[TEMPORADA 2] Capítulo 4 - PLANETA PROIBIDO




PREFÁCIO DO AUTOR

Saudações, amigos! Tudo bem?

Enfim, chegamos a um momento muito especial - um momento para o qual vinha me preparando há muito tempo, desde que comecei a escrever a fanfic.

Este capítulo é o primeiro de uma sequência de três, e nesta sequência, veremos o encontro dos personagens de Frontier com os personagens clássicos da franquia Star Trek. Por esta razão, este capítulo representa um marco na trama de Frontier.
As principais referências desta trilogia são alguns episódios icônicos da série clássica - a começar por "A Jaula" ("The Cage"), o primeiro piloto produzido para a série; além do episódio duplo "A Coleção" ("The Menagerie" - TOS, Temporada 1, eps 11 e 12).
Antes de ler este capítulo (e os outros dois que virão na sequência), recomendo assistir estes episódios.

Espero que esta sequência agrade a todos que acompanham o blog. E que, acima de tudo, seja uma sequência digna de Star Trek.

Boa leitura! Vida longa e próspera!

Daniel




PRÓLOGO

 

A Frontier segue em curso pelo espaço.

É tarde da noite. Dan e Seul-gi estão dormindo nos aposentos do capitão, abraçados, trajados apenas com roupas íntimas pretas.
Aparentemente, a noite está tranquila. Mas de repente, uma voz aflita e sussurrante acorda o capitão:

 

- Capitão... capitão...

 

Lentamente, Dan tira seu braço de Seul-gi, que, adormecida, não percebe o que está acontecendo, e se levanta. E dá de cara com uma figura inesperada: um homem, aparentemente de meia-idade, cabelos grisalhos, trajando um uniforme antigo da Frota Estelar: uma camisa amarelo-ouro com o símbolo da Frota no peito, e uma calça preta.

Com uma expressão desesperada no rosto, o homem suplica:

 

- Por favor, capitão Nardelli... Eu preciso da sua ajuda...

 

- O quê?! – diz Dan, sem entender nada – Mas... quem é você?!

 

Dan encara a figura por alguns segundos. E uma outra questão lhe veio à cabeça:

 

- Ei!!! Espera um pouco aí! Como foi que você entrou na minha nave?

 

A preocupação do capitão fazia sentido. Em princípio, não havia mais ninguém a bordo da Frontier além da sua própria tripulação.
Além disso, ninguém poderia vir a bordo da nave sem autorização prévia. Ao que tudo indica, o indivíduo poderia ser um clandestino que se infiltrou em algum momento.
Sem pensar duas vezes, o capitão avança para o INTERCOMM e o aciona:

 

- Segurança!!! – gritou, em tom de desespero.

 

- Aqui é Andros, capitão! – diz o tenente, do outro lado da linha – O que houve?

 

- Alerta de intruso, tenente! Aos meus aposentos, rápido!

 

- A caminho! – responde Andros, encerrando a comunicação.

 

Rapidamente, Dan pega de uma de suas gavetas um phaser portátil do tipo 1. E o aponta para o homem de amarelo.

 

- E você fique exatamente onde está! – diz, com o tom de voz ríspido.

 

- Acalme-se, capitão – diz o homem – Minhas intenções não são hostis. Como eu disse, preciso de sua ajuda.

 

- Diga isso à segurança! – responde o capitão.

 

Nesse meio tempo, Seul-gi acorda. E se assusta ao ver Dan de phaser em punho.

 

- Dan, o que está acontecendo?! – diz ela, em tom de espanto.

 

Minutos depois, o tenente Andros chega, juntamente com dois oficiais de segurança, trajados com o uniforme vermelho de operações, todos com pistolas phaser em punho.

 

- Onde ele está, capitão? – pergunta o romulano.

 

- Ali, Andros – Dan aponta na direção do homem – Ele está bem na nossa frente!

 

Andros olha atentamente na direção apontada por Dan. E sua resposta pega o capitão de surpresa:

 

- Mas... não tem ninguém ali, senhor.

 

- Como é?! – responde o capitão, incrédulo.

 

Seul-gi, cobrindo-se com o lençol, chama a atenção de Dan, que se vira para ela.

 

- Ele tem razão, Dan – diz a coreana – Não tem ninguém aqui além da gente.

 

Dan volta a olhar para a direção onde o homem misterioso estava. E de fato, não havia nada nem ninguém ali. Como em um passe de mágica, a figura simplesmente desapareceu.

 

- Mas o que diabos está acontecendo?! – diz ele, absolutamente espantado, sem acreditar no que via. Ou não via.

 

 __________________________________________________

 


 


“Diário do Capitão – Data Estelar: 7532.4
Um estranho homem vestido com um uniforme antigo da Frota Estelar apareceu diante de mim em meus aposentos, e em seguida desapareceu sem deixar rastros.
Estranhamente, nem a segurança nem os computadores da nave acusaram a presença de intrusos; aparentemente, eu fui o único a ver o tal indivíduo. Será que foi algum tipo de alucinação?

Apresentei-me à enfermaria e solicitei uma bateria de exames ao doutor Lester.”

 

 

Manhã do dia seguinte.

Dan está na enfermaria da nave, sentado em cima de uma das macas. Diante dele, está o doutor Lester, escaneando sua cabeça usando o sensor de seu tricorder médico.

 

- Aparentemente, não há nada de errado, Dan – diz o doutor – Suas funções cerebrais e suas sinapses estão normais. Além disso, você também está em ótima forma. Não há sinais de estresse ou cansaço mental.

 

- Que estranho... – diz o capitão – Eu posso jurar que eu vi o indivíduo bem na minha frente. Mas depois, quando me dei conta, ele já não estava mais lá.

 

- Você disse que ele usava um uniforme antigo da Frota. Não que eu acredite muito nessas coisas, afinal, sou um médico; mas... será que era algum tipo de assombração ou coisa parecida?

 

- Eu acho que não, Jon. Ele me parecia ser bem real para um fantasma.

 

- Muito estranho mesmo... – Christine entra na conversa – O Jon me mostrou a sua ficha médica, e pelo que eu vi, você não tem qualquer histórico de doença mental ou distúrbios psicológicos. O que será que pode ter acontecido?

 

- Eu não tenho a menor ideia, Christine – responde Dan – Mas que eu vi o sujeito, eu vi.

 

- Talvez você devesse falar com T’Kara – sugeriu a nova-iorquina – Quem sabe ela possa te dar uma resposta melhor a esse respeito.

 

- Ela tem razão, Dan – diz um desolado Lester – Se a medicina tradicional não funciona, a alternativa é recorrer a outros meios... embora eu não concorde muito com isso...

 

Dan encara os dois médicos meio incrédulo, franzindo a testa.

 

***

Cerca de uma hora depois, o capitão vai aos aposentos de T’Kara. E relata todo o acontecido à conselheira.

 

- Seu relato é bastante curioso, capitão – diz a vulcana – Você descreve o indivíduo com uma riqueza de detalhes impressionante. Como se tivesse estado exatamente diante de você.

 

- E de fato ele estava, conselheira – comentou Dan – No entanto, bastou um segundo e ele não estava mais ali. O mais estranho disso tudo é que nem a srta. Hong nem os oficiais da segurança viram o sujeito. Eu simplesmente não sabia o que dizer...

 

- Posso ver em seus pensamentos que você está convicto. Se houvesse qualquer sinal de transtorno ou distúrbio em sua mente, eu detectaria com facilidade. No entanto, ao que tudo indica, não é o seu caso.

 

- O que acha que pode ter acontecido, T’Kara?

 

- Talvez você tenha recebido algum tipo de mensagem telepática. Alguém pode ter entrado diretamente em sua mente para lhe contatar. Mas eu não posso afirmar com certeza. É apenas uma especulação.

 

- Isso faz sentido. Mas... quem no universo teria tal capacidade? Quem poderia ser capaz de fazer tal coisa?!

 

- Não tenho ideia, capitão. Esta é a primeira vez que lido com um caso deste tipo. Podem existir várias possibilidades.

 

- Entendo. No entanto, se sua hipótese estiver correta, então existe alguém com uma capacidade telepática totalmente além da compreensão. E esse ser... esse indivíduo, ou o que quer que seja, entrou em contato diretamente com a minha mente.

 

Dan franziu a testa, sob o olhar atento de T’Kara.

 

- Mas ainda tem um detalhe muito estranho... que tipo de ligação esse indivíduo tem com a Frota Estelar? Por que ele estava usando um uniforme antigo da Frota?

 

- Não há como eu formular uma opinião a esse respeito, capitão. Em outras palavras, estamos lidando com algo completamente desconhecido.

 

- Parece que estamos diante de um grande mistério... – afirma Dan.

 

- Precisamente – a voz de T’Kara sai em um tom completamente seco.

 

Eis que, subitamente, o sinal do INTERCOMM soa. E a voz de Stanic é ouvida:

 

- Capitão Nardelli, apresente-se à ponte com urgência!

 

Dan se espanta com este chamado de seu oficial de comunicações. E dirige-se ao terminal do INTERCOMM:

 

- Aqui é Nardelli. O que houve, tenente?

 

- Há algo que o senhor precisa ver, capitão. Por favor, compareça o quanto antes!

 

- A caminho!

 

O capitão encerra a comunicação e volta seu olhar para T’Kara.

 

- Conselheira – diz ele.

 

T’Kara assente com a cabeça. E os dois saem dos aposentos da vulcana.

 

***

 

Dan e T’Kara chegam à ponte da Frontier, e dão de cara com uma cena inusitada: todos os oficiais da ponte estavam de pé e com os olhares atônitos à frente, enquanto Andros e outros dois oficiais de segurança apontavam seus phasers para uma figura que estava próxima da tela principal da nave.
Para o espanto do capitão, era o mesmo homem de uniforme amarelo que ele havia visto em seus aposentos.

