lloyd, do departamento de pesquisa científica. E por fim, quando o trouxemos a bordo da Frontier para ser tratado, ele veio a óbito, mesmo recebendo todo o devido tratamento do doutor Lester...

Todos na mesa ouvem as palavras de Dan com atenção. O tenente Lloyd dá alguns sinais de que há algo errado com ele: começa a empalidecer e a transpirar, como se estivesse com um calor insuportável. Entretanto, continua a ouvir as palavras do capitão.

- A questão é: algo muito estranho aconteceu a bordo da Daejeon. Mas exatamente o quê?

- Havia sinais de violência por todos os cantos da nave, capitão – relatou o tenente Andros – No entanto, não havia nenhum indício de que essa violência havia sido provocada por fatores externos. Tudo indica que foi a própria tripulação que provocou tudo.

- Entendo – Dan se volta para o doutor Lester – Qual o resultado da autópsia, doutor?

- A causa da morte foi uma queda de pressão aguda seguida de parada cardíaca. O mais estranho é que não detectei nada no organismo dele que pudesse provocar tais reações.

- Que bizarro... – exclamou o alferes Cortez, pasmo.

- Fiz uma cópia dos diários da Daejeon conforme me pediu, capitão – diz Hong – Ainda não os analisei por completo, mas certamente devem conter informações esclarecedoras sobre os incidentes.

- Muito bem. Reproduza – ordenou Nardelli.

Hong assente com a cabeça e introduz um dos discos de dados no driver do computador da sala.
Em seguida, ela mexe em alguns dígitos do computador, e o conteúdo dos diários começa a ser reproduzido – a voz do agora falecido capitão Driscoll passa a ser ouvida nos alto-falantes, o que provoca arrepios e consternação em Dan:

- “Diário do Capitão – Data Estelar: 7508.6. Acabamos de descobrir uma nebulosa em um setor próximo a Makus III. Neste momento nossos cientistas estão analisando sua composição.

Em princípio, a informação não era relevante, uma vez que nada tinha a ver com a situação.

- Continue – ordenou Dan.

Prontamente, Hong acatou a ordem. Mais um trecho do diário, então, foi reproduzido:

- “Diário do Capitão – Data Estelar: 7509.1. Um dos oficiais da ponte se descontrolou de forma súbita, tornando-se agressivo e dizendo coisas absolutamente sem sentido. Dispensei-o de suas funções e o enviei à enfermaria.”

Ao ouvirem este trecho, todos na sala ficam atônitos.

- Pode ter sido aí que os incidentes a bordo da Daejeon começaram – diz Hong.

- Precisamente – responde Dan – Continue.

- “Diário do Capitão – Data Estelar: 7509.3. Uma série de incidentes estranhos está ocorrendo por toda a Daejeon. Ainda estou tentando entender o que está havendo, mas aparentemente, vários oficiais da nave perderam a cabeça! É como se metade da nave tivesse enlouquecido da noite para o dia!”

- Foi quando os incidentes começaram a se intensificar... – afirma Lester – Mas ainda não há evidências concretas sobre o que provocou toda essa confusão...

Dan se vira para Seul-gi e assente com a cabeça. Ela reproduz o restante dos registros.

- “Diário do Capitão – Data Estelar: 7509.8. A situação na Daejeon está absolutamente fora de controle, meus oficiais estão se atacando e fazendo loucuras por toda a nave! Não tenho a mínima ideia do que pode ter começado tudo isto... a única coisa que me resta é emitir um pedido de socorro e rezar para o Comando da Frota Estelar tomar alguma providência...

Todos ficam cada vez mais estarrecidos. À medida em que as gravações são reproduzidas, o tom de desespero da voz do capitão Driscoll é notório.
Sem que ninguém note, o tenente Lloyd fica ainda mais estranho, com o olhar fixo, trêmulo e transpirando muito.
Após terminar de reproduzir o trecho, Hong faz sua observação:

- Esse é o último registro feito pelo capitão Driscoll. Foi feito pouco antes de nossa chegada.

- Foi quando eles emitiram o pedido de socorro... – concluiu Dan – Certamente o capitão Driscoll achou que poderia resolver a situação sozinho. Mas não conseguiu e acabou apelando para essa medida extrema. Quando se deu conta, já era tarde demais...

Já completamente alterado, Lloyd não consegue se conter. Sua voz saiu em um tom atravessado, trêmulo e assustado:

- Nós não devíamos ter ido àquela nave... – murmura, quase gaguejando – Nós não devíamos ter ido àquela nave...

- O que foi que disse, sr. Lloyd? – Dan franze a testa.

A reação de Lloyd é completamente inesperada, e pega todos de surpresa.

- NÓS NÃO DEVÍAMOS TER IDO ÀQUELA NAVE, CAPITÃO!!! – berrou ele, levantando-se e batendo violentamente as palmas das mãos na mesa – Será que o senhor não entende?! Aquela nave é a fonte de toda a nossa desgraça! Agora estamos todos acabados!

- Tente se acalmar, sr. Lloyd! – Dan se levanta e faz um gesto de calma com as mãos – Estamos reunidos aqui justamente para tentar descobrir o que aconteceu. Não é hora pra entrar em pânico!

- O senhor não entende, capitão... – diz Lloyd, visivelmente fora de si – Estamos todos acabados... ESTAMOS TODOS ACABADOS!!!

- Calma, Jake, o capitão sabe o que está dizendo... – intervém Cortez, segurando Lloyd pelos braços – Ele e os outros vão fazer o possível pra solucionar essa situação! “¡Acalmate, hombre!”

- O que é que você sabe, seu moleque?! – responde o tenente, rangendo os dentes – SAI DA MINHA FRENTE!!!

Eis que Lloyd acerta um cruzado de direita em Cortez, para o espanto de todos. O espanhol cai no chão, e o tenente ensandecido voa em cima dele, esmurrando-o e tentando esganá-lo.
De imediato, dois oficiais de segurança avançam sobre Lloyd e o tiram de cima de Cortez, segurando-o fortemente pelos braços. A reação dele é violenta.

- Me soltem! – gritou ele, se debatendo – Vocês não entendem... estamos todos acabados... acabados... ACABADOS!!!

Ao ser conduzido pelos oficiais de segurança para fora da sala de reuniões, Lloyd consegue livrar um de seus braços, e acerta uma cotovelada no estômago de um dos oficiais. Em seguida, nocauteia o outro com um soco certeiro no queixo e sai correndo pelo corredor.

Todos presenciam a cena, sem qualquer reação. O capitão Nardelli transmite ordens ao tenente Andros:

- Alerta de segurança, sr. Andros! Coloque todos os homens atrás do tenente Lloyd! Phasers em tonteio!

