Capítulo 4 - INTOLERÂNCIA



PREFÁCIO DO AUTOR

Saudações, amigos!

Este com certeza foi o capítulo mais difícil que escrevi até agora, especialmente por envolver temas delicados.
Antes de começar nossa jornada, cabe fazer algumas observações:

- Algumas passagens deste capítulo são fortes, e até mesmo violentas, podendo servir de gatilho. Por isso, recomendo ler cada linha com extrema cautela.

- Este capítulo tem relação direta com Jornada Nas Estrelas/Star Trek - The Original Series, e pode conter alguns spoilers da série. Antes de ler este capítulo, recomendo a vocês assistirem o episódio 21 da segunda temporada de TOS, "Padrões de Força" ("Patterns of Force").

Boa leitura. Vida longa e próspera!



PRÓLOGO

Ruas movimentadas em um planeta aparentemente muito semelhante à Terra do século XXI.
Em frente a um grande palácio com a fachada caprichosamente ornada em mármore, uma multidão se aglomera. Em sua porta, está montado um púlpito com microfones.
Diante deles, um homem pomposo de meia idade, trajado com um terno e gravata pretos, discursa diante da multidão, cercado de outras pessoas igualmente bem vestidas e refinadas. Aparentemente, é uma autoridade importante para os locais.

- Meus queridos irmãos e irmãs – pronuncia o homem, diante dos microfones e olhando para o público – Durante décadas, nossos povos custaram a se entender. Inclusive, há poucos anos atrás, passamos por um regime que quase nos levou ao que seria um derramamento inútil de sangue.

Enquanto o homem discursa, um rapaz, visivelmente aflito e nervoso, vai se acotovelando em meio às pessoas, como quem quer se aproximar do púlpito.
Tal atitude não é notada – exceto pelo incômodo das pessoas pelas quais o rapaz passa – e o discurso segue:

- Mas... graças aos deuses e à preciosa ajuda da Federação, nós conseguimos alcançar a paz e a harmonia. Hoje em dia, nossos povos convivem como se fossem irmãos. Em paz. Aceitando as diferenças e sabendo conviver com elas. Estamos reunidos aqui hoje para celebrarmos esta harmonia. Para celebrarmos a boa convivência. Para celebrarmos a paz.

Antes que o imponente senhor pudesse dar continuidade a seu discurso, o rapaz consegue alcançar o púlpito. E toma uma atitude que surpreende e assusta a todos:

- Seu lixo imundo!!! MORRA!!!

Após dizer estas palavras aos berros, o rapaz saca um revólver semelhante a um antigo calibre 38 da Terra e atira contra o homem, acertando-o na altura do ombro esquerdo, quase no peito.
Imediatamente, todos os presentes no lugar entram em pânico, enquanto o homem que há pouco discursava ao público cai atordoado no chão, sendo acudido pelos outros que estavam próximos.
Enquanto isso, o rapaz armado é contido por três homens parrudos vestindo ternos pretos, que deviam fazer a segurança do local, e também por alguns civis revoltados. Mas mesmo assim, ele não se contém: oferece resistência, se debatendo e urrando:

- Me larguem, desgraçados! Tirem as patas imundas de cima de mim!

Com algum esforço, o rapaz é afastado do púlpito, enquanto o homem baleado é socorrido.
Cercado e agarrado por todos os lados, o misterioso jovem consegue livrar uma de suas mãos, e tira do bolso um estranho dispositivo com um botão.
E então, urra mais algumas palavras de ódio, seguidas de um estranho dizer:

- Droga! Porcos Zeon malditos... e seus simpatizantes nojentos! Todos vocês irão arder no inferno! HEIL HYNKEL!!!

Ao proferir estas últimas palavras, o rapaz ergue a mão com o dispositivo ao alto, mesmo em meio a seus contentores, e aperta o botão. Logo em seguida, uma grande explosão acontece.
O rapaz, os seguranças, e alguns civis que o estavam segurando são mortos pela explosão, e vários outros civis se ferem.
No púlpito, enquanto alguns tentam ajudar o homem baleado, outros assistem à cena, incrédulos e horrorizados.
E em meio a todo o caos que se instalou, uma outra figura misteriosa picha uma parede, próxima ao local da explosão.

A visão final é aterradora: ao fundo das chamas em meio ao público, o símbolo pichado se revela – trata-se de um símbolo conhecido do povo da Terra, mas que sempre traz memórias traumáticas e dolorosas. É uma suástica nazista.

 ******


“Diário do Capitão – Data Estelar: 7503.9

Recebemos ordens do Comando da Frota Estelar de seguir para o planeta Ekos – de acordo com as informações que nos foram passadas, o chanceler local sofreu uma tentativa de assassinato.
Para as autoridades locais, o atentado possui motivações políticas.”


A Frontier segue em velocidade de dobra rumo ao planeta Ekos. A informação transmitida pela Frota Estelar sobre o atentado foi recebida com perplexidade pela tripulação da nave.
Na ponte de comando, o capitão Dan Nardelli e seus oficiais repercutem o assunto.

- Eu não entendo, capitão – diz a comandante Hong, em sua plataforma – Até onde é de meu conhecimento, Ekos tornou-se um planeta pacífico há poucos anos atrás. Como pode um atentado dessa violência acontecer assim, de uma hora pra outra?!

- Também estou custando a entender, Seul-gi – responde o capitão, sentado em sua cadeira – Ekos é um planeta que passou por muitas coisas ao longo de sua história, como guerras civis e coisas assim. Parecia que estava no caminho certo, até acontecer esse atentado.

- Ainda não temos muitas informações a respeito. Elas são muito superficiais – diz o tenente Andros, chefe de segurança da nave – Mas certamente esse ataque não aconteceu à toa. Deve haver algo muito suspeito acontecendo em Ekos.

- Tem ideia do que possa ser, sr. Andros? – pergunta Dan.

- Não, capitão – responde o romulano – Esta é apenas uma suposição.

- Entendo – diz Nardelli – Com certeza só vamos descobrir quando chegarmos ao planeta...

É quando o alferes Cortez, piloto da nave, entra na conversa. E anuncia:

- Estamos nos aproximando do planeta Ekos, capitão. Distância de 85 mil quilômetros.

- Muito bem – responde Dan – Reverta para impulso e estabeleça órbita padrão, sr. Cortez.

- Sim, senhor – responde o alferes – Revertendo para impulso.

A Frontier sai de dobra e começa a se aproximar do planeta, em velocidade bem menor. Até que estabelece uma distância segura da atmosfera.

- Órbita padrão, senhor – diz Cortez.

- Gracias, alferes – Dan tenta quebrar um pouco o gelo e demonstrar descontração, mesmo sob um clima tão tenso.

O capitão se levanta de sua cadeira e volta sua atenção para seu oficial de comunicações, tenente Stanic:

- Sr. Stanic, abra um canal para a chancelaria do planeta.

O croata imediatamente acata a ordem do capitão. Digita rapidamente em seu display e informa a Dan:

- Canal aberto, senhor.

Dan inicia um contato com o comando do planeta Ekos, com o intuito de informar sobre sua chegada:

- Aqui é o capitão Daniele Nardelli da USS Frontier. Tem alguém na escuta?

Não demora muito, e uma voz masculina responde do outro lado da linha, assustada e apreensiva, mas ao mesmo tempo, aliviada em ouvir o capitão.

- Capitão Nardelli, aqui fala o porta-voz Isaac. Foi bom vocês terem chegado, nosso chanceler não está nada bem! Perdeu muito sangue e está inconsciente, o estado dele é crítico!

- Nos transmita imediatamente suas coordenadas – solicita Dan – Vou descer com minha tripulação e levarei um médico. Faremos o possível pra ajudar.

- Eu agradeço, capitão – responde Isaac – Vou providenciar isso.

- OK, estou no aguardo. Desligo – o capitão encerra a comunicação.

Em seguida, Dan contata o doutor Lester na enfermaria:

- Nardelli para enfermaria.

- Aqui é Lester, capitão – o doutor atende prontamente.