 

- Madonna mia!!! – exclama Dan – Mas isso não é possível!

 

- Capitão! – Andros chama a atenção – Este indivíduo bate com a descrição que o senhor me passou. Por acaso é ele que o senhor viu na noite passada?

 

- É ele mesmo, tenente!

 

Dan passa a encarar o homem de amarelo, que ao que tudo indica, tornou-se visível para todos na ponte. Uma coisa não mudou da noite anterior para aquele momento: o olhar e a expressão de aflição por parte do homem.

 

- Parece que agora não sou o único a vê-lo – diz o capitão – Pois bem... quem é você? E o que você quer na minha nave?

 

- Não se aflija, capitão Nardelli – a voz do homem sai em um tom ligeiramente melancólico – Não sou seu inimigo. O senhor pareceu não acreditar em mim, então resolvi me tornar visível para todos nesta nave.

 

Ninguém parece entender nada. Os olhares de todos na ponte se enchem de espanto e dúvida.

 

- Fascinante – diz T’Kara, com sua voz fria.

 

- Eu não estou acreditando! – exclama Hong, de seu painel – Como foi que eu não o vi lá nos aposentos do Dan?! Que tipo de truque é esse?

 

- Como eu lhe disse antes, eu preciso de sua ajuda, capitão – continuou o misterioso homem – Devo-lhe muitas explicações... mas temo que meu tempo seja curto. Temos que agir o quanto antes possível.

 

- Do que está falando? – questiona Dan, sem entender absolutamente nada – Por que acha que eu poderia ajudar você?

 

Todos fixam seus olhares no homem de amarelo. E o capitão faz um questionamento crucial:

 

- E por que... você está usando a forma de um oficial da Frota Estelar? Qual a sua explicação pra isso?

 

O olhar de T’Kara torna-se enfático. Ela parece ter captado alguma coisa no indivíduo, por meio de sua telepatia.
Ele, por sua vez, trata de responder aos questionamentos do capitão Nardelli:

 

- É porque de fato eu o sou, capitão. Ou pelo menos, eu era. Servi à Frota Estelar durante muitos anos de minha vida. E eu acredito que você já deva ter ouvido falar de mim.

 

Todos na ponte ficam ressabiados. Especialmente Dan, que cada vez mais estranhava a atitude daquele homem.
Mas a revelação que ele faria a seguir deixaria a todos na ponte da Frontier de queixo caído.

 

- Meu nome é Christopher Pike – diz ele – Capitão de frota.

 

Um silêncio se forma na ponte. Todos os olhares se voltam para o homem de amarelo. Ninguém parece acreditar no que ele havia acabado de dizer. De fato, Christopher Pike era um dos oficiais mais importantes e respeitados da história da Frota Estelar – no entanto, há muito tempo não se ouvia falar de seu paradeiro: ele foi dado como desaparecido logo depois que a USS Enterprise o deixou no planeta Talos IV, considerado território proibido pela Frota.

 

- Não pode ser! – exclamou Dan, completamente incrédulo – Você é... Christopher Pike?! Que antecedeu James Kirk no comando da Enterprise?

 

- Exatamente – responde Pike.

 

- Impossível! – diz Hong – O capitão de frota Christopher Pike desapareceu há cerca de nove anos! Você não pode estar falando a verdade!

 

- Sei que é difícil de acreditar, comandante, mas posso lhe assegurar que sou quem eu digo ser – diz o misterioso homem – Todas as circunstâncias que dizem respeito a mim são bastante complexas, mas como eu disse, talvez eu não tenha muito tempo.

 

Uma expressão de angústia se forma no rosto do capitão Pike. Ele olha profundamente nos olhos de Dan e faz uma revelação estarrecedora:

 

- Eu estou morrendo, capitão. Talvez eu tenha só mais alguns dias de vida.

 

O capitão Nardelli fica atônito. Parece não entender nada do que está sendo dito pela figura que diz ser o capitão Christopher Pike.
Imediatamente, ele volta seu olhar para T’Kara – sua telepatia certamente poderia dizer se ele estava falando a verdade ou não.

 

- Sinto um grande sentimento de angústia vindo dele, capitão – diz ela – Ele não parece estar mentindo.

 

Dan olha novamente para Pike, e começa a prestar atenção na expressão de seu rosto. Ela emanava um profundo sentimento de tristeza, aliado à angústia e à incerteza.
A partir daquele momento, alguma coisa começava a tocar fundo no âmago do capitão da Frontier – se o que T’Kara disse era verdade (e os vulcanos não possuem o hábito de mentir), então ele estava, de fato, diante de um dos maiores capitães da Frota.
No entanto, as circunstâncias eram, no mínimo, inusitadas – o que um oficial experiente e consagrado como Christopher Pike iria querer de um capitão novato como Dan Nardelli? Será que ele realmente estava prestes a perder a vida em algum canto esquecido do universo? Todos estes questionamentos acabaram por formar um turbilhão na mente de Dan.
Apesar disso, ele passa a encarar Pike com firmeza e resolve questioná-lo.

 

- O que você quer de mim? – pergunta ele.

 

- Quero que me ajude a realizar meu último desejo – responde Pike – Venha até mim e lhe entregarei algo.

 

- O que pretende me entregar? – questionou Dan.

 

- Saberá quando estiver em minha presença. Você deve me encontrar o quanto antes.

 

- E onde posso lhe encontrar?

 

A resposta de Christopher Pike deixa a todos na ponte da Frontier ainda mais atônitos.

 

- Em Talos IV – diz ele, de forma categórica – É onde tenho estado desde que James Kirk e a Enterprise ali me deixaram.

 

- Talos IV é um planeta proibido pela Frota Estelar, capitão Pike! – contestou Dan – Nessas circunstâncias, eu não posso lhe prometer nada.

 

- Pense bem, capitão Nardelli – insistiu Pike – O tempo é curto. Não sei até onde posso aguentar. O que eu sei é que eu não quero morrer esquecido pelos meus irmãos da Frota.

 

Dan empalideceu. A voz do capitão Pike saía em um tom absolutamente triste e melancólico.
E sua última frase seria o bastante para encher a mente do italiano de dúvidas:

 

- Escolha sabiamente, capitão. Mas você precisa agir rápido.

 

Lentamente, a imagem do capitão Christopher Pike se esvai. E ele desaparece por completo, diante dos olhos arregalados de Dan e dos outros.

 

***

 

“Diário do Capitão – suplemento: 
O estranho homem que vi anteriormente reapareceu diante de mim e dos oficiais da ponte – ele se identificou como sendo o capitão de frota Christopher Pike, desaparecido há nove anos.
Ele disse ter poucos dias de vida, e fez a mim um pedido, no mínimo, inusitado: queria que eu o encontrasse no planeta proibido de Talos IV para que eu o ajudasse a cumprir seu último desejo.

Convoquei uma reunião com os meus oficiais mais graduados para discutir a atual situação.”

 

 

Dan estava diante de um dilema. A súplica desesperada do capitão Pike – aliada à afirmação feita por T’Kara de que ele falava a verdade – não lhe saía da cabeça; por outro lado, a Ordem Geral VII era clara: nenhuma nave da Frota Estelar poderia visitar o planeta Talos IV sob qualquer circunstância. E aquele que infringir essa ordem será condenado à morte – uma das raras circunstâncias em que a Frota aplica a pena capital.
A mente do capitão da USS Frontier estava completamente confusa: jamais ele havia enfrentado tal situação em toda a sua carreira como oficial da Frota Estelar.
Ele se encontra em uma das salas de reunião da nave, juntamente com Hong, Okonwa, Andros, Lester e T’Kara.

 

- Tá de brincadeira, é?! – reagiu Lester, com seu jeito intempestivo de sempre – Não tem o menor cabimento um oficial renomado como o capitão Pike incitar um capitão de nave estelar a cometer suicídio! Essa é a história mais sem pé nem cabeça que eu já ouvi, não faz o menor sentido!

 

- Ele disse que estava morrendo, doutor – responde T’Kara, com uma postura completamente oposta à de Jon – Mas não me recordo dele ter mencionado o ato de cometer suicídio em nenhum momento.

 

- Mas é como se fosse, conselheira! – retrucou o médico loiro – Ir à Talos IV de forma deliberada é o mesmo que cometer suicídio! A Ordem Geral VII é categórica...

 

- Tenho conhecimento das diretrizes da Frota Estelar, doutor Lester – diz a vulcana, mantendo a frieza no tom de voz – Não há necessidade do senhor explica-las.

 

- Basta! – interferiu Dan, visivelmente irritado, dando um tapa na mesa – Se for pra discutir sem necessidade e não chegar a conclusão alguma, então darei esta reunião por encerrada!

 

Lester se assusta com a reação do capitão, e resolve recuar. T’Kara se limita apenas a erguer uma sobrancelha.

 

- Srta. Hong? – Dan volta sua atenção para Seul-gi.

 

A coreana faz um gesto de afirmação com a cabeça, e em seguida insere uma fita de registro em um dispositivo localizado na mesa.

 

- Computador, exibir registro de oficial da Frota Estelar – ordena ela – Nome: Pike, Christopher.

 

De imediato, surge um holograma na mesa, exibindo a foto e todo o histórico do capitão Christopher Pike. O computador descreve com detalhes:

 

Pike, Christopher
Local de Nascimento: Mojave, EUA, Terra
Patente atual: Capitão de frota
Última designação:
USS Enterprise
Condição atual: desaparecido

 


- Estas são as informações existentes a respeito do capitão Pike – diz Seul-gi. – Não há mais registros a seu respeito desde a Data Estelar 3012.3. Ele foi dado como desaparecido desde então.

 

- Desaparecido sob que circunstâncias, Seul-gi? – questionou Dan.

 

- Não tive acesso a essa informação. O Comando da Frota Estelar a classificou como confidencial.