- Sim, capitão! – Andros dirige-se ao terminal do INTERCOMM da sala de reuniões – Todos os decks, alerta de segurança! O tenente Lloyd está fora de controle, temos que contê-lo!

O alarme começa a soar por toda a Frontier. Todos os oficiais de segurança espalhados pela nave recebem o aviso, e ficam de prontidão.
Na sala de reuniões, Dan e o doutor Lester socorrem o alferes Cortez.

- Está tudo bem, Hernando? – pergunta Dan.

- Tudo bem, capitão... não foi nada... – diz Cortez, enquanto se levanta.

O canto da boca do alferes começa a sangrar, em decorrência do soco de Lloyd. O capitão transmite suas ordens ao doutor Lester e aos demais:

- Leve-o pra enfermaria, doutor – Nardelli se volta para Andros – Tenente, vou acompanha-lo, vamos atrás do Lloyd. Os demais estão dispensados. Srta. Hong, a ponte é sua.

- Sim, capitão! – diz Seul-gi.

Todos se retiram da sala de reuniões. Dan e Andros vão atrás de Lloyd, enquanto Jon leva Cortez para a enfermaria.

***

O tenente Lloyd vaga pelos corredores da Frontier, completamente desorientado. Transpirando muito e com uma expressão de pavor no rosto, ele parece não saber aonde ir. Dois oficiais de segurança que faziam a ronda naquele setor da nave o avistam.

- É ele! Parado! – gritam.

O oficial de ciências sai correndo, enquanto um dos seguranças vai atrás dele. O outro se dirige ao INTERCOMM e solicita reforço:

- O tenente Lloyd foi visto no deck 26. Solicito reforço urgente!

Em outro deck da nave, o capitão ouve o comunicado e se dirige ao local, juntamente com o tenente Andros.

- Vamos! – diz ele ao tenente.

No deck 26, um oficial de segurança alcança Lloyd e o derruba no chão, na tentativa de imobilizá-lo. Acaba levando um soco certeiro no rosto, e na sequência, Lloyd toma seu phaser.
Quando outros três uniformes vermelhos o alcançam, ele ajusta a arma para matar e a aponta para eles:

- Não se aproximem! – grita ele, completamente trêmulo e apavorado – Ou então eu atiro!

- Acalme-se, rapaz! – diz um dos seguranças – Está tudo bem, ninguém vai te fazer mal algum!

- Vocês não entendem... – Lloyd se desespera ainda mais – VOCÊS NÃO ENTENDEM!!!

Lloyd encosta o dedo no gatilho da arma phaser. Mas, antes de efetuar um disparo que poderia ser fatal, ele recebe um tiro pelas costas e cai inconsciente no chão, tonteado.
O capitão Nardelli, autor do disparo com um phaser portátil do tipo 1, entra em cena junto com o tenente Andros.

- Os senhores estão bem? – perguntou Dan.

- Sim, capitão! – responde um dos seguranças.

- Ótimo – diz o capitão – Levem o tenente Lloyd para a enfermaria. E fiquem de olho nele.

- Sim, senhor! – responde outro segurança.

Os oficiais de segurança colocam o inconsciente Lloyd nos ombros e o carregam em direção à enfermaria.
Andros revela suas suspeitas ao capitão, enquanto os dois observam a cena:

- Ele estava estranho desde que voltou da Daejeon, capitão. O que quer que estava naquela nave, deve ter contaminado ele também.

- Minha suspeita é exatamente a mesma, tenente – responde Dan, com uma expressão preocupada no rosto – Parece que nós mexemos em um vespeiro...

***

Minutos depois, na ponte, o tenente Stanic informa a comandante Hong, que está sentada na cadeira do capitão, sobre a resolução do incidente com o tenente Lloyd:

- Comandante, a segurança informa que o tenente Lloyd foi interceptado no deck 26. Ele acabou de chegar na enfermaria.

- Informe o Comando da Frota Estelar a respeito, tenente – ordena Hong – E informe também sobre a situação com a Daejeon.

- Sim, senhora!

No painel do leme, Cortez começa a se sentir esquisito. Ele olha para as palmas das mãos, que começam a coçar, e ele começa a transpirar em excesso – exatamente como aconteceu com Lloyd.
O contato agressivo com o oficial de ciências transmitiu-lhe o mal misterioso da Daejeon.
Sem saber de nada, Hong o questiona:

- Situação dos instrumentos, sr. Cortez?

- Hã?! – o alferes parece disperso – Quer dizer... os instrumentos estão... operando normalmente, comandante.

O comportamento errático de Hernando desperta a desconfiança de Seul-gi. Ela o observa com atenção, e percebe que há algo errado – ela nota que seus sintomas são semelhantes aos do tenente Lloyd na sala de reuniões. E resolve questioná-lo:

- Está se sentindo bem, alferes?

- Sim... – responde Cortez, hesitante – Quer dizer... eu estou morrendo de calor...

Cortez começa a ficar agitado, como se tivesse uma taquicardia repentina. Seul-gi arregala os olhos.

- Eu não sei... eu realmente estou me sentindo esquisito... – o espanhol começa a ofegar – Permissão... pra deixar o meu posto, comandante?!

Hong reluta por um instante. Mas acaba acatando o pedido de Cortez:

- Concedida. Vá até a enfermaria e fale com o doutor Lester. Mantenha-me informada.

- Sim, senhora – Cortez mexe no cabelo, ensopado de suor – Obrigado...

Meio cambaleante e ofegante, o alferes se dirige ao turbo-elevador. Assim que ele deixa a ponte, Seul-gi abre um canal da cadeira do capitão para a segurança, colocando-a em alerta:

- Segurança, aqui é Hong. O alferes Cortez está se dirigindo à enfermaria. Assegurem-se que ele chegue ao seu destino.

Assim que encerra a comunicação, Seul-gi olha para a imagem da Daejeon na tela principal. E sente um frio na espinha.

- Estou com um mau pressentimento... – pensou ela, em voz alta.

***

Na enfermaria, o tenente Lloyd encontra-se sedado, recebendo a atenção do doutor Lester, que o examina.
O capitão Nardelli também está lá, observando a ação do doutor:

- Como ele está, doutor? – perguntou Dan.

- Ele está estável – responde Jon – Pelo jeito ele vai sobreviver. Ao menos eu espero.

Jon suspira por um momento.

- Ainda com o oficial da Daejeon na cabeça, Jon? – questiona Dan.

- Eu ainda não consigo entender, Dan! Os ferimentos dele nem eram tão graves assim... Tudo bem, eu já perdi pacientes antes, mas não desse jeito!

- Vai ver... ele perdeu a vontade de viver por algum motivo. Não há uma explicação lógica...