- Doutor, apresente-se imediatamente à sala de transporte. Você vai tratar de um paciente importante, leve seu kit médico!

- OK. Estou a caminho – responde Lester, encerrando a comunicação.

- Tenente Andros, srta. Hong, me acompanhem – ordena o capitão, encaminhando-se para a porta do turbo-elevador.

Os dois prontamente obedecem à ordem do capitão, e seguem logo atrás dele.


Na sala de transporte, Dan, Hong e Andros encontram o doutor Lester e o tenente-comandante Okonwa, chefe de engenharia da nave, que está no dispositivo de acionamento.
O médico inglês também tomou conhecimento dos acontecimentos de Ekos, através de Oko – ele dirige-se ao capitão, com um misto de elegância e de espanto:

- Isso é sério, capitão? Um atentado contra um chefe de estado?

- Ao menos é o que parece, Jon – responde Dan – Não há tempo a perder, temos uma vida em jogo. Precisamos descer o quanto antes.

Jon faz um sinal de afirmativo com a cabeça. Todos sobem à plataforma de transporte. O capitão dirige a palavra a Okonwa:

- Sr. Okonwa, assuma o comando. Mantenha um canal aberto.

- Pode deixar, capitão – responde o africano.

A sala fica silenciosa por alguns segundos. Até que Dan transmite a ordem:

- Acionar!

Okonwa aciona o teletransporte, e os quatro se desmaterializam na plataforma.

***

Nardelli e os outros são materializados dentro do que parece ser um corredor de hospital.
Ali, o grupo encontra um homem bem vestido, com um terno marrom escuro, camisa preta e gravata bege, cabelos castanhos e bem penteados, aparentando uns trinta e poucos anos de idade – é o porta-voz Isaac, com quem o capitão havia falado anteriormente.
Aparentemente aflito e abatido, ele se dirige ao grupo:

- Graças aos deuses vocês chegaram, capitão Nardelli. O estado do chanceler piorou.

- Você é Isaac, o porta-voz do chanceler? – pergunta Dan.

- Sou eu mesmo – responde Isaac.

Rapidamente, Dan apresenta seus oficiais ao porta-voz.

- Minha primeira-oficial, comandante Hong; meu chefe de segurança, tenente Andros; e meu oficial médico-chefe, doutor Lester.

- Senhor Isaac – Lester toma a palavra pra si – Será que eu posso dar uma olhada no chanceler?

- Sim, por favor, doutor – diz Isaac – Me acompanhem, vou leva-los aos aposentos dele.

O grupo caminha por alguns poucos metros dentro do corredor, até chegarem a uma porta.

- É aqui – indica o porta-voz.

- Pois bem – Nardelli então transmite ordens ao doutor Lester – Doutor, agora é com você. Faça um exame completo e veja o que pode ser feito. Tome as providências que julgar necessárias. Mantenha-me informado.

- Pode deixar, capitão – responde o médico – Eu cuidarei bem dele.

Lester abre a porta e adentra o quarto do chanceler, enquanto os outros permanecem do lado de fora.
Em seguida, Dan resolve se dirigir a Isaac:

- Podemos conversar enquanto isso, sr. Isaac?

- Bem, claro – responde o porta-voz, meio apreensivo.

Todos se sentam em um banco em meio ao corredor, não muito longe do quarto do chanceler. Dan começa a questionar Isaac sobre o ocorrido:

- Me diga, sr. Isaac... como foi que tudo aconteceu?

- O chanceler fazia seu discurso ao povo ekosiano em homenagem ao Dia da Libertação, como costuma fazer todos os anos – explica Isaac – eis que do nada apareceu um homem enfurecido em meio à multidão e atirou contra o chanceler.

- Entendo – diz Dan – E como era esse homem?

- Não me lembro muito bem dos detalhes... – reluta Isaac – Só me lembro que ele gritava palavras de ódio logo depois que atirou no chanceler...

O porta-voz suspirou por um instante. E continuou seu relato, com a voz embargada.

- Os seguranças e alguns populares presentes tentaram contê-lo... ele tinha uma bomba presa ao próprio corpo. Assim que foi afastado de onde o chanceler estava, ele a explodiu. Umas seis ou sete pessoas morreram com ele na explosão.

- Um atentado suicida?! – diz Dan, boquiaberto.

- Meu Deus, que horror! – Seul-gi arregala os olhos.

Os detalhes do atentado deixaram o capitão e os outros tripulantes da Frontier horrorizados. Mas ao contrário do que parecia, o ataque ao chanceler era apenas a ponta do iceberg – Isaac tinha mais revelações a fazer.

- Realmente... mas infelizmente, este não é um fato isolado.

- O que quer dizer com isso? – espanta-se Dan.

- Há pouco menos de um ano, uma onda de violência tem se espalhado ao redor do planeta Ekos – revela Isaac – outros ataques em menor escala aconteceram nesse meio tempo. Todos eles têm características muito semelhantes entre si: em praticamente todos, os alvos eram relacionados à comunidade Zeon.

- Atacaram alvos Zeon?! – questiona Hong – Mas com que finalidade?

- É difícil de explicar... – responde o porta-voz – Mas em suma, todos esses crimes são motivados por ódio. Pura e simplesmente.

- Se bem me lembro, Zeon é um planeta vizinho a Ekos, e tem uma tecnologia ligeiramente superior à dos ekosianos – diz Nardelli – Mas eu não entendo... por que todo esse ódio dos ekosianos em relação aos Zeons?

- É uma história longa e complicada de explicar, capitão... – responde Isaac, reticente.

Eis que a conversa é interrompida pelo apito do comunicador de Dan. É um chamado do doutor Lester.
Prontamente, o capitão tira o comunicador do bolso e o atende:

- Lester para capitão!

- Aqui é Nardelli. Prossiga, doutor.

- O chanceler já está fora de perigo. Tive que tratar os ferimentos e conter uma hemorragia interna. Mas já o estabilizei. Ele só precisa de repouso.

- Bom trabalho, Jon. Estamos voltando – Nardelli, então, encerra a comunicação – Desligo.

Os quatro – Nardelli, Hong, Andros e o porta-voz Isaac – se levantam do banco e se encaminham para o quarto do chanceler.
Logo ao chegarem, o romulano nota uma movimentação suspeita – um enfermeiro estranho, com o rosto coberto por uma máscara cirúrgica e uma bandeja nas mãos, se aproxima e entra no quarto.
Silenciosamente, Andros chama a atenção do capitão e o alerta apontando o olhar para a tal figura, e Dan apenas assente com a cabeça.

Lester está guardando os utensílios de seu kit, quando se depara com o estranho entrando no quarto. Sem saber, ele informa sobre o estado do chanceler:

- Ele já está estável. Só precisa descansar.

- Esta medicação é urgente – responde o suposto enfermeiro, em um tom de voz extremamente ríspido e seco, e já com a seringa na mão – Precisa ser aplicada imediatamente!

- Perdão?! – Lester franze a testa e estranha a atitude do homem – Mas eu acabei de trata-lo, e como eu disse, ele já está estável!

O britânico encara o mascarado e resolve colocá-lo contra a parede, falando em um tom de voz incisivo:

- Qual a aplicação desse remédio? Quem o prescreveu?

O clima fica tenso. É quando Nardelli e os outros entram no quarto. De imediato, o capitão questiona, com um semblante desconfiado:

- Algum problema, doutor?

- Capitão, o chanceler está estável, como lhe informei – explica Lester – Mas agora esse enfermeiro entrou aqui dizendo que ele precisa de uma medicação urgente! Eu não estou entendendo!

- Espere um pouco... – Isaac se volta para o tal enfermeiro – eu não te conheço, nunca te vi por aqui antes! Há quanto tempo trabalha neste hospital?

A tensão aumenta no quarto do chanceler. Todos lançam olhares afiados para o enfermeiro, que se vê encurralado. Ele não responde à pergunta do porta-voz.

- Ele fez uma pergunta, enfermeiro – diz Dan, com a voz firme.