 

- Tem mais uma coisa nessa história que não se encaixa, Dan – comenta Jon – Eu pesquisei o prontuário do capitão Christopher Pike nos arquivos médicos da Frota. E consta que ele sofreu um acidente seríssimo com radiação delta ao salvar alguns cadetes de uma nave defeituosa de classe J. Esse acidente deixou o capitão Pike em um estado quase totalmente vegetativo, confinado a uma cadeira de rodas pro resto da vida! Como alguém em um estado desse pode desaparecer sem deixar qualquer rastro? E ainda: como ele pode aparecer na ponte da Frontier como se não tivesse sofrido um arranhão sequer?

 

- Faz sentido, Jon – responde o capitão – Pelo visto, o desaparecimento do capitão Pike é um grande mistério...

 

- Eu também não entendo uma coisa, capitão – Andros entra na discussão – O sujeito disse que James Kirk e a Enterprise o deixaram em Talos IV. Mas por que a Enterprise o levaria até lá? Se isso for verdade, então, de acordo com a Ordem Geral VII, o almirante Kirk deveria estar morto há muito tempo, já que ele devia ser o capitão da Enterprise na ocasião.

 

- Isso é verdade – concordou Dan – Mas dentre tantos planetas na galáxia, porque o capitão Pike iria querer que eu fosse justo pra Talos IV?

 

- Pode ser uma armadilha, capitão – suspeitou Seul-gi – Alguém pode estar se passando pelo capitão Pike para tentar ludibria-lo. De qualquer forma, uma eventual ida a Talos IV não é recomendável, levando-se em conta a Ordem Geral VII.

 

- Mas quem poderia ser, comandante? – perguntou Oko – Os sensores não captaram nenhum tipo de anormalidade ou sinal de proximidade de outras naves quando os fenômenos envolvendo o capitão Pike aconteceram. Se houvesse, por exemplo, uma nave camuflada dos Klingons, ou mesmo dos romulanos, teríamos como saber.

 

- Teria que ser alguém com uma imensa capacidade telepática – afirmou T’Kara – Nem os Klingons nem os romulanos possuem tal capacidade. Por outro lado, a figura que apareceu na ponte não deu qualquer vestígio de que estava fingindo ser Christopher Pike. Ao menos não que eu tenha notado...

 

- Cáspita!!! – esbravejou Dan, batendo na mesa mais uma vez – Estamos andando em círculos! Não chegaremos a lugar algum desse jeito!

 

O capitão Nardelli estava cada vez mais irritado. Não conseguia pensar com clareza – toda a pressão gerada por aquele impasse estava testando seus nervos.
Os demais oficiais olham espantados para sua reação – à exceção, claro, de T’Kara.

 

- Sinto muito, senhores... – Dan suspirou e levou uma das mãos à cabeça – Talvez eu precise de mais tempo pra pensar. Eu os avisarei em caso de necessidade. Dispensados.

 

Sem entender nada, todos se retiram. A preocupação nos rostos dos oficiais é visível – especialmente de Jon e de Seul-gi, os dois mais próximos do capitão.
A única que permanece na sala é T’Kara.

 

- Conselheira? Tem algo a dizer? – questiona Nardelli.

 

- Posso ver claramente que seus pensamentos estão turbulentos, capitão – responde a vulcana – Está dividido entre a vida do capitão Pike e a Ordem Geral VII.

 

- Há mais em jogo aqui do que se pensa, T’Kara. Não se trata simplesmente do cumprimento ou não da Ordem Geral VII. Qualquer um na Frota Estelar sabe o que Christopher Pike representa. Mas nunca imaginei que um dia a minha vida e a dele seriam colocadas na balança...

 

Com sua expressão fria e séria, T’Kara fixa seu olhar no capitão.

 

- Mas não posso deixar de levar em conta as suspeitas dos outros... e se alguém estiver tentando nos enganar? Quem pode garantir que esse indivíduo... esse ser que apareceu diante de todos... é MESMO Christopher Pike?!

 

- Sentimentos e emoções são coisas que não podem ser simuladas, capitão – diz T’Kara – A agonia e o desespero daquele homem eram bastante claros para mim. Se fosse algum tipo de simulação ou truque, eu saberia dizer.

 

Dan emudeceu. E arregalou os olhos.

 

- Isto é apenas uma especulação da minha parte – continuou a conselheira – Mas é provável que existam seres no universo que possuem uma capacidade mental totalmente além de nossa compreensão. E esses seres estão em poder do capitão Christopher Pike.

 

- Você acha mesmo? – pergunta o capitão, franzindo a testa.

 

- É a única alternativa lógica que consegui encontrar – T’Kara não muda o tom.

 

Dan se aproxima de uma janela que fica próxima da mesa de reuniões. E olha para as estrelas do lado de fora.

 

- Pelo jeito só há um meio de descobrir a verdade... – afirmou ele, diante da janela.

 

***

 

“Diário pessoal – Capitão Daniele Nardelli
Data Estelar: 7533.2
Esta é a decisão mais difícil que já tomei em toda a minha carreira na Frota Estelar – e se as coisas correrem conforme estou prevendo, certamente esta será minha última missão como capitão da
USS Frontier.
Contudo, não havia outra alternativa a se seguir.

 

Estou ciente das consequências que meus atos irão trazer. Apesar disso, estou preparado para lidar com elas.”

 

Dia seguinte. O capitão Nardelli está em um turbo-elevador dirigindo-se à ponte de comando da Frontier, com uma postura totalmente incomum: estava extremamente sério e compenetrado. A tensão e o nervosismo em seu rosto eram visíveis.
Ele chega à ponte, e é anunciado imediatamente por Stanic:

 

- Capitão na ponte!

 

Dan não diz uma palavra. Apenas senta-se em sua cadeira, com a expressão no rosto completamente fechada. Tal atitude provoca estranheza e espanto por parte dos oficiais – especialmente de Seul-gi, que olha de sua plataforma sem entender absolutamente nada.

 

- Srta. Martínez, marque o curso para as coordenadas que aparecerão em seu painel – ordena ele.

 

A voz do capitão também sai em um tom diferente, bastante áspero – não é o seu usual.

 

- Sim, senhor – responde a alferes, sem questionar.


Até que a morena percebe que há algo errado. De imediato, ela reconhece as coordenadas passadas remotamente pelo capitão, e tenta questioná-lo:

 

- Mas, capitão... Essas coordenadas irão nos levar para...

 

- Isto não é hora para discussão, alferes! – interrompeu Dan, subindo o tom – Eu sei muito bem pra onde essas coordenadas nos levam. Agora marque o curso e não faça mais perguntas. É uma ordem!

 

Martínez empalideceu.

 

- Hã... s-sim, senhor... – respondeu ela, quase trêmula.

 

Rapidamente, ela marca o curso. Dan se volta para Cortez:

 

- Sr. Cortez, desative o transponder da nave. Não quero que ninguém nos perturbe até chegarmos ao nosso destino. Acione dobra 7 ao meu sinal.

 

- Sim, senhor – o espanhol resolve ser prudente e acata a ordem.


Ninguém na ponte parece entender as atitudes do capitão. Visivelmente, ele estava alterado de alguma maneira – alguma coisa lhe perturbava a mente.
Ainda assim, ele dispara mais uma ordem, desta vez para o tenente Stanic:

 

- Abra um canal para a toda a nave, sr. Stanic.

 

Stanic aciona alguns dígitos em seu painel.

 

- Canal aberto, senhor – diz ele.

 

E Dan começa a falar para toda a Frontier:

 

- Aqui é o capitão. A partir deste momento, seguiremos para um local onde nenhuma nave da Frota deveria estar. No entanto, as circunstâncias são extremamente complexas, e não havia nenhuma outra alternativa. Deste momento em diante, assumirei total responsabilidade pelo que vier a acontecer, seja comigo ou com a nave.

 

De seu painel, Seul-gi fica paralisada, da mesma forma que todos os outros oficiais da ponte, e também os outros tripulantes espalhados pelos decks da Frontier.
Na enfermaria, o doutor Lester fica incrédulo:

 

- Oh, céus... Ele não pode estar falando sério...

 

- Isso é tudo. Desligo – conclui Dan.

 

O capitão encerra a comunicação a partir de sua cadeira. E novamente volta sua atenção para Cortez:

 

- À frente, em dobra 7, sr. Cortez.

 

- Dobra 7, senhor.

 

Cortez aciona o painel do leme, e a Frontier entra em dobra.


Seul-gi nitidamente percebe que há algo estranho no comportamento de Dan. Todo aquele modo ríspido de agir não era o normal dele – e ela o conhecia bem para saber disso.

 

- Meu Deus! – pensou ela – Será que ele...?


Mesmo com o risco de um conflito, ela resolve confrontá-lo:

 

- Capitão... Isto não é o que eu estou pensando, é?

 

Nardelli lança um olhar afiado para a coreana. E responde de forma atravessada:

 

- Pretende questionar minhas ordens, srta. Hong?

 

Seul-gi se espanta. De fato, Dan estava diferente de algum jeito. Mesmo assim, ela resolve não se intimidar:

 

- Com todo o respeito, capitão, mas é evidente que há alguma coisa errada aqui. Por que desligar o transponder da nave? Para onde exatamente estamos indo?

 

Os olhos da primeira-oficial começam a ficar arregalados, e ela sente um frio na espinha.

 

- Não estamos indo para aquele planeta... não é?! – pergunta ela.

 

Dan franze a testa. E passa a encarar Hong com a expressão ainda mais fechada.

 

- Ao meu gabinete, srta. Hong – diz ele.

 

Sob os olhares atônitos dos outros oficiais, o capitão se levanta de sua cadeira e dirige-se ao seu gabinete, acompanhado de Seul-gi.

***

 

A porta automática do gabinete do capitão se abre, e Dan e Seul-gi entram. A primeira coisa que o capitão faz é ir até seu replicador:

 

- Café expresso. Quente, sem açúcar.