- Me surpreende também a atitude do tenente Lloyd... eu vi a ficha dele há pouco, e ele não tem nenhum histórico de problemas psiquiátricos! Como ele pode ter reagido daquele jeito?

Eis que a ficha de Jon cai. E ele se recorda do incidente com o grupo avançado a bordo da Daejeon.

- Espere um pouco! – exclamou – Agora que eu lembrei! O Lloyd foi atacado e ferido no rosto pelo oficial da Daejeon!

- O que disse?! – pergunta Dan, surpreso.

- É isso mesmo, Dan! Ele avançou em cima do Lloyd e arranhou o rosto dele! Ele certamente devia estar com os mesmos sintomas que o Lloyd apresentou!

- E seja lá o que ele tinha... ele passou para o tenente Lloyd! – conclui o capitão.

- Exato! – concordou Lester – Como se fosse um vírus ou algo do tipo!

Súbito, o terminal de INTERCOMM da enfermaria apita. É um chamado de Hong, da ponte.

- Ponte para enfermaria!

- Aqui é Nardelli – Dan resolve atender o chamado – Prossiga, srta. Hong!

- Mandei o alferes Cortez para se submeter a exames há pouco mais de cinco minutos atrás. Sabe se ele apareceu, capitão?

- Não – responde Dan – Até agora ele não apareceu por aqui. O doutor Lester ainda está tratando do tenente Lloyd.

Dan também fica desconfiado ao ouvir o questionamento de Seul-gi. E resolve lhe perguntar:

- Que sintomas ele estava apresentando?

- Ele estava agitado, disperso e transpirando muito. Muito parecido com o tenente Lloyd antes do incidente na sala de reuniões.

- O Lloyd pode ter transmitido a doença pra ele. Ele foi atacado pelo tripulante da Daejeon que morreu aqui, antes de retornar para a Frontier.

- Tenho a mesma suspeita, capitão. Eu também presenciei o ataque ao tenente Lloyd na ponte da Daejeon.

- Ou seja... o que aconteceu na Daejeon... agora está acontecendo aqui! – Dan faz uma pausa – Coloque a segurança em alerta, srta. Hong! E solicite a todos que tiveram contato direto com o tenente Lloyd para comparecerem à enfermaria o quanto antes!

- Sim, capitão! – responde Seul-gi – Desligo.

Lester ouve toda a conversa, e fica atônito. Sente como se uma tempestade estivesse se aproximando.

- E agora, capitão? – pergunta ele a Dan – Ainda nem sei direito com o que estamos lidando! Como vou dar conta de toda essa demanda?!

- Tente se manter tranquilo, Jon – responde Dan – Faça o que puder. Coloque Lloyd sob quarentena. Descubra o que está provocando tudo isto e tente encontrar uma cura. Vou tentar localizar o Cortez antes que ele faça qualquer besteira!

Dan corre para a porta automática, e sai apressado da enfermaria.

- Como se fosse fácil! – resmunga Jon, dando um tapa na própria testa – Oh, céus... onde eu estava com a cabeça quando me enfiei nessa nave?!


Alguns minutos depois, no deck da engenharia, o alferes Cortez se aproxima furtivamente da porta do setor. Ele está com alguma coisa no topo da cabeça, semelhante a uma máscara, além de um largo sorriso no rosto e um riso baixo. Uma atitude típica de alguém que está prestes a aprontar uma travessura.
Lá dentro, o tenente-comandante Okonwa realiza uma inspeção nos motores de propulsão de dobra.

- Relatório, alferes – diz ele a um de seus subordinados.

- Fluxo de plasma normal, senhor – responde o jovem engenheiro, trajado com o uniforme de operações – E os reatores de antimatéria também estão operando normalmente.

- Ótimo! – responde Oko, que se volta a um outro subordinado em seguida – E as matrizes dos cristais de dilítio?

- Matrizes de dilítio operando a 80 por cento, senhor – responde o oficial – Sem quaisquer anormalidades.

De repente, a porta automática se abre, e Cortez entra correndo, já com a máscara no rosto – que mais parecia uma caricatura do pintor espanhol Salvador Dalí, no melhor estilo La Casa de Papel – e duas pistolas phaser nas mãos.
Rindo enlouquecidamente, ele grita algumas palavras em espanhol, enquanto aponta as armas para Oko e os oficiais da engenharia, que se demonstram surpresos:

- ¡Todos a la pared, sus putos cabrones de mierda! ¡Esto es un atraco! (“Todos para a parede! Isto é um assalto!)

Oko se demonstra espantado com o que vê. Assim como os outros oficiais da engenharia.

***

Cortez ri de forma histérica, enquanto ameaça os oficiais da engenharia com os phasers, levando todos a um canto da sala.
Oko reconhece a voz do alferes debaixo da máscara. Se coloca um passo à frente, e tenta dialogar:

- Alferes Cortez?! Mas o que significa isso?

- Ora... – Cortez ainda ri – Tenemos un hombre de cojones aquí... ¡Me gusta eso! (“Temos um homem de coragem por aqui... Eu gosto disso!”)

O espanhol ri e aponta um dos phasers para um dos painéis da sala. E atira. Todos os oficiais da engenharia se assustam e se espremem no canto.
Okonwa permanece firme na frente de Cortez. Mas o jovem mascarado mantém seu tom ameaçador.

Na ponte, Stanic recebe um alerta em seu display, informando sobre o dano causado. Ele o informa à comandante Hong:

- Alerta de danos na engenharia, comandante! – exclamou.

- O que disse?! – Hong quase salta da cadeira.

De volta à engenharia, Cortez continua a confrontar Okonwa, de armas em punho:

- Pero esto no es un puto juego, amigo. Si no te quieres morir, entonces vaya para junto de sus compañeros. ¡Ahora!

- Está bem – Oko estende as palmas das mãos, pedindo calma – Mas sabe que isso vai ter consequências, não sabe?

- ¿Estás hablando de la policía? (Está falando da polícia?) – pergunta Cortez - ¡Yo no soy temeroso de la policía! ¡Son todos un puto montículo de basura! (Eu não tenho medo da polícia! Eles não passam de um monte de lixo!)

O alferes, então, vai até o terminal do INTERCOMM e abre um canal para toda a nave. E começa a fazer exigências totalmente desconexas da realidade, em seu idioma nativo:

- Comunico a todo el país: yo tengo veinte y tres rehénes en mi poder. Y dentro de cuarenta y ocho horas, yo quiero todo el oro del Banco de España. Si no cumplen mis requisitos, yo voy a matar todos los putos rehénes, uno a uno. (Comunico a todo o país: tenho vinte e três reféns em meu poder. E dentro de quarenta e oito horas, quero todo o ouro do Banco da Espanha. Se não atenderem minhas exigências, vou matar todos os reféns, um a um)

A transmissão é ouvida em toda a Frontier. E claro, na ponte de comando. De imediato, Hong identifica a voz do alferes nos alto-falantes.