O estranho insiste em permanecer em silêncio. Dan o encara, e lhe dirige a palavra como quem está a ponto de perder a paciência:

- Qual é o problema? Um gato comeu a sua língua? Diga alguma coisa!

O tal enfermeiro parece se ver sem saída. E resolve tomar uma atitude nada digna de um profissional de medicina.

- Maldição! – resmunga o mascarado, enquanto tira alguma coisa da cintura, debaixo do seu avental. Para a surpresa de todos, é uma arma de fogo!
Ele atira para cima, e todos se viram para o lado instintivamente; depois disso, sai correndo do quarto, quase atropelando Nardelli e Andros.

O capitão, então, transmite ordens para Hong e para o doutor:

- Seul-gi, Jon, cuidem do chanceler e do porta-voz!

Os dois assentem com a cabeça, perplexos. Em seguida, Dan se dirige a Andros, já com sua pistola phaser em punho:

- Atrás dele, tenente! Ponha o phaser em tonteio!

- Sim, senhor!

Dan e Andros saem correndo do quarto do chanceler, e vão em perseguição ao falso enfermeiro. Hong, Lester e o porta-voz Isaac permanecem no quarto, próximos à cama do chanceler sedado, que não repara na movimentação.

O falso enfermeiro sai em disparada do hospital, com Nardelli e Andros logo atrás. Eles tomam a calçada de uma avenida movimentada – o farsante atira contra os dois perseguidores, deixando os transeuntes em pânico. Ele erra os tiros.
Dan e Andros revidam disparando seus phasers, e um dos tiros do romulano acerta o falso enfermeiro em cheio, fazendo-o tombar no chão, atordoado.

Os dois logo tratam de recolhê-lo pelos braços, sob os olhares curiosos e atônitos daqueles que passam pelo local.

***

“Diário do Capitão – suplemento:

As coisas estão cada vez mais obscuras em Ekos – enquanto o chanceler se recuperava do atentado, um homem disfarçado de enfermeiro se infiltrou no hospital e tentou envenená-lo; para nossa sorte, o doutor Lester já havia feito seu trabalho.
Capturamos o suspeito e o levamos à central de inteligência local para interrogatório.”


Cerca de meia hora depois do incidente, Dan e os outros estão no prédio da central de inteligência do planeta Ekos, órgão ligado ao departamento de defesa local, juntamente com o porta-voz Isaac.
Em um dos escritórios do prédio, Hong, com seu tricorder em mãos, relata ao capitão a análise que fez da substância química contida na seringa do falso enfermeiro:

- De fato, não era remédio coisa nenhuma, capitão. A seringa continha um veneno composto de toxinas extremamente potentes. O suficiente para matar um animal de grande porte.

- Isso tudo está muito confuso, Dan! – exclama Lester – Só que uma coisa é certa: tem alguém neste planeta que está desesperado pra matar o chanceler! Mas quem?!

- É o que estamos tentando descobrir, Jon – responde Dan, ao mesmo tempo em que se levanta de uma poltrona e se dirige à porta do escritório.

Poucos metros ao lado, há uma sala de interrogatório, onde se encontram o tenente Andros e dois homens fardados em preto. Eles tentam obter informações do falso enfermeiro, que se encontra algemado em uma cadeira, e já sem a máscara.
Ele não esconde um sorriso irônico em seu rosto, enquanto olha para o romulano e para os guardas que o rodeiam. É quando Dan e o doutor Lester adentram o recinto.

- Conseguiu alguma coisa, tenente? – pergunta o capitão.

- Nada, senhor – responde Andros, com um tom de desânimo e irritação na voz – Ele só insiste em falar coisas que não têm o menor sentido!

Dan olha para o estranho, que retribui com um sorrisinho cínico. Irritado, o capitão da Frontier apanha o sujeito pela gola da camisa e o encara com um olhar de fúria.

- Olha aqui, seu cretino de uma figa... – diz Dan, rangendo os dentes – Por sua causa, e de não sei mais de quem ou do quê, pessoas inocentes morreram, e um homem está com a vida em perigo! E você vai me dizer tudo, não importa de que jeito: o quê ou quem está por trás dessa porcaria toda? PRA QUEM VOCÊ TRABALHA?

Apesar da intimidação do capitão, o sujeito insiste em não responder. Apenas sorri e começa a esboçar uma risada, bem baixinho.
A irritação de Nardelli aumenta.

- Pra quem... você... trabalha? – Dan repete a pergunta de forma pausada, mas ainda rangendo os dentes e com um tom ameaçador na voz – Trate de falar de uma vez ou vou fazer você engolir todos os seus dentes!

O homem insiste em não dizer absolutamente nada. E começa a rir, para o espanto de todos – à exceção de Dan, que perde de vez a paciência e acerta um cruzado de direita na cara do sujeito.

- Maldição... QUAL É A GRAÇA?!? – grita Dan, exaltado.

- Pega leve, Dan! – Lester segura o capitão pelo ombro – ou a Frota vai acabar tirando a sua patente!

Mesmo depois do soco, o estranho continua rindo. E começa a rir alto e de forma mais intensa e escandalosa, como quem está tendo um ataque ou acabou de ouvir a piada mais engraçada de todas.
Todos na sala observam, atônitos, a reação do sujeito.

- Fala sério... – exclama Lester, com os olhos arregalados – Esse cara não regula bem, não!

É quando o sujeito, enfim, começa a falar alguma coisa. Mas está absolutamente longe do que os interrogadores querem ouvir.

- Os seus esforços são patéticos, seus capachos imundos de porcos Zeon! – diz o estranho, em meio a suas risadas – Não importa o que vocês façam, nada neste planeta irá nos deter!

- Do que está falando? – pergunta Andros, exaltado e quase gritando – Afinal, quem são vocês? O que vocês pretendem?

- Muito em breve vocês irão saber – responde o sujeito, sorrindo de forma asquerosa – Esse planeta se tornou complacente demais com o lixo Zeon...

De repente, todos percebem uma movimentação estranha por parte do prisioneiro: ele parece tirar algo de trás de sua língua e morder até partir.
Imediatamente, ele começa a se debater, mesmo algemado na cadeira. E ainda dispara mais algumas palavras ferinas:

- Chega! Já é hora de acabar com essa palhaçada! – o estranho começa a agonizar, sob o olhar surpreso de Dan e dos outros – Nós somos muitos... e iremos restaurar a glória de Ekos...

A boca do homem começa a espumar de forma intensa. Seu olhar começa a ficar fixo e sua expressão facial fica rígida. É quando ele diz, mesmo com a boca quase sufocada e cheia de espuma, suas últimas e enigmáticas palavras:

- Heil... Hynkel...

Em seguida, o sujeito expira e sua cabeça pende para a frente de forma brusca. Os olhos estão arregalados, fixos, e a boca cheia de espuma. Não há respiração.
O doutor Lester se aproxima e encosta os dedos em sua jugular, para ver se há pulsação. E dá a surpreendente palavra final:

- Ele está morto, Dan.

Todos na sala ficam paralisados ao ouvirem as palavras do doutor.

***

De volta ao escritório no prédio da inteligência, Dan e os outros começam a deliberar a respeito do ocorrido na sala de interrogatório.

- Inacreditável... – resmunga o doutor Lester – Outro maluco suicida! Mas afinal, o que diabos está acontecendo neste planeta?!

- O mais curioso é que este é o segundo ataque que visa o chanceler – coloca Nardelli – Ao que parece, tem alguém tentando um golpe de estado ou coisa assim.

- Isaac disse que os ataques anteriores foram todos contra alvos Zeons – menciona Hong – Mas esse é um detalhe que eu não consigo entender... digo, o que os Zeons e o chanceler têm a ver um com o outro?

- O ódio contra os Zeons também ficou claro nas palavras do indivíduo que acabou de se matar – diz o tenente Andros – Com certeza, quem está por trás dos ataques não quer só o poder... também quer erradicar os Zeons de alguma forma.

- O que quer dizer, sr. Andros? – pergunta Dan.

- Esta onda de violência em Ekos não se trata apenas de uma simples disputa de poder, capitão – responde o romulano – Também se trata de... pura intolerância...