 

Uma xícara de café se materializa, e Dan a pega. Sem demonstrar reações, ele se senta em sua mesa e toma um gole. Seul-gi parece indignada.

 

- Eu não acredito nisso! – diz ela, visivelmente tensa – Como você pode pensar em café numa hora como essa?!

 

- Como assim? – a voz e o olhar de Dan saem num tom atravessado.

 

- “Como assim”?!? – a coreana demonstra ainda mais espanto – Por Deus, Dan... Por acaso você tem noção do que está fazendo?

 

Nardelli não diz uma palavra. Finge ignorar as palavras de Seul-gi e desvia o olhar para sua mesa, enquanto toma mais um gole de café.

 

- Nós estamos indo a Talos IV, não é? – pergunta Hong – Do contrário, você não agiria do jeito que agiu na ponte há pouco...

 

Um silêncio se forma na sala. Dan se levanta e encara Seul-gi com um olhar de fúria, que deixa a primeira-oficial paralisada de pavor.

 

- E se estivermos mesmo indo pra lá? – pergunta ele – O que pretende fazer a respeito?

 

O horror e a consternação ficam claros no rosto da comandante Hong.

 

- Meu Deus, Dan... – diz ela, com uma voz quase de choro – Você só pode estar louco! O que você pretende fazer? Quer se matar?!

 

Nardelli permanece em silêncio. A expressão no rosto do capitão não muda.

 

- Talos IV é território proibido! – lembrou Seul-gi – A Ordem Geral VII é clara, qualquer um que for até aquele planeta será morto! Por acaso é isso que você quer, capitão? Você quer morrer?!

 

- Pro inferno com a Ordem Geral VII!!! – Dan resolve retrucar, e aumenta o tom – Há muito mais em jogo aqui do que você imagina! Que outra alternativa eu tenho?

 

Aquela resposta atinge Seul-gi como uma flechada no peito.

 

- O que você quer dizer? – perguntou ela.

 

- Estou falando de Christopher Pike! Ele foi um dos maiores capitães da nossa história, e dedicou toda sua vida à Frota Estelar! E agora ele está agonizando em um planeta esquecido, abandonado por aqueles a quem ele deu a vida! O que é a minha vida perto de tudo o que ele significa?

 

- Você não pode estar falando sério! – Seul-gi não dá o braço a torcer – Nós nem sequer sabemos se aquele homem que apareceu do nada na ponte é realmente o capitão Pike! E mesmo se fosse, nós não poderíamos fazer nada!

 

- E iríamos simplesmente deixa-lo morrer?! Isso não é o modo de agir da Frota Estelar...

 

O clima fica ainda mais tenso. Os olhos de Seul-gi se arregalam diante da determinação do capitão.

 

- Pense bem, Seul-gi... Não é a primeira vez dentro dessa nave que alguém arrisca a própria vida pra salvar a vida de alguém... A Zona Neutra é um território tão proibido quanto Talos IV, no entanto você foi até lá pra confrontar o Nero quando estive nas garras dele! Por que você acha que fez isso?

 

- Aquilo era diferente, Dan! Eu queria muito te salvar naquela ocasião, mas não era simplesmente porque você é meu capitão ou meu colega de Frota Estelar! Eu arrisquei tudo daquela vez simplesmente porque eu amo você! E eu não quero que você se machuque!

 

Os olhos da coreana começam a ficar marejados. Mas Dan não arreda o pé:

 

- Eu entendo perfeitamente os seus sentimentos... Eu também te amo e me importo demais com você. Mas isso aqui não é nem um pouco diferente... não é apenas questão de ser ou não o capitão Pike, ou de ir ou não a Talos IV. Em todo caso, é uma VIDA que está em jogo! Nossa função como oficiais da Frota não é apenas pesquisar novas vidas... é também zelar por elas! E não vai ser uma lei estúpida que vai me impedir de salvar uma vida, não importa de quem seja!

 

A comandante Hong fica completamente consternada ao ouvir estas palavras. Dan se aproxima dela e a encara de forma bastante séria:

 

- Eu não me importo de morrer... se eu conseguir salvar uma vida, me darei por satisfeito. Será que você consegue entender isso, imediata?!

 

Seul-gi fica paralisada e trêmula. Seus olhos ficam completamente encharcados de lágrimas.
Uma situação como aquela jamais havia passado pela cabeça da primeira-oficial da Frontier – até conhecer Dan na Academia da Frota, Seul-gi Hong jamais havia experimentado o amor; agora, meses depois dos dois assumirem seus sentimentos um pelo outro, ela estava prestes a ver o seu amado partir para um sacrifício que talvez não tenha volta.

 

Os dois permanecem em silêncio. Enquanto Dan permanece firme e impassível, Seul-gi se segura para não chorar de desespero.
Eis que o silêncio é interrompido pelo sinal sonoro da porta do gabinete.

 

- Entre! – diz Dan, com o rosto tenso e a voz totalmente atravessada.

 

A porta se abre e revela um enfurecido doutor Lester, acompanhado da doutora McKinnon que, em vão, tentava contê-lo e acalmá-lo de forma desesperada.

 

- Calma, Jon, não faz isso! – implorou ela, enquanto tentava segurá-lo pelo braço – Você só vai piorar as coisas desse jeito, pelo amor de Deus, se acalme!

 

- Me larga, Christine! – grita o inglês, enquanto se desvencilha e empurra a nova-iorquina para o lado, com força.

 

Eis que Lester vai com tudo para cima do capitão.

 

- Seu desgraçado! – berra ele, enquanto acerta um cruzado de direita no rosto de Dan.

 

Nardelli se desequilibra e se apoia em cima de sua mesa. Em seguida, Jon o agarra e segura pelo colarinho.

 

- Maldição, Dan!!! – grita o doutor, rangendo os dentes – O que diabos você tem na cabeça? Você quer se matar? Você quer nos matar?!

 

Dan não diz uma palavra. Apenas encara Jon com a mesma fúria. O médico continuou:

 

- Você está levando todos nós para a morte certa, seu grande imbecil! Por acaso você tem alguma noção disso?!

 

- Não adianta tentar convencê-lo, doutor! – intervém Seul-gi – Ele já tomou a decisão dele...

 

O capitão se livra das mãos de Lester de forma abrupta. Desesperada, Christine leva as mãos ao rosto – ela parece não acreditar no que acabou de ver.
Lester olha para Seul-gi e percebe as lágrimas nos olhos dela. E novamente afronta o capitão, com a voz carregada de raiva:

 

- Olha o que você fez, Dan! Olha o que você está fazendo...

 

- Chega! – a voz de Dan ressoa como um trovão pela sala – Você não está em condições de exigir nada, doutor! Guardas!!!

 

Rapidamente, dois homens de uniforme vermelho entram no gabinete. E se colocam próximos ao doutor Lester, um de cada lado.

 

- Está confinado aos seus aposentos até segunda ordem, doutor Lester! – diz o capitão, em um tom extremamente seco – Doutora McKinnon, você assume interinamente a enfermaria.

 

Christine e Seul-gi permanecem atônitas, enquanto os uniformes vermelhos seguram Jon pelos braços. A expressão no rosto do britânico muda, da raiva para a consternação.

 

- Podem leva-lo – ordenou Dan.

 

Sob todo este clima de tensão, os guardas saem do gabinete do capitão Nardelli, conduzindo o doutor Lester aos seus aposentos.

 

***

 

Pouco mais de uma hora e meia depois, a Frontier, enfim, se aproxima do misterioso e proibido planeta Talos IV.

 

- Estamos nos aproximando, senhor – avisa a alferes Martínez – Distância: 200 mil quilômetros.

 

- Estabelecendo contato visual – informa Cortez.

 

- Na tela! – ordenou Dan, de sua cadeira.

 

Cortez aciona alguns dígitos em seu painel, e a imagem de Talos IV surge na tela principal da nave.
O capitão Nardelli a contempla, com um misto de espanto e terror.

 

- Talos IV – diz ele, com a voz quase inaudível – O planeta proibido. Nunca imaginei que um dia estaria frente a frente com ele...

 

Dan sabia que, uma vez que pisar naquele planeta, sua vida estará por um fio. Mas, àquela altura, já era tarde para voltar atrás.

 

- Órbita padrão, sr. Cortez – ordena ele.

 

- Sim, senhor.

 

A Frontier estabelece distância de órbita padrão em relação ao planeta. Nardelli se levanta de sua cadeira e suspira fundo.

 

- Já fizemos muito de chegar até aqui – a voz do capitão sai em um tom completamente melancólico – Não pretendo envolver mais ninguém nisto... por isso irei sozinho à superfície do planeta. Sr. Andros, prepare a sala de transporte.

 

- Sim, senhor! – mesmo estranhando a atitude do capitão, o romulano acata sua ordem sem hesitar.

 

- Capitão! – alguém resolve intervir de forma incisiva. É ninguém menos que Seul-gi.

 

Imediatamente, Dan volta seu olhar para a coreana. Ela, por sua vez, o encara com firmeza no olhar.

 

- Como primeira-oficial desta nave, eu respeitosamente devo discordar – continuou ela – Mesmo em uma área restrita como esta, os protocolos devem ser observados. Um capitão de nave estelar não deve descer sozinho à superfície de um planeta...

 

A expressão no rosto da comandante Hong começa a mudar. Ela assume um olhar quase maternal.

 

- Eu vou com você – diz ela.

 

- Já disse que não quero envolver mais ninguém, srta. Hong! – retrucou Dan, de forma seca – Não há necessidade de você fazer isto. Você permanecerá a bordo e irá assumir o comando. É uma ordem!

 

Mesmo diante da teimosia do capitão, Seul-gi não arreda o pé.

 

- Podemos falar em particular? – pergunta ela, retomando a postura firme.