- É Cortez! – Seul-gi se volta para Stanic – Sr. Stanic, identifique a fonte da transmissão!

Não demora muito para Stanic identificar a origem.

- Vem da engenharia, comandante! – informou ele.

- Então foi ele quem provocou os danos... – conclui Hong.

Seul-gi abre um canal para o comunicador do capitão. E o informa da situação:

- Capitão, localizamos o alferes Cortez! Ele está na engenharia!

- Eu também ouvi a transmissão dele! – responde Dan, no meio de um dos corredores – Alerte a segurança, srta. Hong! Estou me dirigindo para lá!

- Tenha cuidado, Dan!  – diz Seul-gi – Aparentemente ele está fora de controle. Pelo que ele disse, ele está armado e com reféns!

- Estou ciente disso, Seul-gi! Mantenha um canal aberto! Desligo.

Dan guarda o comunicador, e se dirige à engenharia.

***

Na sala da engenharia, o clima continua tenso. O mascarado Cortez continua a ameaçar Oko e seus subordinados com os phasers, enquanto continua dizendo coisas completamente fora de nexo, em espanhol:

- No es nada personal, señores. Solo quiero hacierme rico lo suficiente para salir deste puto país de mierda... y pasar el resto de mi vida em una isla de Caribe o algo así... (Não é nada pessoal, senhores... Só quero ficar rico o suficiente para sair deste maldito país... e passar o resto da minha vida em uma ilha do Caribe ou algo assim...)

Todos olham com espanto para Cortez. Até que Dan chega, juntamente com Andros e outros oficiais de segurança.

- Sr. Cortez! – exclama o capitão, com os olhos arregalados ao ver a cena e apontando seu phaser – Eu não sei o que pretende, mas está colocando em risco a vida de todos aqui. Abaixe as armas e vamos conversar...

- Ah...  – Cortez solta um riso cínico e levanta a máscara, revelando seu rosto suado – Te deves ser el negociador, yo supongo... Creo que hay escuchado mis requisitos... (Você deve ser o negociador, eu suponho. Acredito que tenha ouvido minhas exigências...)

Dan, Andros e outros dois oficiais de segurança apontam os phasers na direção de Cortez. A situação fica ainda mais delicada. Cortez, então, resolve fazer um ultimato:

- ¡Y también deves ter escuchado que estoy con rehénes aqui! ¡Ahora, abaja la puta arma, o entonces voy a matar a todos! (E também deve ter ouvido que estou com reféns aqui! Agora, abaixe a sua arma, ou então vou matar todos eles!)

- Acalme-se... – a expressão no rosto de Dan começa a ficar tensa.

Ele resolve colocar seu phaser no chão. E ordena os outros a fazerem o mesmo:

- Abaixem as armas...

Andros e os outros abaixam as armas. Devagar, Dan começa a andar na direção de Cortez.

- Está tudo bem, sr. Cortez – diz ele, tentando demonstrar tranquilidade – Ninguém vai te fazer mal aqui. Está tudo bem...

- ¡Callate, hombre! (Cale a boca!) – gritou o espanhol, nervoso - ¡Yo quiero mi oro! ¿Donde estás? (Eu quero o meu ouro! Onde está?)

Dan continua a se aproximar. Cortez fica ainda mais nervoso e agitado.

- ¿Donde estás el oro? ¡¡¡Donde estás el puto oro, hostia!!! (Onde está o ouro? Onde está o maldito ouro, droga!) – gritou o alferes.

- Sr. Cortez, calma! – exclama Dan, estendendo as palmas das mãos - ¡Tranquilo, Hernando, tranquilo!

Nisso, dois oficiais da engenharia resolvem reagir. Eles avançam em Cortez, e seguram-no pelos braços.
Instintivamente, ele acaba apertando os gatilhos dos phasers e acertando alguns lugares da sala – um dos tiros atinge em cheio um duto de plasma, que se rompe.
Oko pega uma chave hidráulica que estava por perto, e acerta um golpe na nuca do espanhol, que cai desmaiado no chão.

- Você está bem, Oko? – pergunta Dan.

- Estou bem, capitão – responde Okonwa – Ninguém aqui se feriu, apesar de toda a confusão.

Enquanto isso, um alerta sonoro é ouvido dentro da engenharia:

- Alerta! Vazamento de plasma! Procedimentos de evacuação necessários!

- Ele acertou um dos dutos de plasma, capitão – relatou Oko – Se continuar assim, tanto a tripulação quanto os propulsores estarão em risco!

- Cuide disso – ordenou Dan – Retire todo o pessoal não-essencial e tente conter o vazamento!

- Sim, capitão! – responde o africano.

Em seguida, Dan olha para o alferes Cortez, agora caído. E se volta para os oficiais de segurança que acompanham Andros.

- Levem o atracador para a enfermaria – ordena o capitão, com uma mistura de tensão e sarcasmo na voz – Peçam para o doutor Lester cuidar dele.

- Sim, senhor! – diz um dos camisas vermelhas.

Os dois seguranças colocam Cortez nos ombros e o carregam rumo à enfermaria. Enquanto isso, Hong chega, em tempo de observar a cena.

- E então, capitão? – pergunta ela.

- A situação está controlada – responde Dan – No entanto, a gente tem que sair daqui, há um vazamento em um dos dutos de plasma. O sr. Okonwa está trabalhando pra contê-lo.

Seul-gi assente com a cabeça. Os dois saem da sala da engenharia.
Já em meio aos corredores, ela resolve relatar suas observações sobre os incidentes com Lloyd e Cortez:

- Interessante... – diz ela – Parece que há um padrão nesses surtos...

- O que quer dizer, Seul-gi? – Dan fica curioso.

- Em ambos os casos, as vítimas demonstraram uma perda total do autocontrole – responde Hong – Não é uma simples coincidência.

- Explique – o capitão franze a testa.

- No incidente da sala de reuniões, o tenente Lloyd demonstrou um pavor profundo que possuía da Daejeon. E agora, na engenharia, o alferes Cortez agiu pensando que era um personagem de um antigo seriado espanhol de streaming. Em ambos os casos, os dois colocaram pra fora aquilo que estava enterrado nos níveis mais profundos de suas mentes...

Dan arregala os olhos, enquanto Seul-gi faz sua conclusão:

- O que quer que tenha acometido os dois... é algo que ataca diretamente a mente. E traz à tona os sentimentos mais íntimos das pessoas.

- Então, foi isso o que provocou o caos na Daejeon... – conclui Dan.