- Ele também disse umas coisas muito esquisitas antes de morrer – acrescenta Jon – se bem me lembro, acho que era... “Heil Hynkel” ou algo assim... o que será que isso quer dizer?

- Não faço a menor ideia... – responde Dan, confuso.

***

Em um canto distante fora da cidade, ocorria uma reunião secreta. Em um galpão abandonado, centenas de pessoas se reuniam naquilo que parecia ser uma espécie de culto obscuro. Um pequeno palco estava montado no interior do galpão, com um púlpito em cima. Ao fundo, duas grandes faixas vermelhas na vertical ostentavam a suástica, e no meio delas, uma enorme fênix dourada também carregava o malfadado símbolo – o ar do local transmitia a sensação de que se havia voltado no tempo, mais precisamente aos dias sombrios em que a Alemanha era comandada por Adolf Hitler.
No púlpito, estava um homem que aparentava uns vinte e oito anos de idade, trajando quepe e farda bege, algumas medalhas nos cantos do peito e uma braçadeira vermelha no braço esquerdo, também com a suástica nazista – ao que tudo indica, ele é o líder do grupo.

- Irmãos e irmãs ekosianos – diz o homem, olhando para o público à sua frente – Ao longo da última década, o caos se instalou em nosso planeta. A desordem se instalou em meio ao nosso povo. E tudo isso... graças a este governo corrupto! A este chanceler apático conivente com os porcos Zeons!

O que se viu em seguida foi um sem-número de palavras de ódio contra o povo Zeon, gritadas por todos que estavam ali: “Fora Zeons!”, gritou um; “Porcos Zeon imundos!”, gritou um outro; “Vamos matar todos eles!”, gritou outro... e por aí foi.
Em meio a todo o vozerio, um outro homem, com uma farda preta e também com a braçadeira da suástica, subiu no palco e cochichou alguma coisa no ouvido do líder.

Ligeiramente consternado, o líder retoma seu discurso:

- Irmãos e irmãs... acabei de ser informado que mais um dos nossos se sacrificou pela nossa causa. Sacrificou sua vida pelo seu povo, pelo seu planeta! Deu seu sangue pela pátria!
Façamos um minuto de silêncio...

O líder tira seu quepe e o empurra contra seu peito, abaixando a cabeça com os olhos fechados, como se fizesse uma prece. Todos os outros presentes também abaixam suas cabeças e fecham os olhos.

Exatamente um minuto depois, todos levantam os olhares de volta ao púlpito. O líder recoloca o quepe e volta a discursar:

- Ah, meus irmãos e irmãs... Eu me pergunto até quando. Até quando teremos que nos sacrificar? Até quando teremos que derramar nosso puro e límpido sangue, simplesmente para varrermos o lixo Zeon de nosso planeta?

Hynkel, filho de Melakon
Ele carrega a voz de ódio ao falar dos Zeons. Mais gritos de ódio e de fúria contra eles saem do público.

- Eu só espero... – retoma o líder - ...que seja logo. Que acabemos com isto o mais breve possível. E acredito... que logo chegará este dia!

Em meio à plateia, os olhares se enchem de brilho. Todos parecem botar sua fé e sua esperança na figura que lhes discursa no púlpito. E ele revela sua identidade, em meio ao discurso acalorado:

- Sim, meus irmãos e irmãs... logo chegará o dia em que eu... Hynkel, filho de Melakon, esmagarei este governo fétido e podre, e me tornarei o novo Führer! Para guiar este planeta de volta ao caminho da verdade! Para guiar o povo a uma nova era de ordem e de liberdade! Para Ekos se tornar grandioso novamente, tal qual nos velhos tempos!

Hynkel finaliza o discurso erguendo os punhos cerrados, com uma enfurecida e tenebrosa convocação:

- Unam-se a mim, ekosianos! Vamos derrubar este governo moralmente falido... e construir um novo Reich sobre as suas ruínas! Vamos juntos... RESTAURAR A GLÓRIA DE EKOS!!!

O homem de preto que cochichou para Hynkel, em seguida, se levanta com a palma da mão em riste fazendo a saudação nazista, e grita para a plateia:

- Heil Hynkel!

- HEIL HYNKEL!!! – grita o público, em coro, repetindo o gesto da saudação nazista.

***

Dan e os outros ainda estão muito confusos dentro do escritório da inteligência ekosiana. Nada parece se encaixar: os ataques ao chanceler, agentes suicidas, uma saudação estranha, ódio contra os Zeons... nem mesmo a comandante Hong, que possui uma capacidade intelectual grande – não por acaso, acumula a função de oficial de ciências da Frontier – consegue estabelecer uma ligação entre os elementos. Nada parece fazer sentido.
No entanto, as deliberações dos tripulantes da Frontier são interrompidas pela entrada no escritório de uma personalidade nova: um homem elegante e gordo, vestindo um terno preto caprichosamente cortado, acompanhado de um outro rapaz franzino, igualmente bem vestido.
Assim que entrou na sala, o homem perguntou ao grupo:

- Com licença. Quem entre os senhores é o capitão Nardelli?

- Sou eu – responde Dan, de imediato – E o senhor, quem é?

- Meu nome é Zakar. Sou ministro da defesa do governo de Ekos – respondeu o gordo – Este é meu primeiro secretário, Aron. Viemos a mando do porta-voz Isaac.

- Compreendo – diz Dan – Infelizmente o homem que capturamos se suicidou mordendo uma cápsula de veneno. Não conseguimos obter nenhuma informação dele.

- Lamentavelmente isto não é novidade alguma, capitão – explica Zakar – Todos aqueles que se envolveram em atos de violência semelhantes e depois foram presos por nós agiram exatamente da mesma forma. Parece que é um padrão de comportamento deles.

- Todos eles?! – espanta-se Hong.

- Mas que bando de fanáticos! – exclama Lester, ligeiramente irritado – Afinal de contas, ministro, quem são esses caras?

- Queiram todos me acompanhar, por favor – pede Zakar, com um tom de voz elegante – Vou coloca-los à par das informações que a nossa inteligência conseguiu através de investigações.

- Está bem – responde o capitão.

- Senhor, vou verificar se há informações atualizadas sobre as investigações – interpela Aron – Peço permissão para me retirar.

- Permissão concedida – respondeu o ministro – Me mantenha informado se conseguir algo.

Aron, então, se retira do escritório, enquanto Dan e os outros acompanham Zakar.

Minutos depois, todos se encontram em um outro escritório, no último andar do prédio – é o escritório do ministro.
Com todos devidamente acomodados, Zakar explica a Nardelli o que as investigações da inteligência descobriram. E complementa algumas informações:

- Isaac deve ter explicado algo sobre a onda de violência contra a comunidade Zeon. Antes do primeiro atentado contra o chanceler, outros ataques aconteceram em diferentes cantos do planeta.

- De fato. Ele mencionou sobre esses ataques – afirma Dan.

- O pior deles foi há cerca de dois meses atrás, quando o alvo foi um mercado Zeon a noroeste daqui. Dois indivíduos entraram armados com metralhadoras e atiraram em quem viram pela frente. Ao todo, 12 pessoas foram mortas e outras 15 ficaram feridas. Um dos atiradores tinha bombas presas ao corpo, e se explodiu antes de ser capturado. O outro foi preso, mas horas depois também mordeu uma cápsula com veneno e acabou se matando.

- Que absurdo... – comove-se Seul-gi – Pra quê tanta crueldade?!

- Me diga, ministro... – Dan resolve questionar Zakar - Mesmo com esses... terroristas ou o que quer que sejam dificultando as coisas, como eu mesmo pude observar... o que foi que vocês conseguiram descobrir? Pelo que o Comando da Frota Estelar me informou, as autoridades daqui acham que há razões políticas por trás desses ataques.

- É exatamente isso, capitão – corrobora o ministro – Dadas todas as circunstâncias e também o padrão seguido por esses ataques, concluímos que todos eles foram realizados por simpatizantes do antigo regime vigente em Ekos.

- Antigo regime?! – questiona Andros, totalmente confuso.