 

Dan conhecia Seul-gi muito bem, e vice-versa. Um sabia o que o outro pensava. Ambos eram muito determinados. Mas, mesmo quando falavam entre si como oficiais da Frota Estelar no cumprimento do dever, tinham o cuidado de manter certas discussões longe dos demais oficiais.
O capitão sabia que aquela seria mais uma discussão difícil – desde que ele decidiu ir a Talos IV atrás do ex-capitão da Enterprise Christopher Pike, a sua relação com a comandante Hong tornou-se conturbada. E isto também o estava desgastando.
Ele não queria tornar as coisas piores do que já estavam – então, resolveu ceder.

 

O capitão não disse uma palavra. Apenas assentiu com a cabeça e se encaminhou ao gabinete, seguido de perto por Seul-gi.

 

 

Os dois passam pela porta automática e entram. E a discussão começa.

 

- Por que você precisa complicar as coisas, Dan? – questiona Seul-gi, franzindo a testa.

 

- Onde você quer chegar? – rebate o capitão.

 

- Pelo amor de Deus, Dan! – o desespero na voz da coreana é visível – Pra quê agir como se estivesse carregando o peso do quadrante inteiro nas costas?! Você não precisa fazer isso sozinho!

 

- E o que você quer que eu faça? – Nardelli sobe o tom – Já estou com a corda no pescoço só de estar em órbita deste planeta! Só o meu sacrifício já basta, não preciso levar ninguém comigo pra cova! Isso sem falar do capitão Pike, que a esta altura, já pode estar até morto!

 

- Não acha que está sendo egoísta demais, capitão? Por acaso a patente já lhe subiu à cabeça?!

 

Estas palavras de Seul-gi desestabilizaram Dan. Ele fica petrificado, com o olhar fixo na primeira-oficial.

 

- Você não chegou até aqui sozinho! – continuou ela – Você não recebeu o comando desta nave por acaso! A almirante Burnham e o Comando da Frota confiaram em você desde o princípio! Por que você acha que o doutor e os outros... e até mesmo eu estou aqui?! Por que você acha que o doutor entrou aqui enlouquecido de raiva daquele jeito?

 

Nardelli estremeceu. Hong ainda tinha mais a dizer:

 

- Todos nesta nave se tornaram leais a você. Todos aqui se preocupam com você! Você ganhou o respeito e a confiança de todos na Frontier... e aposto que qualquer um aqui dentro se sacrificaria por você, do mesmo jeito que você está se sacrificando pelo capitão Pike! Sem falar de mim...

 

Com lágrimas nos olhos, Seul-gi segura Dan pelos braços, apertando-os com força.

 

- Você não está sozinho, Dan... e nunca vai estar! Eu não me importo de morrer... mas eu não vou aguentar se eu te perder desse jeito! Por favor, me leve com você... por favor...

 

Ela apoia seu rosto no ombro de Dan e começa a chorar, inconsolável. Completamente desconcertado, ele a toma em seus braços – sabe que suas ações trarão consequências, e certamente, Seul-gi seria aquela que mais sofreria com sua perda.
Por alguns instantes, os dois permanecem abraçados. Ele a pressiona com força contra seu peito, enquanto ela chora copiosamente.
Assim que ela se acalma um pouco, ele a olha nos olhos com uma expressão doce e carinhosa. E começa a acariciar seu rosto.

 

- Ainda me lembro da primeira vez que te vi na Academia – diz Dan, com a voz mais suave – Você parecia tão perdida e frágil... e olhe só pra você agora! Você se tornou a pessoa mais forte e determinada que eu conheço...

 

- E você se tornou a pessoa mais importante da minha vida! – respondeu Seul-gi, com a voz ainda meio embargada – Já devo ter te dito isso antes, não é?

 

Os dois se entreolham por alguns segundos. E sorriem um para o outro.

 

- Arriscaria tudo por mim, Seul-gi? – pergunta ele.

 

- Você ainda duvida disso? – responde ela.

 

***

 

Cerca de quinze minutos depois, um feixe de teletransporte da Frontier coloca o capitão Nardelli e a comandante Hong na superfície de Talos IV.
Mesmo este sendo um planeta de classe M, sua superfície é desolada, formada quase inteiramente por rochas.
Percebendo isto, os dois começam a estranhar as circunstâncias.

 

- Que lugar estranho – observa Seul-gi – Nem de longe isto aqui parece um lugar capaz de abrigar formas de vida. Será mesmo que o capitão Christopher Pike está aqui?

 

- Também me pergunto se ele conseguiria sobreviver em um lugar como esse nas condições dele – diz Dan – Se levarmos em conta as informações levantadas pelo doutor Lester, isso seria praticamente impossível.

 

O capitão fica inconformado. Ao menos em princípio, sua empreitada ao planeta proibido da Federação parecia ter sido em vão.

 

- É... Pelo jeito fiz mesmo uma besteira enorme vindo até aqui... – suspirou ele – Porca miséria...

 

De repente, Seul-gi começa a ouvir um som estranho. Parecia o som de uma única nota musical de um címbalo ressoando pelo ar, de forma extremamente suave.

 

- De onde vem esse som? – questionou ela.

 

- Também estou ouvindo! – relatou Dan.

 

O capitão e Seul-gi Hong resolvem seguir a estranha melodia uníssona. Caminham por cerca de duzentos metros entre as rochas de Talos IV, até que encontram a fonte do tal som.
Para a surpresa dos dois, é algo parecido com uma planta grande, com folhas em um tom muito claro de azul, que trepidava de forma constante; era essa trepidação que gerava o som.
Ao verem a planta, Dan e Seul-gi ficam maravilhados. E sorriem, esquecendo por um instante do peso daquele momento.





- Que lindo! – encanta-se a coreana – Então o som vinha dessa planta?!

 

Nardelli aproxima-se um pouco da planta, para olhá-la mais de perto. E rodeia-a por alguns segundos.

 

- Fascinante! – exclamou ele.

 

Os dois riem um para o outro, timidamente. Até que são surpreendidos por uma voz feminina que surge pelas costas:

 

- Sejam bem-vindos. Presumo que você seja o capitão Nardelli.

 

Imediatamente, Seul-gi e Dan olham para trás. E dão de cara com uma bela e esbelta mulher loira, de olhos azuis claros e cabelos curtos, quase na altura dos ombros, trajando um vestido azul-claro que ia até a altura das coxas.
Assim que batem os olhos nela, os dois parecem não acreditar no que veem.

 

- Sou eu mesmo – Dan toma a palavra – E você é?!

 

Sem muitas delongas, a loira se apresenta:

 

- Meu nome é Vina. Eu vivo neste planeta há muito tempo... É um prazer conhece-los.

 

- Vina...

 

Dan parece hipnotizado. Sentia que havia algo de incomum naquela loira – isso sem contar o fato de que ela possuía uma beleza estonteante, o que deixou o capitão da Frontier um tanto quanto desconcertado.
Olhando a cena, Seul-gi franze a testa, e apenas com um olhar, faz Dan voltar a si. Sem graça, ele pigarreou por um instante e tratou de fazer as honras:

 

- Esta é minha primeira-oficial, comandante Seul-gi Hong.

 

- Senhorita... – Hong tenta manter a cordialidade.

 

A primeira-oficial também estranha um pouco a figura da moça. Olha-a de alto a baixo por alguns segundos, e resolve questionar:

 

- Por acaso você é da Terra? Como veio parar neste planeta?

 

Eis que o semblante de Vina começa a ser tomado de aflição.



- É uma longa história, comandante Hong – responde a loira, com melancolia na voz – Adoraria poder responder aos seus questionamentos, mas receio não termos muito tempo...

 

Dan e Seul-gi emudeceram. Não compreendem de cara a consternação de Vina, mas sua justificativa logo trata de lhes refrescar a memória:

 

- O capitão Christopher Pike os aguarda. Me acompanhem, por favor.



Dan faz um gesto de afirmação com a cabeça. E ele e a comandante Hong seguem Vina pelas rochas da superfície de Talos IV.

 

***

 

Vina conduz Dan e Seul-gi até uma caverna escondida a alguns metros abaixo da superfície do planeta.
Não havia muita iluminação no local; por esse motivo, dava para se enxergar poucas coisas além das paredes rochosas.
Após descerem por uma espécie de elevador, Dan e Seul-gi são guiados dentro da caverna por Vina.

 

- Por aqui, por favor – diz ela.

 

Os dois oficiais da Frontier seguem a loira por alguns corredores, até que Vina para e gesticula para Dan e Seul-gi fazerem o mesmo.

 

- Ele está aqui – diz Vina.

 

Dan dá alguns passos à frente. Diante dele, parece não haver nada além da escuridão profunda.
Eis que uma figura surge em meio às sombras, caminhando em sua direção: um homem de cabelos grisalhos e o uniforme amarelo utilizado há muito tempo pela Frota Estelar.
Ao bater os olhos no homem, o capitão Nardelli, enfim, sentiu que não havia quaisquer dúvidas a respeito de sua identidade. Era, de fato, o capitão Christopher Pike.

 

O ex-capitão da Enterprise lhe dirige a palavra:

 

- Enfim você veio, capitão Nardelli. Devo lhe dizer que estou muito feliz em finalmente encontra-lo.

 

- Capitão Pike – responde Dan, de forma respeitosa – É uma grande honra conhece-lo pessoalmente. Ouço falar do senhor desde meus tempos de Academia.

 

Pike estende sua mão para Dan, para cumprimenta-lo. E Dan retribui o gesto, sob o olhar atônito de Seul-gi.

 

- Mas como isso é possível? – exclamou a coreana, em voz baixa.

 

Após cumprimentar o capitão Pike, Dan decide começar a questioná-lo:

 

- Mas... como o senhor veio parar neste planeta?! A Enterprise trouxe MESMO o senhor até aqui?

 

- Eu já estive neste planeta uma vez, capitão Nardelli – revelou Pike – Há muito tempo atrás. Foi na época em que eu ainda comandava a Enterprise.

 

- Está falando sério?! – Dan arregalou os olhos.

 

Pike assentiu.