- Precisamente, Dan – responde Seul-gi – e agora está acontecendo a bordo da Frontier.

- Meu Deus... – o capitão se demonstra assustado com as conclusões de Hong – A coisa é pior do que eu pensava... Mas como vamos enfrentar isso?

***

“Diário do Oficial Médico-chefe – Data Estelar: 7510.4

O incidente envolvendo a USS Daejeon trouxe à tona um estranho mal, que faz as pessoas perderem totalmente o autocontrole.

Até agora, a doença fez duas vítimas na Frontier: o tenente Lloyd e o alferes Cortez.



Com o intuito de buscar a origem desta doença, e prevenir um estrago maior, estou buscando informações a respeito no banco de dados da Frota Estelar.”


Mesmo com a movimentação intensa na enfermaria, Lester se coloca diante de seu computador. E lhe transmite um comando:

- Computador, verificar registros de surtos de loucura ocorridos em naves estelares nos arquivos médicos do banco de dados da Frota Estelar.

- Verificando registros... – diz uma voz feminina saída do computador.

Em questão de segundos, o computador localiza um registro de um caso semelhante ao ocorrido na Daejeon, e que agora acomete a Frontier. E as suas revelações surpreendem Jonas Lester:

- Há registro de um caso ocorrido na Data Estelar 1704.4. Na ocasião, um surto de uma doença cujos sintomas eram agitação, excesso de transpiração e perda completa do autocontrole acometeu a tripulação da USS Enterprise, à época capitaneada por James Tiberius Kirk.

- A Enterprise?! – Lester arregala os olhos – Eu não acredito nisso!

Jon realmente ficou incrédulo. Não lhe passara pela cabeça que algo daquele tipo poderia acontecer a bordo da mais célebre das naves estelares da Frota, a Enterprise.
No entanto, foi ali que ele enxergou uma luz no fim do túnel. Se a Enterprise passou por aquilo e voltou inteira de sua missão, logo a Frontier também poderia superar esse problema.
Sem pestanejar, ele questionou ao computador:

- Computador, detalhes sobre este caso!

- A Enterprise foi enviada ao planeta Psi-2000, que se extinguiu na Data Estelar anteriormente mencionada, para resgatar uma equipe de pesquisa alocada naquele planeta; no entanto, todos os seus integrantes foram encontrados mortos. Suspeita-se que a doença foi trazida a bordo da Enterprise por um de seus tripulantes, que morreu horas depois de retornar à nave. Depois de muito esforço, a cura foi descoberta por seu oficial médico-chefe à época, o doutor Leonard H. McCoy.

- Pelas barbas do profeta! – exclamou Lester – Quando eu ia imaginar que a solução desse problema poderia vir da Enterprise?! Computador, localize o doutor Leonard McCoy. Utilizar frequências subespaciais.

Depois de mais alguns segundos, o computador informa a localização exata do médico-chefe da Enterprise:

- O doutor McCoy está participando de um congresso de medicina em Deneb IV. De acordo com os registros, o congresso se encerra daqui a dois dias.

- Excelente! – comemorou Lester – Contate-o e solicite retorno com urgência. Enviar mensagem de prioridade 1!

- Afirmativo – respondeu o computador.

Lester olha para a tela do computador. E sorri.

- Parece que estamos prestes a virar o jogo... – diz.

***

“Diário do Capitão – Data Estelar: 7510.6
A doença misteriosa transformou a Frontier em um pandemônio. Em questão de pouco tempo, quase a metade da tripulação enlouqueceu! 

Relatos de incidentes chegam a todo momento – aparentemente, a segurança não está dando conta de tantas ocorrências.



A principal pergunta que me faço é: como vamos combater essa doença? Será que nós teremos o mesmo destino da Daejeon?”

O capitão Nardelli encontra-se sentado em sua cadeira na ponte de comando, visivelmente tenso – sua sensação é a de que a situação está saindo do controle.
Para seu desespero, Stanic lhe faz mais um relato perturbador:

- Registros de incidentes nos decks 13 e 15, senhor. A segurança informa que há brigas e confusões nesses decks.

- Não, não... De novo não, cazzo! – bradou Dan, desesperado, esmurrando um dos braços de sua cadeira – Será que não há meio de conter essa praga?!

- As ocorrências estão aumentando gradativamente – relata Hong, de seu painel – Também há registros de danos nos decks 21 a 27.

A expressão no rosto de Seul-gi também não é das melhores. Logo após dar essa informação ao capitão, ela faz uma previsão pessimista:

- Capitão... se continuar assim, é uma questão de tempo até toda a nave entrar em colapso!

- Mas o que a gente pode fazer?! – diz Dan, quase levantando a voz.

Eis que um sinal sonoro é ouvido na cadeira do capitão. É uma transmissão do doutor Lester.

- Enfermaria para capitão!

- Aqui é Nardelli – responde Dan, prontamente e suspirando – Prossiga, doutor!

- Dan, acho que encontrei uma solução para o nosso problema! Vou lhe explicar em detalhes pessoalmente, você simplesmente não vai acreditar!

- Até que enfim uma boa notícia... – diz o capitão, com a voz atravessada – A caminho.

Dan se levanta de sua cadeira. E volta seu olhar para Seul-gi:

- Srta. Hong?

Seul-gi assente com a cabeça. Deixa sua plataforma e acompanha Dan até o turbo-elevador.

- Sr. Andros, assuma a ponte – ordenou Dan, antes de sair.

- Sim, senhor – responde o romulano, que permanece em seu painel, ao lado do leme.


Minutos depois, na enfermaria, o doutor Lester informa Nardelli e Hong sobre o relatório que obteve por meio do computador.
Dan simplesmente fica incrédulo:

- O que você está me dizendo, Jon?! A Enterprise também teve um surto dessa doença?

- Bom, pelo menos foi o que o computador me informou – respondeu Jon – Se a informação estiver correta, então, quem sabe mais detalhes sobre essa doença é o doutor Leonard McCoy.

- O médico-chefe da Enterprise... – profere Hong.

- Exatamente – responde Jon – Ele está em um congresso de medicina em Deneb IV. Solicitei contato a ele em um canal de prioridade 1.

- Fez bem, doutor... – diz Dan – Pelo que eu sei, o doutor McCoy é um médico bastante experiente. Se a Enterprise conseguiu se livrar dessa doença, ele deve saber como.

- Mas... o que diz o seu relatório, doutor? – questiona Seul-gi.

- De acordo com as informações, a doença se manifestou durante uma missão da Enterprise no planeta Psi-2000. Eles foram a esse planeta resgatar uma equipe de cientistas, mas não tiveram sucesso; esses cientistas morreram antes disso.