- Exato – neste momento, Zakar abre sua escrivaninha e tira de dentro dela um envelope pardo – Estas fotos foram tiradas por nossos peritos em cada uma das cenas dos atentados. Verão que em todos os casos, há muitos elementos comuns.

O ministro retira as fotos de dentro do envelope e as passa para as mãos de Nardelli, que as observa e analisa uma a uma.
Em algumas delas, é possível ver a suástica nazista pichada em paredes próximas aos locais dos ataques – Dan fica atônito ao observar este detalhe. É quando Zakar aponta o símbolo em uma delas e explica:

- Este símbolo é um desses elementos. Ele é visto em todos os locais atacados logo depois das ações. É o símbolo do antigo regime.

- Tá de brincadeira... – exclama Dan, com os olhos arregalados e um frio na espinha.

Lester e Andros observam com atenção a reação de Dan, que por sua vez, passa uma das fotos para as mãos de Seul-gi.

- Não é o que eu estou pensando, é, srta. Hong?

- Se estiver pensando o mesmo que eu, capitão... – Hong, olhando para a foto, faz uma pausa e em seguida volta o olhar para Dan – Infelizmente a resposta é sim.

- Pode explicar melhor, comandante? – pergunta Andros.

Seul-gi assentiu com a cabeça. E começou a explicar. A revelação é aterradora.

- Este símbolo é da Terra. Pertenceu a um regime totalitário que existiu na Europa há mais de três séculos atrás... e foi responsável pelo início de um dos maiores conflitos globais da história terrestre.

- Do que você está falando, Hong? – questiona Lester, franzindo a testa.

Todos olham para a comandante. E ela conclui o raciocínio, sem pestanejar:

- Falando mais precisamente... este símbolo pertence à Alemanha nazista.

Ninguém parece acreditar na revelação de Hong – à exceção do ministro Zakar, que já tem uma certa ciência dos fatos, e do capitão Nardelli, que mesmo surpreso, já desconfiava.
Um dos mais incrédulos é Jonas Lester, que exclama com um misto de destempero e de elegância inglesa:

- Espere um minuto... está dizendo que os responsáveis por esses ataques são NAZISTAS?! Impossível! Como um símbolo e uma ideologia extintos há mais de trezentos anos vieram parar em um planeta a anos-luz da Terra?! Isso é uma completa sandice!

- Sei que isso parece loucura, mas as fotos falam por si, Jon – fala o capitão – Mas o seu questionamento é pertinente.

Dan, então, volta sua atenção para Zakar:

- Há alguma explicação para isto, ministro?

- Bem... é uma longa e complicada história...

Enquanto Zakar tentava explicar a razão a respeito do símbolo nazista, a conversa é interrompida pelo toque de seu telefone celular. Ele o atende prontamente.

- Sim? Aqui é Zakar.

Dan e os outros observam o ministro com atenção. A ligação não dura mais do que alguns segundos.

- Certo. Entendi, já estamos a caminho.

Zakar desliga o celular e o guarda no bolso de seu paletó. E rapidamente informa o teor da ligação a Dan:

- Era Isaac. O chanceler recobrou a consciência. Temos que ir ao hospital imediatamente.

- Certo – Nardelli se volta para Andros – Tenente, peça à Frontier o envio de reforço de oficiais de segurança. Temos que proteger o chanceler a todo custo.

- Sim, capitão – responde o romulano.

***

No galpão abandonado que serve como base para os neonazistas, seu líder, Hynkel, recebe a visita de um personagem inesperado: é Aron, o primeiro secretário do ministro da defesa.
Na realidade, ele é um agente infiltrado – ao se colocar diante de Hynkel, faz o gesto nazista e transmite as informações a ele, com uma expressão de pavor no rosto.

- Mein Führer! Temos problemas... parece que a Frota Estelar entrou no caso da investida contra o chanceler!

- O que está dizendo, Aron?! – reage Hynkel, com espanto – A Frota Estelar?

Apavorado, Aron não diz nada. Apenas assente com a cabeça.

A reação de Hynkel com a notícia é explosiva e violenta. Ele saca um revólver e dispara um tiro contra uma das paredes, quase acertando um de seus comparsas.
E ele não se inibe em demonstrar sua fúria.

- MALDITOS SEJAM!!! – grita – Há mais de dez anos, eles foram os responsáveis pela desgraça de meu pai!

Aron e todos os outros presentes – uns dez homens, mais ou menos – apenas observam, assustados e com o olhar fixo, a reação de Hynkel. Ele complementa seu discurso furioso:

- Não... não foi só isso... eles também foram responsáveis por afundar Ekos na lama! Foram eles que destruíram tudo o que meu pai e o antigo Führer levaram décadas para construir!
E se não fosse por eles... teríamos exterminado os porcos Zeon de uma vez por todas!

Vendo as reações de Hynkel, Aron sente um frio na espinha. E a sensação piora quando os olhos do enfurecido líder se voltam para ele.

- Mas me diga, Aron... o que sabe sobre o estado do chanceler?

- Parece... que ele recobrou a consciência, senhor – responde o infiltrado, relutante – os médicos do Hospital Central tiveram a ajuda de um médico da Frota Estelar.

- Entendo... Eles são mesmo uns intrometidos... – responde Hynkel, com a voz carregada de ironia.

O insurgente neonazista, então, resolve tomar uma atitude drástica. Volta-se para seus homens e começa a transmitir ordens:

- Não há tempo a perder. Reúnam nossos homens. Peguem suas armas. Temos que iniciar nossa ofensiva o quanto antes possível.

Todos olham com atenção para Hynkel. Ele continua:

- O chanceler e todos os membros do alto escalão do governo devem ser mortos sem piedade! Vamos restaurar a ordem e a glória lavando a honra deste planeta com o sangue destes malditos traidores! E depois... – Hynkel enche o peito de ar, ergue o punho e urra - construiremos o novo Reich esmagando os imundos porcos Zeon!

- Heil Hynkel! ­– um fardado de preto grita fazendo a saudação nazista.

- HEIL HYNKEL!!! – Aron e todos os outros repetem o gesto.

***

No hospital central, Dan e os outros acompanham o ministro Zakar até o quarto do chanceler. Ao lado do leito onde o governante central de Ekos encontra-se deitado, o porta-voz Isaac os aguarda, acompanhado de alguns guardas locais e de oficiais de segurança da Frontier, e também de uma mulher loura, elegantemente vestida com um tailleur preto.
Isaac trata de apresenta-la aos tripulantes da Frontier:

- Esta é Daras, senhores. Ela é nossa vice-chanceler.

- É uma honra conhece-los – cumprimenta Daras, com um tom de voz gentil e cordial.

Nardelli e os outros sorriem para a loura. E inclinam a cabeça para demonstrar cordialidade.

- Você deve ser o capitão da Frota Estelar do qual Isaac me falou – diz o chanceler, olhando para Nardelli.

- Chanceler – diz o capitão, assentindo com a cabeça de forma respeitosa.

- Devo agradecer pela sua valiosa ajuda – fala o líder ekosiano – se não fosse por você e por seus companheiros, eu certamente não estaria aqui.

- Agradeça ao doutor Lester – diz Dan, apontando para Jon – Ele é um médico extremamente competente.

- É uma honra, senhor – Lester se manifesta – Fico feliz em ver que o senhor está bem.

- Certamente estaria melhor se essa onda horrível de violência não estivesse acontecendo em meu planeta... – lamenta o chanceler – Isso me entristece profundamente.

Todos reagem com pesar às palavras do chanceler. Isaac, então, toma a palavra:

- O chanceler Eneg é um líder com extrema popularidade aqui em Ekos... este já é seu segundo mandato. Desde o fim do antigo regime, ele tem feito esforços para pacificar o planeta e conduzir seu povo a uma vida em harmonia. E também é responsável pela relação harmoniosa entre ekosianos e Zeons.

- O ministro Zakar nos mostrou provas da relação entre os ataques recentes e o antigo regime – diz Dan ao chanceler – O senhor sabe de mais alguma coisa?