 

- E a mesma Enterprise me trouxe de volta tempos depois. Graças ao comandante Spock. Ele servia sob meu comando na época em que estive aqui pela primeira vez, e me trouxe de volta em um gesto de pura lealdade. Sou eternamente grato a ele.

 

Nardelli parece não acreditar em nada do que está ouvindo.

 

- Eu... não sabia de nada disso, senhor – diz o capitão da Frontier.

 

Quem se demonstrava ainda mais espantada com tudo era Seul-gi Hong. Ela não conseguia desgrudar os olhos de Christopher Pike em nenhum instante; o olhava de alto a baixo, como se estivesse olhando para um fantasma.
Pike logo volta seu olhar para ela.

 

- Algum problema, comandante Hong? – perguntou.



Seul-gi é pega de surpresa.

 

- Capitão Pike! – responde ela, meio sem graça – Bem, é que... nós soubemos do seu acidente durante a inspeção da nave de cadetes, e das consequências que este acidente impôs ao senhor. Como foi que o senhor conseguiu recobrar inteiramente sua integridade física, como se nada houvesse acontecido?!

 

Um silêncio repentino se forma. Todos olham paralisados uns para os outros por alguns segundos. Até que uma voz feminina envelhecida é ouvida de dentro das sombras, respondendo à pergunta de Seul-gi:

 

- Isto tudo é graças às nossas habilidades, comandante.

 

Subitamente, mais três figuras entram em cena, para a surpresa de Dan e de Seul-gi. Três seres humanoides estranhos, com as cabeças maiores do que o normal, repletas de veias pulsantes, trajados com longas túnicas de cor azul clara. Eram nada mais nada menos que os habitantes do planeta Talos IV.
Um desses seres, que estava dois passos à frente dos outros dois, usava em seu peito um grande medalhão dourado circular, com uma pedra azul brilhante, muito semelhante a uma safira, ao centro. Ele era o líder daquele lugar – ou melhor: era o guardião.


Os talosianos

- Sejam bem-vindos ao nosso mundo – diz o guardião – Capitão Nardelli, comandante Hong.

 

A forma com a qual esses seres se comunicavam também era peculiar: falavam não usando a boca como outros humanoides, mas comunicando-se diretamente com a mente, através de telepatia – o que deixa Dan e Seul-gi ainda mais espantados.

 

- Inacreditável, Dan! – exclamou Hong – Está falando diretamente com a minha mente!

 

- Eles são telepatas – respondeu Dan – Queria que T’Kara estivesse aqui pra ver isso! Ela acertou em cheio...

 

Eis que o guardião talosiano toma uma atitude surpreendente.

 

- Podemos falar da forma tradicional se assim preferir, comandante – diz ele, desta vez em voz alta.

 

Tanto Dan quanto Seul-gi ficaram boquiabertos, completamente sem reação, sob os olhares atentos de Pike, Vina e dos outros dois talosianos.

 

- Nós, talosianos, desenvolvemos nossas habilidades mentais ao longo dos séculos, e acabamos adquirindo capacidades extraordinárias – explica o guardião – Nós nos tornamos capazes de ler mentes, e também de criar e manipular ilusões conforme a nossa vontade.

 

- Ilusões?! – questionou Dan.

 

O guardião fez um gesto de afirmação com a cabeça.

 

- Foi assim que mantivemos o capitão Christopher Pike saudável e confortável ao longo dos últimos nove anos – continuou ele – Ou ao menos... era a impressão que queríamos que ele tivesse.

 

Dan e Seul-gi voltam seus olhares para o capitão Pike. E veem o homem saudável de uniforme amarelo se transformar, como em um passe de mágica, em um homem completamente debilitado, preso a uma sofisticada cadeira de rodas, com o rosto desfigurado e um olhar completamente vazio.
Aquela era a sua verdadeira forma – o acidente com a nave de cadetes o deixou em um estado vegetativo, incapaz de mover um músculo sequer.
Por um instante, os talosianos pararam de usar seu poder de controlar ilusões, para que Nardelli e Hong enxergassem a verdade.



 

- Meu Deus... – exclamou Dan, entristecido – Então essa é a verdadeira forma dele.

 

- Foi a radiação delta – comentou Seul-gi – Aprendi algo sobre seus efeitos nocivos na Academia. É algo mais devastador do que pensei.

 

O capitão Nardelli não consegue desgrudar seus olhos da figura do capitão Pike. Igualmente consternada, Seul-gi coloca uma de suas mãos no ombro de Dan.

 

- O capitão Pike deve ter sofrido muito – continuou ela – E eu duvidei completamente dele.

 

Lentamente, Dan se vira para Seul-gi. E a olha diretamente nos olhos.

 

- Você estava certo, Dan. Nós tínhamos que vir até este lugar.

 

Dan não diz uma palavra. Apenas assente com a cabeça.

 

- Foi assim que eles me mantiveram também... – a voz de Vina sai mais rouca do que o usual.

 

Seul-gi volta seu olhar para ela, e imediatamente leva as mãos à boca, quase soltando um grito.
Não foi apenas o capitão Pike que mudou completamente de forma – o mesmo havia acontecido com Vina.
A bela e elegante garota loira deu lugar a uma mulher totalmente diferente, com o rosto envelhecido e repleto de cicatrizes, e o corpo inteiramente deformado.
Ao bater os olhos nela, Dan também custou a acreditar. Por sua vez, Vina tratou de resumir sua história:

 

- Assim como vocês e o capitão Pike, eu sou uma humana da Terra. Minha nave caiu neste planeta há algumas décadas atrás... e eu fui a única sobrevivente. Os talosianos me resgataram e cuidaram dos meus ferimentos... mas eles não tinham a menor noção de como era um ser humano. Por isso fiquei desse jeito, e tenho vivido aqui desde então.

 

- Madonna mia... – exclamou Dan – Isso tudo é difícil de acreditar...

 

- Isso não é tudo, capitão Nardelli – intervém o guardião – Também foi graças à nossa ajuda que o capitão Christopher Pike conseguiu contatar você e a sua nave. Ele queria de qualquer maneira que você estivesse aqui quando a hora dele chegasse.

 

- Foi por isso que ele apareceu na Frontier sem ser detectado pelos sensores! – concluiu Hong – Agora tudo está fazendo sentido!

 

Dan arregalou os olhos. E se aproximou do debilitado Pike.

 

- Isso tudo é verdade, capitão Pike? – perguntou ele – Pode confirmar o que ele está dizendo?

 

Por motivos óbvios, Pike não consegue dizer uma palavra. A única reação vinda dele é o rápido acender de uma luz amarela localizada na cadeira de rodas, na altura de seu peito, que pisca uma única vez por alguns poucos segundos, emitindo o som de um bipe.

 

- Nesta forma ele só consegue se comunicar através desta lâmpada, capitão – explica o guardião – Ainda assim, ele só é capaz de responder algumas perguntas, simplesmente dizendo “sim” ou “não”. Um único piscar da lâmpada significa “sim”.

 

Após ouvir as explicações do guardião talosiano, a consternação de Dan aumenta. Seus olhos ficam ainda mais vidrados na imagem desolada do enfermo capitão Pike.

 

- Por isso Spock o trouxe até aqui – diz ele – Graças ao poder que vocês possuem de controlar ilusões, o capitão Pike poderia viver livre das limitações de seu corpo físico.
Spock devia saber disso... e deve ter feito um sacrifício e tanto para conduzi-lo a este planeta.

 

- Exatamente, capitão Nardelli – responde o guardião – E é dessa forma que o capitão Pike tem vivido nos últimos nove anos.

 

Pike corrobora as palavras do guardião. A lâmpada em sua cadeira de rodas acende mais uma vez, em um único piscar.

 

- No entanto, graças às sequelas deixadas pelo acidente, seu corpo físico finalmente chegou ao seu limite – continuou o talosiano – Mesmo os nossos tratamentos têm se tornado ineficazes com o passar dos anos. Nos últimos dias, a condição dele piorou muito, e temo que ele não tenha muito tempo de vida. É por isso que você está aqui agora, capitão.

 

- Mas eu não entendo... – diz Dan, reticente – Por que ele escolheu justamente a mim?

 

O guardião reativa o poder de ilusão talosiano. Pike e Vina retornam a suas formas saudáveis.

 

- Eu venho o observando há tempos, capitão Nardelli – revelou Pike – Você tem desenvolvido características que apenas os grandes oficiais da Frota Estelar possuem: coragem, tenacidade, audácia. Tanto você quanto sua tripulação têm evoluído bastante desde que começaram a viajar pelo espaço.

 

- Eu fico lisonjeado, capitão... – responde Nardelli, meio sem graça – Temos feito o melhor possível.

 

- Sei disso. Por isso quis que você viesse... Você é de longe o mais qualificado... para cumprir esta tarefa...

 

Com o rosto aflito, Pike leva uma das mãos à cabeça. E cambaleia por um instante.
De imediato, Dan o acode, e o segura pelos braços.

 

- Capitão Pike! – gritou Dan – Capitão Pike, está tudo bem?

 

Ofegante, Pike faz um gesto de afirmação com a cabeça, para dizer que sim. O que, no entanto, não era verdade: o ex-capitão da Enterprise começou a sentir que estava perdendo suas forças. Seu corpo começou a ficar pesado; a qualquer momento, ele poderia perder a consciência. Imediatamente, Dan percebe sua condição, e começa a se desesperar.

 

- Capitão Pike! – Nardelli tenta chamar-lhe a atenção, chacoalhando-o – Chris, me diga... o que eu posso fazer por você?

 

Com certo esforço, o capitão Pike pega algo que estava no chão. É uma valise metálica lacrada, com o símbolo da Frota Estelar.
Assim que a pega, ele a segura com as duas mãos e a entrega nas mãos de Dan.

 

- Por favor, capitão Nardelli – a voz de Christopher Pike sai com certa dificuldade – Deve levar isto com você...