- Entendi – assentiu Hong – Psi-2000 é um planeta já extinto. Era um planeta que ficava em um setor próximo de Makus III.

- Makus III... onde foi que eu ouvi esse nome...?! – questionou Lester.

Foi aí que Hong teve um estalo. E ela se lembrou de um detalhe importante:

- Espere um pouco! O capitão Driscoll registrou em seus diários que a Daejeon estava explorando uma nebulosa próxima a Makus III! Isso foi antes dos incidentes começarem...

- O que isso quer dizer, srta. Hong?! – perguntou Dan.

Seul-gi não tem tempo de responder. Antes que o fizesse, a coreana sente alguém segurar sua mão com força, logo atrás dela.
Para o desespero de todos, era Cortez, que estava deitado em uma das macas da enfermaria, e havia recobrado a consciência.

- Señorita... (Senhorita...) – diz ele, com a voz baixa e meio grogue – Ayudame, por favor... yo no quiero morir... (Me ajude, por favor... eu não quero morrer...)

- Seul-gi! – gritou Dan, desesperado.

- Enfermeira, dê outro sedativo a ele, rápido! – ordenou o doutor Lester.

- S-sim, senhor...

Mesmo assustada, a enfermeira pega um hipospray e o injeta em Cortez, que volta a adormecer.
No entanto, o estrago já estava feito. Com uma expressão de total pavor no rosto, Seul-gi olha para suas mãos, e as sente coçar. Em seguida, começa a encarar o capitão.

- Srta. Hong! – Dan tenta acalmá-la – Seul-gi, fique calma! Está tudo bem...

Apesar da tentativa de Dan, a reação de Seul-gi é completamente inesperada:

- Cale-se! – gritou ela, completamente apavorada.

Logo depois, Hong sai correndo da enfermaria. Dan segue logo atrás dela – mas antes, dá uma ordem a Jon.

- Mantenha-me informado, doutor!

O capitão também sai da enfermaria apressado, enquanto Lester olha, paralisado, sem entender nada.

***

Dan corre desesperado pelos corredores da nave, em busca de Seul-gi. Em cada canto que se olhe, a situação que ele encontra é a pior possível: balbúrdia e confusões de todo tipo, por conta do efeito do vírus misterioso.
Em um canto, um oficial com um uniforme de comando segura uma rosa vermelha em uma de suas mãos, enquanto canta aos berros uma antiga canção irlandesa:

- “Vou leva-la para casa, Kathleen...”

Em outro canto, um oficial de ciências tenta agarrar uma outra, com o uniforme de operações, que tenta fugir dele a todo custo; em outro, um outro oficial de operações gargalha de forma histérica, com um pincel na mão.
O capitão presencia todas essas situações, mas seu principal objetivo era um só: encontrar Seul-gi e tentar ajuda-la de alguma maneira – ainda que o próprio Dan não soubesse exatamente como.

Enquanto isso, Hong chega em seus aposentos, com uma expressão no rosto que misturava tristeza e desespero.
Ela chega em frente a um espelho em uma das paredes, e começa a murmurar:

- O que eu estou fazendo aqui? Por que eu estou aqui?

Com os olhos marejados, ela começa a olhar em volta de sua sala. Era um quarto bem confortável, com uma cama grande, duas poltronas, uma escrivaninha, um sintetizador de comida e um armário, onde ela guardava suas roupas.
Ela se senta em sua escrivaninha e coloca as mãos na nuca, transpirando e com os olhos completamente marejados.

- Por que eu estou aqui? – repete ela – Eu não tenho capacidade para estar a bordo dessa nave! Por que eu estou aqui? POR QUE EU ESTOU AQUI?!?

Seul-gi se debruça em sua escrivaninha. E chora de forma desesperada, como se estivesse com uma tristeza extremamente profunda.

***

Enquanto isso, na enfermaria, o doutor Lester continua observando seus dois pacientes, o alferes Cortez e o tenente Lloyd, que seguem sedados e com os braços amarrados nas macas.

- Como eles estão, enfermeira? – questiona ele.

- Ambos estão estáveis, doutor – respondeu a loira.

- Ótimo...

Jon está preocupado. A situação envolvendo o capitão e a comandante Hong ficou em sua cabeça – ele perguntava a si mesmo se os dois ficariam bem.
Mas não demorou muito, e algo muito aguardado por ele aconteceu: o seu terminal de INTERCOMM apitou, acusando um chamado da ponte. Era Stanic:

- Ponte para enfermaria!

- Aqui é Lester! – Jon responde de imediato – Prossiga!

- Recebendo transmissão de prioridade 1 do planeta Deneb IV, doutor. É o doutor Leonard McCoy.

- Excelente! – comemora Lester – Transfira-o para cá, tenente!



Stanic atende prontamente ao pedido do doutor. Logo em seguida, a imagem do doutor Leonard McCoy aparece no monitor de Jon: um homem experiente, com seus quarenta e poucos anos de idade, ligeiramente magro, cabelos castanhos curtos e lisos, e os olhos em um tom de azul inacreditavelmente claro. Seu uniforme da Frota Estelar era diferente dos demais: inteiramente azul-claro, como o usado pela tripulação da Enterprise durante a missão que interceptou a sonda V’Ger.
Ao bater os olhos em McCoy, Lester fica completamente sem reação – na época da Academia, tinha ouvido falar muito sobre ele, e todos os aspirantes a médico (incluindo o próprio Jon) o tinham como referência.

- Doutor McCoy?! – diz Lester, com a voz um pouco relutante.

- Sou eu mesmo – responde McCoy, do outro lado da linha – Você deve ser o doutor Lester, eu suponho.

- Sim, sou eu – Jon se recompõe e começa a falar com mais firmeza – Sou o doutor Jonas Lester, oficial médico-chefe da USS Frontier. É um grande prazer conhece-lo... embora eu gostaria que as circunstâncias fossem melhores.

McCoy parece pegar no ar a tensão do doutor Lester. O médico-chefe da Enterprise fala de forma direta, mas demonstrando um tom reconfortante em sua voz:

- Bom, pela expressão no seu rosto, posso pressentir que está com problemas. Certamente ninguém me mandaria uma mensagem de prioridade 1 à toa... mas me diga, em que posso ajuda-lo, meu rapaz?

Lester suspira por um instante. E resolve questionar McCoy sobre o incidente de loucura ocorrido na Enterprise:

- Por onde devo começar... Há alguns anos atrás, a USS Enterprise foi contaminada por alguma coisa que provocou loucura e histeria em sua tripulação, logo após uma missão no planeta Psi-2000. O senhor se recorda deste incidente, doutor?