- Sim... – o chanceler resolve então contar mais detalhes – Há pouco mais de dez anos atrás, estive infiltrado na cúpula do regime nazista de Ekos. Fui um dos homens que ajudou a desmantelar o regime...

As palavras que o chanceler Eneg diz a seguir pegam de surpresa o capitão Nardelli e os outros tripulantes da Frontier:

- Mas este esforço seria inútil... sem a preciosa ajuda da Federação e da Frota Estelar.

- A Frota ajudou a derrubar o regime nazista? – questiona Hong, surpresa – Mas como assim?

- Foi um de seus capitães que chegou aqui e encontrou o caos vivido neste planeta – responde o chanceler – Isaac se lembra bem dele... aliás, como era o nome dele mesmo?

Isaac se põe a pensar. E depois de alguns segundos, sua resposta deixa os tripulantes da Frontier perplexos.

- Era James... – o porta-voz faz uma pausa – Kirk! James Kirk! Era capitão de uma nave estelar... agora não me lembro o nome da nave...

- James Kirk?!? – exclama Dan – Isso significa que a Enterprise esteve aqui!

- Enterprise! É isso mesmo! – afirma Isaac.

- Eles vieram a este planeta atrás de um pesquisador que era do mundo de vocês – complementa Daras – Ele foi o responsável pela implantação do regime nazista em Ekos.

- Um terráqueo?! – diz Nardelli, boquiaberto.

- Isso explica muita coisa... – afirma o doutor Lester.

- De fato – concorda Hong, que em seguida se volta para o capitão – Pelo jeito, temos a resposta para a existência do nazismo neste planeta em mãos, capitão.

- É... mas isso não é tudo... – responde Dan.

Nardelli, então, decide transmitir novas ordens para Seul-gi:

- Srta. Hong, volte à Frontier e verifique os arquivos da Frota Estelar. Pesquise os registros da Enterprise... eles devem conter mais detalhes do que aconteceu por aqui.

- Sim, capitão.

Após receber as ordens, Hong saca o comunicador.

- Hong para Frontier. Uma pra subir.

Após dizer estas palavras, a coreana é envolvida por feixes de luz azul e desaparece do quarto do chanceler.

***

Longe dali, em um salão pomposo e com uma decoração impecável, homens e mulheres bem trajados confraternizavam entre si.
Algumas horas antes, havia sido realizada uma câmara de comércio seguida de um jantar – estes eventos contaram com a presença de algumas autoridades ekosianas e também do planeta vizinho Zeon. Entre elas, estava o ministro das relações exteriores de Ekos.
Ele conversava com outros dois homens algo sobre relações comerciais e boa convivência; todos pareciam estar felizes e satisfeitos.

Eis que, de súbito, dois homens trajados como garçons se aproximam do grupo onde o ministro estava, com um olhar extremamente sério e fixado no ministro, que, gentil e ingenuamente pergunta:

- Desejam alguma coisa, senhores?

A dupla não diz uma palavra. Até que um deles reage de forma abrupta e inesperada:

- HEIL HYNKEL!!! – Após gritar estas palavras, o falso garçom saca uma arma e atira contra o peito do ministro, que tomba em uma poltrona com o olhar espantado e fixo.

De imediato, todos no salão entram em pânico. Os dois homens atiram para o alto e fogem sem ser incomodados.


Em outro ponto da cidade, a ministra do bem-estar social de Ekos acaba de fazer uma palestra em um orfanato Zeon – em seu discurso, a importância da boa convivência entre ekosianos e Zeons também foi ressaltada.
A ministra é rodeada por crianças e por alguns monitores do local, que aproveitam o momento para sacar seus celulares e tirar algumas selfies.
Todos se mostram bastante alegres e sorridentes.

Enquanto isso, do lado de fora do orfanato, uma van preta freia de forma brusca, e da parte de trás, homens fortemente armados com metralhadoras, fuzis e uniformes táticos saem e adentram o recinto.
O pânico toma conta do local – eles chegam ao pátio onde a palestra havia ocorrido, e encontram a ministra, as crianças e os monitores do orfanato. Todos se apavoram de imediato.

- Quem são vocês? – pergunta a ministra, gaguejando e suando frio.

- HEIL HYNKEL!!! – grita um dos membros do grupo armado.

Sem piedade, o grupo abre fogo contra a ministra, os monitores e as crianças. E ninguém sobrevive para contar a história.

***

De volta ao quarto do chanceler no hospital, o celular de Zakar toca. O ministro atende prontamente:

- Sim, aqui é Zakar.

Dan e todos os outros observam o ministro com atenção. Ele parece receber notícias terríveis.

- O que disse?! – exclama o ministro – Está bem, ficaremos em alerta. Tome as providências necessárias e vá atrás desses assassinos!

Zakar desliga o celular e anda pelo quarto, consternado. O capitão Nardelli resolve questioná-lo:

- O que foi que houve, ministro?

- Mais ataques, capitão – responde Zakar, com um tom de voz atravessado – Os alvos desta vez pertenciam à cúpula do governo central.

- O que disse?! – espanta-se Isaac.

- O ministro das relações exteriores foi assassinado logo após o jantar da câmara de comércio Ekos-Zeon – relata o ministro – A ministra do bem-estar social também foi morta após dar uma palestra em um orfanato Zeon.

Todos voltam seus olhares atônitos para o ministro. Ele continua o relato:

- Este último ataque foi mais sangrento... alguns monitores e também crianças do orfanato foram metralhados junto com a ministra.

- Começou... – afirma Daras, chocada.

- Não perdoaram nem as crianças... – exclama Lester, em um tom de voz baixo e quase rangendo os dentes – Eles são uns demônios!

- Vocês podem ser os próximos alvos – o capitão se volta para Zakar, Isaac e Daras – devem permanecer aqui com o chanceler.

Em seguida, Dan transmite ordens a Andros e aos oficiais de segurança da Frontier:

- Tenente, você e os outros da segurança devem se espalhar pelo hospital. Mantenham um canal aberto e se atentem a qualquer movimentação suspeita. Phasers em tonteio.

- Sim, senhor! – Andros chama a atenção dos seus subordinados – Ouviram o capitão, vamos!

Sob os olhares do capitão, Andros e os outros oficiais de segurança deixam o quarto do chanceler. Se dividem em dois grupos e seguem em direções opostas dentro do hospital.

***

“Diário da Primeira-Oficial – Data Estelar: 7504.3

Por ordem do capitão, retornei à Frontier para pesquisar os arquivos da Frota Estelar – a chave para esclarecer a implantação do nazismo e todos os outros acontecimentos de Ekos pode estar nos registros da Enterprise.”


Hong está em um dos laboratórios de pesquisa da Frontier. Andando em volta de uma mesa, ela dita os parâmetros de verificação ao computador da nave:

- Computador, verificar nos arquivos da Frota Estelar os registros referentes à missão da USS Enterprise. Palavra-chave: Ekos.

- Verificando arquivos... – uma voz feminina sai dos alto-falantes do laboratório, enquanto milhares de imagens holográficas se cruzam na mesa, sob o olhar atento de Seul-gi.

Após alguns segundos, o computador localiza os registros e os disponibiliza.

- Registros localizados – diz a voz do computador.

Seul-gi se senta e começa a verificar os registros. E, após alguns minutos, se impressiona com o que vê.
Em uma das imagens dos registros da Enterprise, ela vê uma transmissão de televisão onde um homem fardado discursa e faz o gesto nazista, dizendo: “Morte aos Zeons! Vida longa ao Führer!”, e em seguida, a câmera se volta ao retrato de um homem idoso, também fardado. É um homem da Terra.

- Mas isso não é possível... – exclama, com os olhos arregalados diante do computador.

Dan e Lester continuam no quarto do chanceler, juntamente com Isaac, Daras e alguns guardas ekosianos.
O comunicador de Dan apita:

- Frontier para capitão! – a voz de Hong soa aflita do outro lado da linha.

- Aqui é Nardelli. Prossiga, srta. Hong.

- Capitão, eu acabei de ver os registros da Enterprise. Você não vai acreditar no que eu descobri!