 

Pike ainda consegue fazer uma revelação, que pega o capitão Nardelli de surpresa: é o destinatário daquela misteriosa valise:

 

- Entregue isto... a James Kirk...

 

Dan e Seul-gi congelam. E ficam completamente sem reação.

 

- Ao almirante Kirk?! – exclamou Dan – Mas afinal, o que é isto? O que tem dentro dessa maleta, capitão?

 

- É o meu testamento... responde Pike, quase sem forças – Somente Jim Kirk poderá abri-la. Seu conteúdo é de total importância para a Frota Estelar. Por favor, capitão Nardelli, entregue-a, não importa o que aconteça...

 

Dan emudeceu. Não conseguiu fazer outra coisa, a não ser assentir com a cabeça. Não havia escolha para ele, a não ser aceitar a missão dada pelo capitão Pike.
No entanto, isso não era tudo.

 

- Há mais uma coisa que eu gostaria de lhe pedir, capitão... – diz Pike.

 

O enfraquecido capitão aproxima sua boca do ouvido de Dan, e lhe cochicha algo, sob os olhares de Seul-gi e dos outros.
No entanto, o único que consegue ouvir este misterioso pedido é Dan, que aceita sem hesitar.

 

- Claro... – os olhos do capitão da Frontier começam a marejar – Será uma honra...

 

Pike não consegue mais se manter em pé. Dan o ampara, e o segura firme para não cair.
Ao ver a cena, Seul-gi corre na direção dos dois.

 

- Capitão Pike! – grita ela, enquanto segura Pike por um dos braços – Aguente firme, por favor!

 

- Chris... por favor, resista! – implorou Dan.

 

Pike faz um sinal de negação com a cabeça. E mesmo muito abatido, sorri.

 

- Minha hora chegou, Dan... – diz ele – Por favor... diga ao Jim e ao Spock... que sou grato por tudo o que eles fizeram por mim...

 

Nardelli fica boquiaberto, e com os olhos arregalados e cheios d’água. Por sua vez, Christopher Pike segura os ombros de Dan com força, e o encara pela última vez.

 

- Obrigado, capitão Nardelli – diz ele, cada vez mais ofegante e fraco – Muito obrigado... por tudo...

 

O ex-capitão desfalece, e sua cabeça tomba no ombro de Dan. Seul-gi e Vina observam, com espanto absoluto.
De repente, a imagem do outrora capitão da Enterprise desaparece dos braços do capitão Nardelli, para a surpresa de todos; e a forma verdadeira de Christopher Pike, com o rosto deformado e preso à cadeira de rodas, reaparece.
Ele começa a agonizar na cadeira, enquanto a lâmpada na região do peito pisca incessantemente.
Até que ela se acende por completo por alguns segundos... até se apagar de vez. Quando isto acontece, a cabeça do capitão Pike pende para a frente.

 

Todos ficam mudos diante da cena. Cabe ao guardião de Talos IV transmitir a fatídica notícia.

 

- Enfim aconteceu – diz ele, em voz alta – O capitão Christopher Pike... está morto.

 

***

 

Um clima de comoção e consternação toma conta do ambiente dos subterrâneos de Talos IV.
Lágrimas escorrem dos olhos de Dan, e Seul-gi também não consegue mais se conter. A reação mais contundente, no entanto, é de Vina: desesperada, a loira corre em direção à cadeira de rodas de Pike e se joga em cima dela, chorando incessante e copiosamente.

 

- Não, Chris, não... – berrava ela – Não me deixe, por favor!!!

 

Vina estava inconsolável. E não era para menos: durante os últimos nove anos, ela tem sido uma companheira fiel do capitão Pike – desde a primeira vez que a Enterprise esteve em Talos IV, ela esteve às voltas com ele, e acabou por se apaixonar. Seus sonhos se transformariam em realidade quando Pike retornou definitivamente ao planeta.

Por sua vez, Dan abaixa a cabeça, com os olhos completamente cheios de lágrimas, enquanto aperta com força a alça da valise que Pike lhe entregara momentos antes de morrer.

 

- Cumprirei a tarefa que você me deixou, capitão Christopher Pike! – diz ele, chorando – Tenha certeza que darei minha vida por isso...

 

Seul-gi se aproxima, e segura Dan pelos ombros. Ele a abraça, enquanto ela chora de forma mais intensa.
Os dois permanecem abraçados por alguns minutos, sob os olhares dos talosianos, enquanto Vina se agarra à cadeira de Christopher Pike, agora sem vida.
Após colocar para fora toda sua tristeza, Hong olha para Dan, com os olhos ainda cheios d’água.

 

- Nós devemos ir, Seul-gi... – diz ele – Nossa tarefa neste planeta já terminou.

 

A coreana assente com a cabeça. E os dois se voltam para a porta do elevador.

 

- Espere um pouco, capitão Nardelli! – interpelou o guardião.

 

Dan e Seul-gi olham para os talosianos, com olhares de espanto.

 

- O que foi? – pergunta o capitão.

 

- Há algo que gostaríamos de ver antes que partisse – responde o talosiano.

 

O alienígena olha firme nos olhos de Dan, que imediatamente, começa a ver em sua mente lembranças de momentos passados ao lado de Seul-gi Hong: desde seu primeiro encontro no refeitório da Academia da Frota, passando por conversas nos jardins da Academia durante sua época de cadetes, o primeiro dia a bordo da Frontier, o dia em que ela se declarou para ele logo após resgatá-lo das garras de Nero, a licença em Risa... entre muitos outros momentos, que passam pela sua mente como se fossem um filme.
Após alguns minutos imerso nesse mar de memórias, ele se vê novamente diante do guardião talosiano, que sorri.

 

- Parece que ainda há esperança para sua espécie, capitão – diz ele, por telepatia – Poucas vezes eu vi um sentimento tão puro e genuíno quanto o que você nutre pela comandante Hong. Se outros humanos nutrirem sentimentos tão puros quanto o seu, vocês com certeza sobreviverão por um longo tempo.

 

- Nós superamos séculos de conflitos e de mazelas – responde Dan – Mas ainda temos muito o que evoluir. Cada um de nós tenta fazer sua parte. Nós, da Frota Estelar, almejamos um universo unido, onde todas as raças possam conviver em harmonia. Não medimos esforços para isso.

 

O guardião faz um sinal de afirmação com a cabeça.

 

- Eu acredito que o amor é a chave de tudo – continuou Nardelli – Se todos nós nos amarmos incondicionalmente, poderemos conquistar essa harmonia um dia.

 

Dan olha para o corpo inerte do capitão Pike.

 

- E eu tenho certeza... que o capitão Pike também acreditava nisso.

 

Vina se levanta e enxuga as lágrimas. E o guardião, por fim, resolve se despedir:

 

- Era isto que nós gostaríamos de ver. E nós nos damos por satisfeitos. Você deve partir agora, capitão Nardelli. Você possui uma missão de enorme importância pela frente.

 

Vina se aproxima de Dan. E, emocionada, segura suas mãos.

 

- Muito obrigada por tudo, capitão – diz a loira, com a voz embargada – O Chris... digo, o capitão Pike certamente partiu mais feliz depois de encontrar vocês.

 

- Ele está em paz agora, Vina – responde Nardelli – Pode ter certeza disso.

 

Seul-gi coloca uma das mãos no ombro de Vina, em sinal de consolo. Timidamente, os três sorriram, sob os olhares dos talosianos.

 

***

 

“Diário Pessoal – Capitão Daniele Nardelli
Data Estelar: 7533.9

 Ainda estou tentando digerir todos os acontecimentos de Talos IV.
É difícil acreditar que um dos homens mais brilhantes da história da Frota morreu bem na minha frente. Mais inacreditável ainda é o fato de que, antes de morrer, ele confiou a mim a missão de transmitir seu legado – ou seja lá o que estiver dentro daquela maleta – adiante.

 

No entanto uma coisa é certa: não importa a que preço... devo honrar o nome do capitão de frota Christopher Pike.”

 

 

A Frontier deixa o sistema Talos, e já está a horas de distância.
Tanto Dan quanto Seul-gi deixaram o planeta em estado de choque – foi difícil para eles assimilar o baque que foi presenciar a morte do capitão Pike.


Visivelmente abatido, o capitão vai aos aposentos do doutor Lester, que ainda está sob regime de confinamento devido ao incidente no gabinete do capitão. O britânico, por sua vez, se levanta de sua cama em um pulo e não acredita quando vê o estado de Dan ao passar pela porta automática.

 

- Está liberado, doutor – diz o capitão, com a voz melancólica – Pode retomar suas atividades na enfermaria.

 

- Caramba... você está péssimo! – exclama Lester – Bom, eu não o culpo. Se eu estivesse no seu lugar, eu também estaria.

 

- O que quer dizer? – Dan franze a testa.

 

Jon se dirige a um armário em um dos cantos do quarto, e retira o que parece ser uma garrafa de bebida e duas taças.

 

- A Hong me contou tudo – diz ele, enquanto começa a encher as taças com a tal bebida – Ela também está muito abalada. No fim das contas, era mesmo o capitão Pike que contatou a gente. A morte dele mexeu com vocês, não?

 

- Eu o vi morrer na minha frente, Jon. Não foi nada fácil... desde a época da Academia que eu ouço histórias sobre Christopher Pike. Ele foi um dos capitães de nave estelar mais admirados da Frota. Quando na minha vida eu imaginaria que um dia eu estaria no leito de morte dele? E ainda, que ele me entregaria seu testamento e me pediria para passa-lo adiante? Chega a ser surreal...

 

- É muita coisa pra assimilar, não é? Sua mente deve estar em frangalhos...

 

- Você não imagina o quanto...

 

Lester vai até seu replicador e tira uma pequena panela cheia de cubos de dentro dela. Ele pega dois desses cubos e coloca cada um deles em uma taça da bebida de aspecto transparente, muito parecida com água, mas que devia conter um teor alcoólico elevado.
Logo em seguida, ele entrega uma das taças a Dan.