- Se eu me lembro?! – a resposta de McCoy é categórica – Não tem como esquecer um negócio daqueles, aquilo foi um deus-nos-acuda! Um cantando nos alto-falantes da nave enquanto bagunçava a engenharia, o outro ameaçando todo mundo com uma espada achando que era D’Artagnan... Por Deus, eu juro pra você que até hoje eu não sei como eu também não enlouqueci...

Eis que o “Magro” – como o agora almirante James Kirk, grande amigo de McCoy, costuma chama-lo – tem um estalo em sua mente. E resolve questionar Jon sobre sua situação:

- Espere um pouco... Não vai me dizer que está tendo esses mesmos problemas na sua nave, vai, doutor Lester?

- Gostaria de poder te dar outra resposta, doutor McCoy, mas... – Lester faz uma pausa – Infelizmente, sim.

- Meu Deus... – McCoy fica horrorizado – E como foi que isso aconteceu com vocês?

- Respondemos a um pedido de socorro de uma nave que estava no setor – explica Jon – Quando chegamos, quase toda a tripulação da nave já estava morta. Conseguimos resgatar um tripulante, mas ele não durou muito. Foi ele que acabou trazendo a doença a bordo da Frontier.

- Me responda uma coisa, doutor – questiona o Magro – Por acaso esse tripulante que vocês resgataram estava transpirando em excesso?

- Exatamente – responde Jon – Não só ele como todos os outros que contraíram a doença apresentaram esse sintoma.

- Como eu suspeitava... – diz McCoy.

- O que sabe sobre a doença, doutor? – questionou Lester.

A partir daí, o doutor McCoy passa a Jonas Lester informações vitais sobre a doença:

- A doença é provocada por um vírus originário do planeta Psi-2000. Esse vírus é composto por cadeias de moléculas complexas, e seu principal vetor é a água. Por este motivo, o contágio se dá pela transpiração. Uma vez no organismo, o vírus entra na corrente sanguínea e ataca os centros de autocontrole.

- Inacreditável! – exclamou Lester, estupefato – E como foi que vocês da Enterprise conseguiram controlar essa epidemia?

- Bem, eu consegui isolar o vírus e produzir um antídoto a partir dele – responde McCoy – Estou enviando a fórmula para você. Reproduza-a nas proporções exatas e sintetize a quantidade que julgar necessária.

Lester fica paralisado, enquanto McCoy sorri.

- Você me parece ser um bom médico, Jonas – diz Leonard – Tenho certeza que vai se sair bem.

- Muito obrigado, doutor McCoy! – diz Jon, visivelmente animado – Eu lhe devo a minha vida!

- Boa sorte, doutor Lester – responde McCoy – Me informe se tudo correr bem.

- Pode deixar! Muito obrigado, mais uma vez!

A transmissão é encerrada. Imediatamente, o doutor Lester começa a trabalhar na fórmula do antídoto.

***

Em seus aposentos, Seul-gi continua debruçada em sua escrivaninha, chorando sem parar.
A campainha de sua porta toca mais de uma vez. E ela não atende. Mesmo assim, alguém consegue abri-la e consegue entrar. É ninguém menos que o capitão Dan Nardelli.

- Srta. Hong! – diz ele, completamente ofegante.

A coreana se levanta, e começa a encarar Dan com uma expressão não muito amistosa. Ele tenta acalmá-la:

- Calma, Seul-gi, está tudo bem... A gente precisa voltar pra enfermaria...

Visivelmente nervosa, Hong começa a caminhar lentamente na direção do capitão.

- Por quê? – disse ela, com os olhos marejados e um tom de voz completamente seco – Por que você me trouxe aqui, capitão?

- Tente se acalmar, Seul-gi – Dan estende as mãos – Você foi infectada. O doutor Lester está trabalhando numa solução, você tem que acreditar em mim! Você não pode simplesmente se deixar levar... Pense com clareza...

Mas não é o que acontece. Repentinamente, Seul-gi se enfurece e vai para cima do capitão.

- Responda à minha pergunta!!! – grita ela, enquanto agarra Dan pelo colarinho e o pressiona violentamente contra uma das paredes.

Dan fica assustado. Nunca havia visto Seul-gi sendo tão agressiva daquele jeito, durante todo o tempo em que ele a conhecia. Aliás, aquela realmente não era a Seul-gi que ele conhecia – já sob o efeito do vírus e transpirando muito, ela visivelmente estava fora de si.

"Por que você me trouxe aqui, capitão? Responda á minha pergunta!!!"

- Será que você não entende, capitão?! – diz ela, aos berros, enquanto encara Dan nos olhos – Não era para eu estar aqui! NÃO ERA!!! Eu não tenho nem nunca tive capacidade para estar em uma nave como esta... Mas foi você quem me arrastou até aqui... e agora eu estou longe de casa... da minha família... e tudo isto é culpa SUA!!!

Seul-gi acerta uma bofetada no rosto de Dan, que se vira para o lado, de tão forte que foi o tapa. Mesmo com isso, ele persiste:

- Você não sabe o que está dizendo, Seul-gi...

- Cale a boca!!! – Hong vai pra cima de Dan, e começa a dar tapas violentos em seu ombro – Você é um canalha, capitão Nardelli... VOCÊ É UM CANALHA!!!

- Pare com isso!!! – Dan levanta a voz de forma repentina, e seu comportamento também começa a mudar – Eu disse que você não sabe o que você está dizendo! Se eu te trouxe aqui, é porque você é mais capaz do que qualquer outra pessoa pra estar onde está! Você é muito melhor do que pensa, então PARE DE CHORAMINGAR!!!

Seul-gi se espanta, e Dan acaba se dando conta do que estava acontecendo com ele. Um calor infernal começou a tomar conta de seu corpo, e suas mãos também começaram a coçar. O tapa na cara que ele recebeu de Hong acabou lhe transmitindo a doença.

- Não!!! – diz ele, olhando fixamente para as palmas das mãos – Eu peguei...

- O quê? – questiona Hong.

- A doença... – responde Dan – Eu peguei a maldita doença...

Seul-gi fica paralisada. Dan começa a se alterar e a ranger os dentes, encarando sua melhor amiga de uma forma estranha, como se estivesse tomado de raiva. Mas não é este sentimento que suas palavras expressam:

- Você é mais capaz do que qualquer oficial que eu conheço na Frota, Seul-gi. Mas não é só por isso... não é só por isso que você está nesta nave...

- Do que você está falando? – diz Hong.

O clima começa a ficar estranho. Até que o doutor Lester entra em cena, passando pela porta dos aposentos de Hong como quem aparece do nada.

- Ufa! Ainda bem que eu encontrei vocês... – exclamou ele.