- Continue – discretamente, Dan sai do quarto do chanceler.

Seul-gi informa suas descobertas nos arquivos da Enterprise:

- O responsável pela implantação do nazismo em Ekos chama-se John Gill. Era um pesquisador da Federação que foi enviado ao planeta como observador cultural.

- Mas por que ele fez isso? – questiona Dan, estarrecido – Claramente é uma violação da Primeira Diretriz!

- De fato, capitão – continua Hong – Quando Gill chegou ao planeta, encontrou um cenário de completa desordem social. Ele acreditou que um regime nos moldes da Alemanha nazista apaziguaria os ânimos e traria a ordem de volta. Foi quando Gill assumiu completamente o poder em Ekos.

- Entendo... – responde Dan – Mas porque o ódio contra os Zeons? E onde a Enterprise e James Kirk entram nessa história?

- Um ekosiano chamado Melakon resolveu usurpar o poder e usar Gill como marionete. Foi ele quem jogou o povo de Ekos contra os Zeons. Ele quase comandou um ataque em massa contra o planeta Zeon, mas acabou sendo impedido pelo então capitão Kirk e a tripulação da USS Enterprise há pouco mais de dez anos atrás. Isso juntamente a alguns que hoje fazem parte do alto escalão do governo ekosiano, como o chanceler Eneg e o porta-voz Isaac.

- Certo... e o que você sugere, Seul-gi?

- Acredito que Melakon seja a peça-chave do quebra-cabeça. Quem quer que esteja orquestrando esses ataques contra os Zeons e conspirando contra a vida do chanceler deve ter alguma relação com ele.

- Bom trabalho, srta. Hong – responde Dan – Falarei com Isaac e com o chanceler, eles devem saber mais sobre esse tal Melakon. Assuma o comando da nave e mantenha um canal aberto.

- Sim, capitão – responde Hong.

- Desligo – o capitão encerra a comunicação.

Dan volta para o quarto do chanceler, e é abordado por Jon Lester.

- E então, Dan... o que a Hong descobriu nos registros da Enterprise?

- Parece que estamos chegando perto, doutor – responde o capitão.

É quando Dan se volta para o chanceler e os outros membros do alto escalão ekosiano. E os questiona.

- Chanceler... senhores... o que sabem a respeito de Melakon?

Um silêncio momentâneo se faz dentro do quarto. Mas o chanceler Eneg resolve explicar.

- Melakon era um dos homens fortes do antigo regime. Era o braço direito do Führer.

- Ele ocupava uma posição de destaque dentro da cúpula do regime – complementa Daras – Mas não foi o bastante pra ele. Sua ambição desmedida quase levou Ekos à ruína.

- Mas afinal... o que foi que houve com ele? – pergunta Lester.

- Ele foi morto durante a queda do regime – responde Isaac – Me lembro como se fosse ontem...

- Pobre homem... – lamenta Eneg – Cego e corrompido pela ambição, e com a vida desperdiçada. Se me lembro bem, ele tinha um filho... imagino como ele deve ter se sentido vendo o pai morrer dessa maneira...

Estas palavras do chanceler acenderam um sinal de alerta nas mentes de Dan e do doutor, que passam a lançar olhares apreensivos para o líder enfermo.
Por sua vez, Eneg faz um esforço para refrescar a memória.

- Como era mesmo o nome dele...? Estou tentando me lembrar...

- Hynkel! – exclamou Daras – O nome dele era Hynkel, senhor!

Dan e o doutor ficam de cabelo em pé ao ouvirem as palavras de Daras. E começaram a associar os fatos.

- Hynkel?! – exclamou o capitão, surpreso – Você disse Hynkel?!

- Hynkel... – o doutor começa a refletir – “Heil... HYNKEL!!!” MAS É CLARO!!! Foi isso que o falso enfermeiro disse antes de se envenenar!

- É Hynkel quem está por trás de todo o caos em Ekos... – conclui Nardelli – Agora tudo faz sentido!

- Com certeza ele quer vingar a morte do pai – afirma o doutor – Ele deve ter muito rancor do chanceler e dos outros membros do alto escalão.

- É mais do que isso, Jon – responde Dan – Ele não quer SÓ matar o chanceler e os outros... ele quer tomar o poder e continuar aquilo que o pai começou uma década atrás.

- Isso também explica a intolerância contra os Zeons – conclui Lester.

- Precisamente – responde o capitão.

***

Em um dos corredores do hospital, dois oficiais de segurança da Frontier fazem o patrulhamento, seguindo as ordens do capitão.
Um deles vê dois vultos entrando rapidamente em um corredor, aparentemente em direção ao quarto do chanceler. De imediato, ele e o companheiro correm atrás para verificar.

Ao entrarem no corredor, veem duas figuras vestidas de preto, fortemente armadas e com os rostos cobertos. De imediato, os dois oficiais sacam os phasers e apontam para eles:

- Parados!

Para a infelicidade dos dois red shirts, a reação dos mascarados é instantânea.

- HEIL HYNKEL! – brada um dos intrusos, que aperta o gatilho logo em seguida, juntamente com o comparsa.

Os dois oficiais acabam metralhados e tombam no chão do corredor, enquanto os mascarados saem correndo.
Um desses oficiais ainda encontra forças para sacar um comunicador e alertar o capitão.

- Capitão... alerta... – diz o oficial, agonizante, segurando firme o comunicador – Os neonazistas... estão... aqui...

Após estas palavras, o oficial expira e fica inerte. Sua mão, sem forças, larga o comunicador.

No pequeno alto-falante do comunicador, ouve-se a voz de Dan:

- Winston, o que foi que houve? Responda!

No quarto do chanceler, Dan tenta obter respostas do oficial, sem saber que ele havia perecido por conta do ataque:

- Winston!!! – o capitão guarda o comunicador e se volta para Lester e os outros – Ele não responde.

- Se os neonazistas estão aqui como ele disse, então ele certamente deve ter sido abatido! – afirma Lester.

- Tem razão, Jon – responde Dan – Temos que dar um jeito de tirar o chanceler daqui.

Dan saca o comunicador e chama a nave:

- Nardelli para Frontier!

- Frontier. Hong falando – Seul-gi responde prontamente da ponte, sentada na cadeira do capitão.

- Srta. Hong, trave os sensores no doutor, no chanceler e nos outros – ordena o capitão, do outro lado da linha – Deixe a sala de transporte de prontidão. Traga-os a bordo da nave ao meu sinal.

- Entendido. Retransmitirei as ordens – responde Hong.

- Desligo – Dan encerra a comunicação e guarda o comunicador.

Jon tira de seu kit médico um hipospray. E se aproxima do chanceler.

- Se o senhor me permitir, vou sedá-lo, chanceler. Apenas por medida de precaução.

- Vá em frente, doutor – assente Eneg.

Lester aplica o hipospray no pescoço do chanceler, que adormece em questão de segundos. Enquanto isso, Dan saca seu phaser e dois guardas ekosianos se colocam adiante, de armas em punho.

- Vamos! – diz o capitão a todos.

Discretamente, o grupo sai do quarto. Nardelli, Zakar e os dois guardas ekosianos seguem à frente; Daras e Isaac empurram a cama do chanceler, enquanto Lester segue do lado carregando o soro; atrás de todos, mais dois guardas armados escoltam o grupo.
Eles seguem por um corredor em direção à saída dos fundos do hospital – até que se deparam com uma figura inesperada. É Aron.

Inocentemente, Zakar se aproxima e o adverte da situação:

- Aron! Temos que sair imediatamente, os neonazistas estão aqui! A vida do chanceler corre perigo!

- Sei disso, ministro – responde Aron, com uma expressão fria e um tom de voz seco – Por isso farei o que tem que ser feito.

- Do que está falando? – Zakar estranha a atitude de seu primeiro secretário.

Dan e os outros também lançam olhares desconfiados para Aron. É quando ele faz cair sua máscara, para o espanto de todos.

- HEIL HYNKEL! – Aron grita, saca um revólver e atira contra o ministro Zakar, que cai inconsciente no chão.