 

- Tome um drink, meu caro capitão – diz o loiro, com um sorriso tímido – Por conta da casa. Talvez o ajude a relaxar um pouco.

 

- Obrigado, Jon.

 

Dan observa o cubo dentro da taça, com um certo ar de estranhamento.

 

- Isso é gelo?! – pergunta ele.

 

- Ninguém quer um Martini quente, não é, meu amigo? – responde Jon, com um pouco de sarcasmo.



Dan esboça um sorriso, ainda que esteja meio deprimido. Jon ergue sua taça e propõe um brinde:

 

- Ao capitão Pike!

 

- Salute! – responde Dan, enquanto bate sua taça com a de Jon.

 

Em seguida, os dois bebem um gole do Martini.

 

- Me desculpe, Dan – diz Jon – Eu não quis acreditar em você, e acabei agindo sem pensar. Acabei fazendo papel de idiota no seu gabinete...

 

- Está tudo bem, Jon – respondeu o capitão – Pra dizer a verdade, a culpa foi toda minha. Deixei todo mundo preocupado quando decidi ir a Talos IV.

 

Os dois amigos finalmente se entenderam. Sorriem um para o outro, e dão tímidas risadas ao lembrarem de tudo o que havia acontecido até ali.

 

- E então? Qual o próximo passo antes de encarar a corte marcial? – questionou Lester.

 

- Devemos encontrar o almirante Kirk – responde Dan – O capitão Pike me deixou algo antes de morrer. E me pediu que eu entregasse isso a ele.

 

- O almirante Kirk?! Mas por quê?!

 

- Temo que só descobriremos isso quando o encontrarmos. Não sei o que a Frota Estelar vai fazer. Teremos que correr contra o tempo...

 

Sob o olhar atônito do doutor Lester, Dan começa a ficar apreensivo. Eis que o sinal do INTERCOMM toca. É Seul-gi, que está comandando a ponte:

 

- Ponte para capitão!

 

- Aqui é Nardelli – Dan atende prontamente – Prossiga, srta. Hong.

 

- Localizamos o almirante Kirk. Ele está conduzindo testes a bordo da Enterprise.

 

- Entendido. Estou a caminho!

 

Após encerrar a comunicação, o capitão se dirige para a porta dos aposentos. Antes de sair, ele se volta para o doutor:

 

- Me deseje sorte, Jon. Com certeza irei precisar.

 

- Vai dar tudo certo, Dan – responde o britânico – Quer dizer, pelo menos, eu espero...

 

 

Minutos depois, Nardelli chega à ponte de comando da Frontier.

 

- Capitão na ponte! – anunciou Stanic.

 

Hong desocupa a cadeira do capitão, deixando-a livre para Dan. Ela se coloca diante do capitão e faz seu relato:

 

- A Enterprise está em um setor localizado a pouco mais de oito anos-luz de nossa posição: direção 156, marco 47.

 

- Ótimo trabalho, srta. Hong!

 

Nardelli se senta em sua cadeira, e transmite ordens para Martínez e Cortez:

 

- Traçar curso de interceptação, srta. Martínez. Sr. Cortez, dobra máxima!

 

- Sim, senhor! – responde Martínez.

 

- Dobra máxima, capitão! – diz Cortez.

 

Rapidamente, a Frontier entra em dobra, saindo em disparada pelo espaço.

 

***

 

Em um outro canto da galáxia, está a USS Enterprise. Após o incidente com a sonda V’Ger, a nau capitânia da Federação têm passado por uma série de testes nos últimos anos – depoiss da bem-sucedida missão de cinco anos, a nave passou por um ano e meio de profundas reformas, tendo seus sistemas e sua estrutura inteiramente remodelados; no entanto, tais reformulações tiveram que ser colocadas à prova diante da ameaça que V’Ger representava, não havendo, portanto, tempo hábil para testes.
Em uma tentativa de recuperar esse tempo perdido, o almirante James Kirk resolve comandar os testes com a nave, assumindo ele próprio o seu comando de forma temporária.

 

A Enterprise sai da velocidade de dobra. A movimentação em sua ponte de comando é intensa.

 

- Teste em dobra 7 concluído, senhor – relata seu experiente oficial do leme, comandante Hikaru Sulu – O leme está estável. Não há qualquer sinal de anomalias.

 

- Todos os sistemas estão operantes – informa a comandante Nyota Uhura, oficial de comunicações – Não há relato de incidentes em nenhum dos decks.

 

Sentado na cadeira de comando, evidentemente, está o almirante Kirk. Ele aciona o painel de comunicação da cadeira:

 

- Kirk para engenharia.

 

Uma voz com sotaque britânico é ouvida do outro lado da linha.

 

- Aqui é Scott, almirante.

 

- Informe, sr. Scott.

 

Na ala da engenharia, está ninguém menos que Montgomery Scott, que serve como engenheiro-chefe da Enterprise há anos, e conhece a nave como ninguém. Sua maturidade é demonstrada por seus cabelos grisalhos e seu bigode.

 

- Todos os sistemas funcionaram perfeitamente. Os motores de dobra suportaram bem, não há sobrecarga nas naceles. Nem parece que acabamos de usar dobra 7.

 

Kirk esboça um sorriso. E Scott resolve fazer uma consideração:

 

- Pra ser bem sincero, Jim... Os motores desta belezinha estão pulsando como nunca! Nem eu mesmo estou acreditando...

 

- Ora... fico contente em ouvir isso, Scotty! – responde Kirk, sorrindo de vez.

 

Sulu percebe algo em seu painel, e franze a testa. Imediatamente, ele reporta a Kirk:

 

- Há uma nave se aproximando de nosso setor em dobra máxima. Direção: 156, marco 47. Está em curso de interceptação.

 

- Como é?! – estranha Kirk.

 

De seu terminal, o oficial de ciências da nave, o meio-vulcano Spock, analisa as informações de Sulu e as corrobora.

 

- Confirmando informação do leme – diz ele, com sua voz fria – Distância: 85 mil quilômetros. Nos interceptando em 5... 4... 3... 2... 1...

 

Eis que a nave sai de dobra e surge diante da Enterprise. Nada menos que a Frontier.
Na ponte da nau capitânia, todos ficam de olhos arregalados.

 

- Fascinante – exclama Spock, à sua maneira.

 

Em seguida, um sotaque russo se manifesta. É o tenente Pavel Chekov, oficial tático da Enterprise.

 

- Parece ser um dos nossos... – especula ele.

 

- De fato, sr. Chekov – diz Kirk – Mas precisamos ter certeza. Sr. Spock, confirme a identidade dessa nave.

 

Sem perder tempo, Spock acata a ordem do almirante Kirk. E em questão de segundos, faz as análises em seu painel.

 

- A assinatura é da Federação – relatou ele – É uma nave de exploração da Frota Estelar. Número de registro: NCC-1780. USS Frontier.

 

- A Frontier?! – exclama Kirk, estupefato.

 

Assim como ele, todos na ponte da Enterprise se surpreendem ao saber que quem os interceptou foi a Frontier. Ninguém consegue imaginar o que há por trás desse fato.

 

- Frontier?! Mas essa não é a nave daquele capitão novato de que todos falam? – questiona Chekov.

 

- É ela mesma, sr. Chekov – responde o almirante – Mas o que será que eles querem de nós?

 

Mais uma figura entra em cena na Enterprise. A porta do turbo-elevador se abre, e dele, sai um homem visivelmente mal-humorado. É ninguém menos que seu médico-chefe, doutor Leonard McCoy.

 

- Muito bem, Jim! – resmungou ele – É bom você ter um bom motivo para me chamar à ponte, pois a enfermaria está uma zona! Essas atualizações de sistema estão simplesmente me tirando do sério...

 

McCoy coloca os olhos na tela principal da Enterprise, e vê a imagem da Frontier. E também fica sem entender nada.

 

- Mas o que diabos está acontecendo?! – pergunta ele, franzindo a testa.

 

- Eu também queria saber, Magro – respondeu Kirk – Mas creio que não vamos demorar muito para descobrir...

 

Visivelmente reticente, Jim fixa seu olhar na tela, contemplando a imagem da Frontier.

 

 

Do outro lado, o ambiente na ponte da Frontier mistura apreensão e deslumbre: finalmente, eles haviam se encontrado com a lendária USS Enterprise, da qual todos tanto haviam ouvido falar.
Em seu painel, Hong reporta ao capitão Nardelli.

 

- Identidade confirmada, capitão – Seul-gi faz uma pausa, e abre um largo sorriso – É a Enterprise.

 

Todos fixam seus olhares na tela, observando a imagem da Enterprise. Ninguém parece acreditar.

 

- Hostia! – exclamou Cortez – Então essa é a USS Enterprise?! Ela é incrível!

 

- A nau capitânia da Federação – diz Andros – Não imaginei que um dia a veria de perto.

 

Com um brilho nos olhos, Dan se levanta de sua cadeira.

 

- Nós os alcançamos a tempo – diz ele.

 

O coração do capitão Nardelli dispara. Ele fixa seu olhar na imagem da Enterprise, e muitas coisas lhe vêm à cabeça – não apenas a imagem do capitão Christopher Pike e a missão que ele lhe confiou em Talos IV antes de morrer, mas também a imagem de James Kirk, em quem Dan se espelha desde os tempos da Academia da Frota Estelar. Enfim, chegou o momento em que Dan Nardelli ficaria frente a frente com ele.

 

- Enfim nos encontramos... almirante Kirk! – pensa ele, com os olhos vidrados na imagem da USS Enterprise.

 

"Enfim nos encontramos... almirante Kirk!"

 

CONTINUA...






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pouco do que foi a StarCon 2019

Personagens de 'Frontier' #1 - Daniele "Dan" Nardelli

Capítulo 6 - PROJETO FRONTIER