Em seguida, ele pega um hipospray e o injeta no pescoço de Seul-gi. Logo depois, ele faz a mesma coisa com o capitão.
Pouco a pouco, os dois vão recobrando o autocontrole.

- O que é isso, doutor? – pergunta Seul-gi.

- É o antídoto contra o vírus causador da doença – responde Jon.

- Então você conseguiu! – diz Dan – Você achou a cura, Jon!

Lester assentiu com a cabeça, sorrindo. E complementou:

- Com os cumprimentos do doutor Leonard McCoy!

- Pelo visto ele te passou as informações sobre a doença – diz Hong – O que você descobriu?

- É um vírus originário do planeta Psi-2000 – responde Jon – Ele ataca justamente os centros nervosos responsáveis pelo autocontrole. Por isso a insanidade.

- Psi-2000 era um planeta que ficava próximo a Makus III – lembrou Seul-gi – A Daejeon estava explorando uma nebulosa próxima a Makus III antes dos incidentes a bordo da nave começarem. É provável que esta nebulosa tenha se formado a partir dos resquícios da explosão de Psi-2000.

- E consequentemente o vírus ficou condensado entre as partículas... – especulou Dan.

- Exatamente – concordou Hong – A Daejeon deve ter se contaminado ao explorar essa nebulosa. O resto da história a gente já sabe.

- É... Infelizmente... – diz Dan, ligeiramente consternado.


Pouco depois, na enfermaria, o alferes Cortez recobra a consciência – tanto ele quanto o tenente Lloyd já receberam o antídoto contra o vírus de Psi-2000, reproduzido pelo doutor Lester a partir da fórmula transmitida pelo doutor McCoy.
O espanhol estranha o fato de estar na enfermaria; ele não se recorda de absolutamente nada da confusão provocada por ele na engenharia:

- Hostia! Mas o que eu estou fazendo aqui?! Eu estava na ponte de comando até agora há pouco!

- Eu também não lembro de nada... – responde Lloyd – Eu estava indo para a sala de reuniões, e do nada vim parar aqui! Que estranho...

De um lado, a enfermeira observa os dois pacientes, sorrindo. Do outro, Lester, Hong e o capitão Nardelli também observam.
Dan é o único que não está com uma expressão boa no rosto. A Daejeon não lhe sai da cabeça.

***


“Diário do Capítão – Data Estelar: 7510.9

Graças aos esforços do doutor Lester – e também à preciosa ajuda do doutor Leonard McCoy, da Enterprise – a epidemia do vírus da loucura de Psi-2000 a bordo da Frontier foi totalmente controlada.

No entanto, há mais a se lamentar do que a se comemorar. Uma vez que a Daejeon não teve a mesma sorte que nós...”


Dan está na ponte de comando da Frontier, juntamente com os demais oficiais, além do chefe da engenharia Okonwa e do doutor Lester. Todos estão de pé, diante da tela principal.
O clima é de tristeza e comoção – na tela, está a imagem da Daejeon, completamente estática e inerte.

- Abra um canal para toda a nave, sr. Stanic – ordena o capitão.

Stanic prontamente acata a ordem.

- Canal aberto, senhor.

Dan, então, começa a falar. O luto e a tristeza em sua voz eram visíveis:

- Aqui é o capitão. Hoje falo em memória das 250 almas que viajavam a bordo da USS Daejeon, e que se perderam por conta de uma grande fatalidade.

Em todos os setores da nave, a tripulação ouve atentamente as palavras do capitão Nardelli.
Ele continua seu discurso:

- Com certeza esta é uma tragédia que abala a todos nós. Mas abala a mim em particular, pois servi durante três anos de minha carreira na Frota a bordo da Daejeon, sob o comando do capitão Harold Driscoll, vitimado neste desastre. O capitão Driscoll era um homem com métodos bastante rígidos... mas acima de tudo, sabia comandar uma nave estelar como ninguém. Ele foi um dos melhores capitães com quem eu servi. Sem dúvida, uma perda irreparável para a Frota Estelar...

Dan suspira por um instante, ligeiramente abatido. Mas retoma suas palavras:

- Esta tragédia nos faz lembrar do quanto é arriscado viajar pelo espaço. Dos perigos aos quais estamos expostos. Mas apesar de tudo isto, nós não devemos perder a coragem. Não devemos ter medo do desconhecido. Pelo contrário: devemos acreditar nas infinitas possibilidades que o espaço nos oferece. Tão infinitas quanto o próprio espaço. O capitão Driscoll e sua tripulação acreditavam nisto. E nós também devemos acreditar. A Daejeon cumpriu sua missão até o último instante. E certamente, nós da USS Frontier também cumpriremos a nossa.

Nardelli faz mais uma pausa. E finaliza:

- Que as almas dos irmãos e irmãs da Daejeon descansem em paz, em meio a este infinito campo de estrelas. Dediquemos neste minuto nossas orações a eles.

Todos na Frontier fazem um minuto de silêncio. Passado este minuto, Dan profere sua derradeira ordem – talvez a ordem mais dura que ele teve que dar até agora:

- Armar torpedos fotônicos, sr. Andros. Travar alvo.

Andros rapidamente mexe em seu display.

- Alvo travado, capitão. Torpedos fotônicos armados.

Dan reluta por um instante. Mas transmite a ordem ao tenente, com a voz atravessada:

- Fogo.

Os torpedos da Frontier, então, são disparados. E acertam em cheio a Daejeon, que explode e se pulveriza no espaço, aos olhos de todos na ponte da Frontier.
Logo após testemunhar a extinção da Daejeon, Dan abaixa a cabeça.

- Lá se vão três anos da minha história na Frota... – diz.

Seul-gi vê uma lágrima escorrer do rosto do capitão. E coloca uma das mãos em seu ombro.
Dan olha para sua primeira-oficial, que não lhe diz uma palavra. Apenas assente com a cabeça.

Do outro lado, o doutor Lester também coloca sua mão no ombro de Dan, demonstrando solidariedade. E tenta encorajá-lo:

- Você precisa ser forte, Dan – diz ele, com a voz suave – Leve as lembranças da Daejeon no seu coração. Elas sempre estarão com você... e nós também estaremos.

- Obrigado, Jon – diz Dan, com a voz embargada.

- A Frontier precisa de você, Dan – diz Seul-gi, esboçando um ligeiro sorriso – Você é o nosso capitão.

- Obrigado, Seul-gi. De verdade.

Dan senta em sua cadeira, ao mesmo tempo em que todos voltam a seus postos. E transmite sua ordem ao alferes Cortez:

- Marque o curso, sr. Cortez. À frente, em dobra 1.

- Sim, senhor – diz Cortez. – Dobra 1.

A Frontier, então, segue viagem. E parte rumo a seu próximo destino.


CONTINUA...




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