Rapidamente, Dan acerta Aron com o phaser e saca o comunicador. Mais dois homens fortemente armados surgem por trás de Aron, que cai desnorteado.

- SEUL-GI, AGORA!!!

Os guardas do chanceler começam a trocar tiros com os neonazistas; enquanto isso, Lester, Zakar, Isaac, Daras e o chanceler são envolvidos por feixes de luz azul e desaparecem, reaparecendo na sala de transporte da Frontier, onde dois oficiais de segurança os aguardam.
Jon coloca o braço do ministro por cima de seus ombros e o carrega, enquanto grita para os outros:

- Para a enfermaria, rápido! Temos um ferido aqui!

No corredor do hospital, tonto e caído, Aron tenta se levantar, incrédulo com a cena que acabou de ver:

- Mas... como isso é... possível?!

Até que, subitamente, ouve-se um tiro de revólver. A cabeça de Aron é atingida em cheio – de imediato, ele se deita de vez, completamente inerte e com o olhar fixo.
Por trás dele, entre dois neonazistas caídos, surge o autor do disparo. É Hynkel.

"Você ainda não entendeu... Acabou, Hynkel!"

- Incompetente! – exclama o líder nazista – Foi incapaz de fazer um serviço tão simples!

- Você deve ser Hynkel, eu suponho – diz Dan, apontando o phaser – Sinto lhe informar, mas você chegou um pouco tarde. O chanceler e os outros membros do alto escalão já estão em segurança, bem longe do seu alcance!

- Fugiram feito covardes – responde Hynkel, com um tom de voz arrogante – Não preciso mata-los agora para concretizar os meus planos. Esse planeta já é meu!

- Pare de falar bobagens, seu nazista imbecil! – retruca Nardelli – Seu golpe de estado estúpido já era, você já perdeu! Admita sua derrota e se renda de uma vez!

- Eu, me render? NUNCA! – Hynkel não arreda o pé.

O clima fica cada vez mais tenso. Hynkel olha Dan de alto a baixo. E o reconhece pelo uniforme.

- Espere um pouco... eu reconheço você... você é um daqueles vermes da Frota Estelar. Foram vocês que arruinaram o regime e destruíram a vida de meu pai! E de quebra, jogaram este planeta nas mãos imundas dos porcos Zeon! Ótimo... se eu acabar com você agora, me darei por satisfeito!

- Você ainda não entendeu! – Nardelli aumenta o tom de voz – Acabou, Hynkel! Largue a arma e se entregue! Esse planeta já teve sangue inocente derramado demais, agora CHEGA!

- CALE A BOCA!!! – Hynkel perde a paciência – Isto é pelo meu pai, Frota Estelar! Vá para o inferno de uma vez, seu verme maldito!

Hynkel e Nardelli encostam seus dedos nos gatilhos das armas. Ambos estão prestes a atirar um com o outro.
Mas antes que algo aconteça, um tiro de phaser acerta Hynkel pelas costas e o faz tombar desmaiado no chão. Atrás dele, o autor do disparo se revela. É Andros.

- Chegou em cima da hora, tenente – diz Dan, ligeiramente abatido e desgastado, olhando para o romulano com um certo alívio.

- O senhor está bem, capitão? – pergunta Andros.

- De certa forma... – responde Dan, com a voz meio atravessada.

***

“Diário do Capitão – Data Estelar: 7504.6

A conspiração neonazista em Ekos foi, enfim, desmantelada; seu líder, Hynkel, e todos os seus comparsas foram levados sob custódia para a Base Estelar 47, onde ficarão detidos e aguardarão o julgamento pelos seus crimes.
Esta parte da missão certamente foi a mais dura pela qual passamos até agora, pois escancarou as consequências do ódio desmedido.
O abalo psicológico foi grande, tanto em mim quanto em minha tripulação.”


De volta à Frontier, o capitão encontra-se em seus aposentos. Sentado em sua mesa, com as mãos entrelaçadas diante do rosto com expressão fechada, ele ouve a campainha da porta tocar.

- Entre! – a voz do capitão sai em um tom seco e atravessado.

Do outro lado da porta automática, estava Seul-gi. A expressão dela também não era das melhores – ela já é introvertida por natureza, mas os acontecimentos do planeta Ekos também a levaram a um desgaste emocional.

- Estou preocupada com você, Dan – diz ela, com a voz suave e um pouco abatida – Como você está?

- Estou péssimo, Seul-gi – responde o capitão, de forma enfática – Em todos estes anos de Frota Estelar, eu nunca vi nada parecido com o que vi em Ekos. E acreditar que a Terra quase foi pelo mesmo caminho quase três séculos atrás...

- Também fiquei horrorizada com tudo isso – diz Hong, enquanto se senta na frente do capitão – Digo... qual a necessidade de tanto ódio? Tanta intolerância? E tudo isso a troco de quê? Apenas pelo poder?

- É a prova de que o poder absoluto corrompe absolutamente – comenta Dan – John Gill deveria ter pensado nisso antes de cometer o erro que cometeu. Mas ele negligenciou esse princípio e as consequências estão aí para todos verem.

- Pois é... – Seul-gi assentiu com a cabeça – Isso prova o quanto a Primeira Diretriz é importante. Interferir em uma cultura pode ser um erro fatal.

- Tem toda razão – diz Dan – Fico me perguntando quanto tempo Ekos vai levar pra se recuperar das chagas do nazismo. Isso se tornou uma ferida aberta na história do planeta.

- Certamente isso vai levar um bom tempo – especula Hong – Anos, décadas... talvez até séculos. Vai depender do esforço dos ekosianos para superar o trauma.

- Sim... – assentiu Dan.


Seul-gi muda ligeiramente de assunto:

- Como está o ministro Zakar?

- O doutor Lester retirou o projétil do abdômen dele e tratou os ferimentos – responde o capitão – Ele vai ficar bem.

- Que bom! – comemora Seul-gi – Ao menos conseguimos salvar uma vida em meio a toda essa loucura.


- Verdade... – Dan esconde os olhos por baixo das mãos, em claro sinal de abatimento.

Seul-gi se levanta e se coloca ao lado do capitão. Bota a mão em seu ombro e tenta reanima-lo:

- Ekos tem que seguir em frente, Dan. E nós também – a coreana esboça um sorriso – Você deve levantar a cabeça... afinal de contas, você é nosso capitão!

Em resposta ao gesto de carinho, Dan segura o antebraço de Seul-gi. E sorri para sua primeira-oficial.

- Obrigado, Seul-gi. Eu vou tentar...

Os dois sorriem um para o outro. E trocam olhares fraternos.

***

Dan e Seul-gi entram na ponte de comando. O tenente Stanic anuncia a chegada do capitão:

- Capitão na ponte!

Dan senta-se em sua cadeira. No leme, o alferes Cortez lhe volta a atenção:

- Está se sentindo melhor, capitão?

- Eu estou bem, Hernando – responde Dan, esboçando um sorriso – Obrigado por se preocupar.

- Me lembre de fazer uma paella da próxima – diz Cortez – É uma boa pra levantar o astral, sabia?

Dan ri das palavras do espanhol, assim como todos os outros na ponte.

- Vou me lembrar disso, alferes... pode deixar!

O único que não riu das palavras de Cortez foi Andros, sentado logo ao lado do jovem espanhol. Com uma expressão de curiosidade no rosto, ele pergunta:

- Me desculpe a ignorância, alferes, mas... o que é paella?!

- É uma iguaria da minha terra, tenente – responde Cortez – Minha favorita, por sinal. Um dia desses você vai experimentar, é simplesmente uma delícia!

- Aguardo ansiosamente – diz o romulano.

O capitão sorri, em meio a toda essa conversa gastronômica. E transmite suas ordens a Cortez:

- Nos tire de órbita, sr. Cortez. À frente, fator de dobra 2.

- À frente... em dobra 2, capitão! – diz o alferes, enquanto digita os comandos no painel do leme.

A Frontier deixa a órbita do planeta Ekos e ganha o espaço em dobra, seguindo rumo a seu próximo destino.


CONTINUA...

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